José Evaristo Villalobos Neto: Um cara do futebol
Há mais de 30 anos na Comunicação, José Evaristo Villalobos, o Nobrinho, fala do gosto de trabalhar com o jornalismo esportivo

A comunicação sempre esteve presente na vida de José Evaristo Villalobos Neto, o Nobrinho. Filho mais velho do humorista Carlos Nobre - personalidade que marcou época na imprensa gaúcha, principalmente durante os anos 1970 e 1980 - e da radioatriz Virgínia Villalobos, herdou do pai não só os traços físicos e o apelido. Também vêm da figura paterna o gosto e a iração pelo jornalismo e pelo futebol. Aos 57 anos e com grande parte da trajetória profissional de mais de 30 anos vivida dentro do segmento esportivo, ainda preserva a inquietude de guri e considera-se uma espécie de soldado na profissão. Isso porque acredita que sempre esteve "no campo de batalha".
Hoje como assessor de imprensa do Sport Club Internacional, Nobrinho entrou para o Jornalismo ainda no segundo semestre da faculdade, em 1977. Um acaso o levou à cobertura de um jogo entre Internacional e Caxias, para a extinta Folha da Tarde. A partir daí, ou a ser setorista do time colorado, posição na qual permaneceu até 1991. Teve agens pelo Correio do Povo, Zero Hora, Band TV, TVE e Rádio Bandeirantes. Ainda que a maior parte da carreira esteja voltada ao esporte, também viveu experiências em áreas distintas. Uma delas foi em 1992, quando trabalhou na campanha de Juan Carlos Wasmosy Monti à presidência do Paraguai.
Estava em sua terceira agem por Zero Hora quando, em 1998, um convite do então presidente do Inter Paulo Rogério Amoretty o tornou assessor de imprensa no clube. Dezesseis anos se aram com muitas atividades dedicadas ao Colorado, em duas agens pelo time. Foi lá que Nobrinho viveu aquele que acredita ser o momento mais marcante de sua história e também o sonho de todo o jornalista esportivo: ser campeão do mundo. "Participei de todos os títulos dos últimos anos, tive a honra e a sorte de estar com o Inter no melhor momento de sua história. Sem querer ser convencido, sou campeão do mundo", destaca, ao lembrar que era o jornalista oficial da delegação do clube, na Copa do Mundo entre Clubes Fifa, em 2006.
Um sobrevivente
Seja na área profissional ou na pessoal, se diz movido pela vontade de acertar. De personalidade simples e fácil convívio, acredita na dedicação e na seriedade como características básicas para um bom profissional. "É preciso ser rápido para tomar uma decisão, que pode ser a de dizer não. Tenho um bom relacionamento com a maioria das pessoas. Respeito a todos e busco o mesmo. Acho que é assim que se faz um bom trabalho", avalia. Há mais de três décadas na Comunicação, considera-se um vitorioso por ter sobrevivido às oscilações do mercado e sempre com carteira assinada. Esse é, para ele, um motivo de orgulho. "Sou um dinossauro da Comunicação. Não ganhei dinheiro, mas a minha carteira sempre esteve assinada. Sinal de que alguma qualidade eu devo ter", reflete aos risos.
Reconhece que, como toda profissão, o jornalismo também tem uma parcela de pessoas mal-intencionadas, mas acredita na predominância do bem. "Tem muito jornalista bom, decente, mas também tem os ruins, como em qualquer área. Sempre tive orgulho de ser jornalista". Entende que a trajetória o fez uma pessoa útil e experiente, sempre em busca do melhor e com muito a compartilhar com os demais. "Eu me sinto como um menino na faculdade, partindo para
outro desafio", afirma Nobrinho.
Paixão que vem de berço
Não é preciso dizer que a paixão futebolística é o Internacional. Ainda que o pai fosse gremista, acredita que foi dele que herdou o gosto pelo esporte. A iração pelo futebol é tanta que Nobrinho chega a defini-lo como sua vida. São relacionadas ao esporte as recordações mais marcantes da infância. Uma delas é uma vitória de virada da seleção brasileira sobre a Espanha, acompanhada ao lado do pai, através do radinho de pilha. A outra, já na adolescência, foi vivida junto do tio Dodô e remete à inauguração do Estádio Beira-Rio, em 6 de abril de 1969. "Na época, diziam que o Beira-Rio ia afundar quando recebesse o público, por ficar em uma área aterrada. Por conta dessa história, teve uma reunião de família para decidir se iam me levar", diverte-se ao relembrar ao episódio.
O cinema está entre as atividades com que preenche os dias e os filmes preferidos são os clássicos. Produções como O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, e Scarface, com Al Pacino, estampam quadros nas paredes de casa e estão entre aquelas que costuma rever de tempos em tempos. O mesmo acontece com a banda Rolling Stones, da qual se revela um grande fã.
Quando se trata de leitura, ite que já acompanhou a produção literária com mais frequência. Hoje o ato de ler ficou reservado ao noticiário em geral e, em especial, ao que acontece no mundo esportivo, por isso, ler o jornal está entre as primeiras atividades da manhã. Nobrinho não é de fazer restrições quando o assunto é gastronomia. Apreciador do tradicional churrasco, diz que costuma compensar o excesso do consumo de "tudo que é bom" com uma hora de caminhada ao dia.
Fugindo da rotina
Casados há 32 anos, Nobrinho e Tânia Cristina Villalobos, arquivista na TVE, contrariam a velha tese de que namoro de Carnaval não tem futuro. Um plantão em Zero Hora o trouxe do Litoral para Porto Alegre em plena folia, em 1979. Foi durante a festa que os dois se conheceram e, desde então, não se separaram mais. Do relacionamento nasceu Leonardo, hoje com 29 anos, que vive em Brasília, onde trabalha na Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça. "É um menino que fez sua história por conta própria. Estudou e conquistou. Sofro demais por ele não estar aqui, mas filhos foram feitos para isso, criam asas e voam. Se ele está bem, também estou", garante.
No cotidiano, o trabalho absorve grande parte do dia de Nobrinho, que costuma manter o celular sempre ligado. O mesmo acontece com a mente, já que nem nos raros dias de folga consegue se desconectar totalmente. "Tenho a necessidade de ficar atento a tudo o que acontece. O Internacional e o Grêmio são notícia 24 horas. Até durante a Copa do Mundo, as pessoas querem saber o que os dois times estão fazendo", explica. Na semifolga de jornalista, como chama, o foco, portanto, é relaxar, sem desligar.
Na vida em casal, de acordo com ele, o segredo está em sair da rotina. Jantar fora, buscando sempre lugares diferentes. Não ficar em casa assistindo novela, mas sair, ir ao cinema. Fugir para a praia quando possível, viajar, viver sem muito planejamento.
Orgulho de filho
Segue a crença do pai, que costumava defender a necessidade de se ter saúde e estar em paz consigo mesmo como bens obrigatórios para ser feliz. "Meu pai me ou esse ensinamento, que cuidei para eu transmitir ao meu filho". Crê que tem na criticidade e na honestidade duas características bastante marcantes. "Tenho defeitos, claro, todo mundo tem, mas sou um cara honesto, alguém em quem se pode confiar", assegura. Confessa que, por vezes, age de forma precipitada, mas não tem vergonha de pedir desculpas. "Bato e depois penso no que fiz", relata. Foi o que aconteceu em um caso recente envolvendo um repórter do Correio do Povo. Lembra que assim que percebeu que havia sido grosseiro com o jornalista, fez questão de retornar a ligação para se desculpar.
Ao longo da trajetória, alguns nomes da Comunicação foram suas referências, tanto no campo profissional como no pessoal. O primeiro chefe, Jair Cunha Filho, é um deles, assim como os jornalistas
Emanuel Mattos, a quem considera um dos profissionais mais brilhantes com quem trabalhou, e
Hiltor Mombach, editor de Esportes do Correio do Povo. Também estão na lista de fontes de inspiração o irmão, Marco Antônio Villalobos, professor na Famecos, a quem define como um cara de posições fortes, e o pai, com quem aprendeu muitos dos valores que hoje carrega. É pelo exemplo paterno que diz seguir um caminho único, certo das próprias convicções. "Meu pai fazia humor durante a ditadura. Perguntavam a ele se conhecia algum comunista e ele respondia: Sim. (Leon) Trotsky, (Josef) Stalin, Lenin?", recorda aos risos. "Foi um cara que nunca perdeu a coragem. Tenho muito orgulho de ser filho dele", completa.