Maconhista (II)

Por José Antonio Vieira da Cunha

A pedidos, cá estamos de volta com o assunto cannabis medicinal. O texto anterior a respeito mexeu com muita gente, muito mais do que o imaginável por este colunista. E surpreendeu inclusive identificar como é ainda desconhecida esta alternativa a tratamento para dores, espasmos, paralisias, problemas em articulações e muito mais. Assim como em geral se desconhece a forma de aplicação, que é simples, mais simples do que se possa esperar: no caso de uso terapêutico, a utilização popular e eficaz é em forma de óleo obtido a partir de extração da planta e que se ingere em gotas.

A pedidos também, revelo que o médico que durante muitos anos me ajudou com a aplicação da toxina botulínica é o dr. Francisco Rotta, neurologista com carreira reconhecida entre seus pares e que há pouco mais de dois anos mudou-se para os Estados Unidos, convidado que foi para exercer por lá suas capacidades e habilidades. Do Hospital Moinhos de Vento e da Santa Casa em Porto Alegre atua agora na Flórida, onde o uso medicinal da maconha é encarado com naturalidade e sua compra, em farmácias determinadas, se dá com o mínimo de burocracia. 

À cannabis medicinal fui apresentado pela dra. Patrícia Montagner, neurocirurgiã em Florianópolis. A partir de sua experiência profissional no tratamento contra dor crônica, ou a se incomodar com a ineficácia do arsenal terapêutico convencional. E ao ver que, mesmo com a aplicação de diferentes remédios alopáticos, a terapia muitas vezes não avançava. Ao mesmo tempo, identificou que pacientes fumantes de maconha respondiam melhor ao tratamento, o que levou-a a se interessar pela alternativa cannabis. Aprofundou-se no assunto, isso há pouco menos de 10 anos, e se tornou uma autoridade nacional.

A autodidata não chegou lá por acaso. Leu muitos artigos, pesquisou e ou a seguir colegas do exterior com experiência no tema, participou de eventos e congressos e esteve na California fazendo cursos na Oaksterdam University, que se anuncia como a primeira universidade do mundo totalmente direcionada ao estudo da cannabis medicinal. Conhecimento acumulado, a dra. Patrícia dedicou-se a ministrar cursos online durante a pandemia - e foi muito bem também neste caminho. Criou a WeCann Academy, um centro de estudos dedicado a conectar especialistas em uma comunidade global de estudos em Medicina Endocanabinoide, sistema apresentado como um regulatório vital, responsável por manter e restabelecer a saúde humana.

É graças à pressão que a indústria farmacêutica sabe muito bem exercer que o uso da cannabis ainda enfrenta tantas resistências, inclusive por parte dos profissionais médicos. Mas estes deveriam ficar muito atentos, já que a evolução e a aceitação desta terapia anticonvencional avançam em nível global. Na última Olimpíada, em Tóquio, o CBD foi aceito como substância legal, enquanto o uso do tetrahidrocanabinol (THC) ainda foi visto com restrições devido a efeitos psicoativos.

Estou entre os cerca de mil pacientes da dra. Patrícia, que aplaudo com entusiasmo por ter me zerado as dores quase ináveis que durante duas décadas carreguei na região da cervical. Com isso, sou testemunha de que este é, repita-se, um caminho sem volta. Nada disso é brincadeira, apesar do preconceito que a cannabis ainda atrai.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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