Chico Pereira: Tudo é relacionamento

Gravataiense com orgulho, o jornalista Chico Pereira relembra a trajetória profissional e pessoal vivida no município

Por Karine Viana
"Eu seria uma pessoa muito infeliz se não exercesse minha simplicidade". A afirmação de Chico Pereira reflete a essência que o jornalista carrega consigo desde a infância humilde às ligações que mantém ainda hoje. Cidadão gravataiense, tem orgulho do lugar em que nasceu e a história de seu crescimento pessoal e profissional está praticamente toda ela interligada ao desenvolvimento do município.
O conhecido Chico também é o desconhecido Zilmar, o que soa um tanto paradoxal. São poucas as pessoas que o conhecem pelo verdadeiro nome. Ele é Chico desde que auxiliava o pai na venda dos produtos da lavoura, de quando assistia aos jogos da Copa do Mundo de 70 na casa da Dona Norci e frequentava as aulas da professora Alba.
Há 36 anos atuando na Câmara Municipal da cidade e há 35 como colunista social, foi a facilidade de se relacionar e se comunicar que transformou a vida do jornalista. "Dei certo no relacionamento. Comecei a escrever pelo meu bom relacionamento com a cidade", diz, consciente de que o colunista deve necessariamente ser bem informado, captando informações por onde a e também lidando com a própria intuição. Especialmente, acredita, nos eventos à noite, onde se encontram os melhores dados para a coluna.
Uma visão à frente
Na infância, Chico percorria as ruas de Gravataí, na região metropolitana da Capital, para ajudar os pais. Tinha menos de 10 anos, mas já contava com uma intuição aguçada. Enquanto faz gestos para mostrar, da janela da Câmara de Vereadores, a região em que cresceu, relembra sua perspicácia. Ao ver que os alimentos produzidos nas terras do pai estavam se deteriorando, propôs a ele vender toda mercadoria - com a condição de ficar com a metade dos lucros.
Apesar da pouca idade, simples técnicas utilizadas para a venda dos produtos pareciam certeiras. "Ali eu comecei a vender e saber que vender era bom. Começava na zona rica com um preço e chegava aqui perto com outro", revela. Experiência é o que mais tem, pois sua carteira profissional é assinada desde os 13 anos de idade, ando ainda jovem por empresas como Sogil, Duratex, Gravel e INSS. "Já trabalhei muito!", orgulha-se.
Os traços físicos são do pai, Otto Alves Pereira, falecido após sofrer um derrame cerebral antes que Chico completasse uma década de vida. "Foi um grande trauma. Sinto até hoje", revela. A característica visionária, no entanto, não foi herdada do pai nem da mãe, Dona Elita da Silva Pereira, falecida recentemente, mas da vida: "Não foi nem do meu pai, nem da minha mãe, mas da minha necessidade". No entanto, nomes como Reinaldo Sbardelotto, Zé Carlos Pinheiro Neto e Adelino Colombo inspiraram e inspiram o jornalista.
A comunicação
A primeira empreitada de Chico na comunicação foi através de uma revista que levava o próprio nome. "Comecei a inventar coisas, botei uma revista com meu nome, Chico Pereira. Não é que deu certo?", diz. A publicação foi nomeada com o próprio nome por já ser conhecido na região. Para ele, era preciso encontrar soluções urgentes com o intuito de resolver sua vida financeira. O pioneirismo na região lhe rendeu o convite para fazer parte como um dos fundadores da Federação Brasileira de Colunistas.
Após cinco anos no mercado, a revista ou a ser chamada Momento Regional, nome atribuído até hoje ao jornal da família que abrange os municípios de Gravataí e Cachoeirinha, onde está localizada a sede da empresa. "Ousaria dizer que é o jornal mais identificado com a cidade", gaba-se, atribuindo tal característica ao fato de ter crescido no local.
Para ele, manter a coluna e o jornal sempre foi um dos maiores desafios. Para enfrentá-lo, era preciso "encarar o mundo", como diz, assim como todo o planejamento, da diagramação à parte comercial, atribuições que no início costumava resolver sozinho. Hoje, mais otimista, planeja o aumento da tiragem e da periodicidade da publicação, o que, segundo ele, se diferencia por descrever as peculiaridades locais. "Mas acho que a gente, quando faz o que gosta, enfrenta desafios", salienta.
Em rotinas profissionais paralelas, Chico ainda manteve uma coluna no Jornal do Comércio e teve programas nas rádios Vale, Metrópole e Capital, atividades que não podiam coincidir com seus horários na Câmara de Vereadores. No entanto, "lá pelas tantas o profissional comunicador se confunde com o da Câmara", reconhece.
Um cara simples
Ainda jovem, Chico Pereira fundou diversos blocos e cordões carnavalescos, além da maior danceteria da região, o que movimentou a juventude e lhe garantiu mais contato com a cidade. Também acompanhou de perto a instalação da General Motors em Gravataí, sendo, segundo ele, um dos maiores entusiastas dos benefícios socioeconômicos que a montadora traria ao município.
O reconhecimento vindo dos moradores e entidades gravataienses está, de certa forma, perpetuado nas histórias que guarda na memória. Em contrapartida, há 20 anos mantém uma agremiação que homenageia importantes nomes, reconhecendo seus feitos para a região. É o chamado Prêmio Momento Especial. Até o momento, mais de 300 pessoas foram agraciadas.
Chico não cansa de demonstrar sua simplicidade e a intrínseca capacidade de se relacionar com pessoas de todas as classes. "Eu não tinha nada, era um pelado, mas sempre gostando da vida, das relações, sempre somava mais, saía dos eventos sempre somando". Tal afirmação é alusiva a sua capacidade se relacionar. Esta prática pode estar atrelada a inúmeras possibilidades, de contatos de rumo profissional a amizades simples e duradouras.
Para o jornalista, é preciso manter e reciclar as amizades. "Pode vir concorrência, pode vir o que vier, mas aquelas pessoas que tu soube manter, fazem a diferença", ressalta. Entre as tantas histórias que recorda enquanto fala da sua vida profissional e pessoal, está a carta recebida recentemente da professora Alba Catarina Morel, que relembrava a infância de Chico pela fábrica de cerâmica, onde seu pai trabalhara, e as lágrimas de Dona Norci, que, aos 84 anos e sofrendo de Alzheimer, relembrou o nome daquele menino que na Copa de 70 assistia aos jogos na cozinha de sua casa.
Chico é capaz de ir a grandes eventos e ar horas conversando com o garçom, assim como sabe receber diretores de grandes empresas em sua residência e preparar um cardápio requintado, cuja melhor performance tem pato como prato principal. O trânsito livre entre diversos ambientes sociais lhe rendeu um convite para se candidatar como vereador do município, o que, prudentemente, recusou.
Para vencer o mundo
Já são 42 anos de carteira assinada, 36 na Câmara Municipal, onde afirma já não trabalhar mais na parte burocrática, mas dirigindo os trabalhos que envolvem a imprensa e eventos. A jornada de trabalho termina às 14h, quando segue para o jornal. Chico obviamente já está aposentado, mas ainda nutre sua paixão por comunicar e também por viagens.
É casado há 32 anos com a professora Maria Elaine Tafas Pereira, com quem diz ter uma bela parceria, e pai de Felipe, 32 anos, advogado, e Diogo, 25 anos, recém-formado em istração de Empresas. Para aproveitar a vida, não descarta pequenas viagens pelo interior do estado e pela serra gaúcha e catarinense. "Em qualquer lugar que você vai, haverá algo para ver", reflete.
Acredita piamente no ensinamento de que, nesta terra, "tu colhes aquilo que tu plantas", um velho ditado que parece moldar suas relações profissionais e pessoais. Para vencer e construir uma trajetória de sucesso, tem como lema conhecer a si mesmo: "Primeiro, tu tens que resolver os teus problemas e te conhecer. Se a pessoa vence seus problemas, ela vence o mundo", finaliza.
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