A luzinha vermelha 1o6n6d

Diferentes desde as origens, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa detestam-se e competem desde que eram estudantes universitários em Brasília. Levados ao Supremo Tribunal Federal … 4r4b1f

27/04/2009 00:00

Diferentes desde as origens, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa detestam-se e competem desde que eram estudantes universitários em Brasília. Levados ao Supremo Tribunal Federal por Fernando Henrique e por Lula, respectivamente, ganharam um palco privilegiado para seus embates. Ensaiaram alguns entreveros e, afinal, protagonizaram na quarta-feira, 22, um dos maiores barracos já armados na história do STF. 6a214t

Divergências são tão comuns no Supremo Tribunal Federal quanto em botequins e em quase todos os outros ambientes. .Mesmo batebocas não chegam a ser raros no STF. Barracos no plenário da Corte, no entanto, são episódios excepcionais.

Como a mídia jornalística é desatenta aos bastidores do Supremo e muito raramente manda repórteres às sessões, quase sempre chatíssimas, brigas como a de quarta-feira só chegam ao grande público graças ao trabalho da TV Justiça. A audiência dela é numericamente inexpressiva, mas a transmissão das sessões é monitorada pelas redações dos demais veículos. Quando lhes interessa algo que não gravaram, pedem cópia e a TV Justiça cede.

O abastecimento da mídia pela emissora do Judiciário não é um caso isolado. As TVs da Câmara e do Senado e, em menor escala, a TV Brasil também são grandes fornecedores de vídeo e áudio para os veículos comerciais. Mesmo a Globo, muito mais estruturada do que suas concorrentes, recorre às emissoras públicas para recuperar imagens e sons de eventos.

O s canais de TV de emissoras institucionais proliferam no Brasil desde o início da década de 90. Emissoras ligadas ao Poder Executivo e a instituições de ensino vieram antes (a TVE-RS é de 1974), mas os canais do Legislativo são mais recentes. A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul foi um dos parlamentos pioneiros na implantação de TV, em 91; a do Senado é de 96; a da Câmara Federal, de 98. A TV Justiça, istrada pelo Supremo Tribunal Federal e operada sob regime terceirizado, nasceu em 2002.

As emissoras de TV criadas pelo Executivo mudaram pouco ou nada o comportamento de governos e de governantes e jamais conquistaram grande audiência. De fato, quase ninguém as assiste e sua audiência nas pesquisas é representada por traços em lugar de números.

Nas casas legislativas, entretanto, a operação das TVs produziu e continua a produzir efeitos, ainda que os noticiários e outros programas estejam sob controle editorial dos deputados, senadores e vereadores. Longe das câmeras eles se mantêm capazes de praticar qualquer tipo de velhacaria, mas se esforçam para parecer cidadãos decentes perto delas e, mais ainda, diante delas. Conhecem o risco de ser apanhados pelas lentes ao ser acesa a luzinha vermelha. E conhecem o risco, mais grave ainda, de que as imagens e sons gravados cheguem às grandes redes de televisão e, por elas, a um público muitas vezes maior do que o das emissoras institucionais.

Noves fora o histórico antagonismo e o pavio curto dos dois personagens, a briga dos ministros Gilmar e Joaquim, na sessão de quarta-feira do STF, só atingiu o baixo nível de um barraco por estímulo da luzinha vermelha. Os dois sabiam que estavam diante de câmeras ligadas - e isso faz diferença gigantesca na hora de discutir quem é quem.