Romar Beling: Alma de leitor

Escritor e diretor de Conteúdo Multimídia do Grupo Gazeta de Comunicação, ele carrega o compromisso com a verdade e a paixão pela Literatura

Romar Beling sempre soube que seu caminho seria feito de palavras. Ao longo da carreira, percorreu caminhos diversos, sempre guiado pela curiosidade e pelo compromisso com a verdade. No Jornalismo, ou por diferentes experiências e aprendeu que informar é, acima de tudo, um ato de responsabilidade. Na Literatura, encontrou espaço para criar, aprofundar histórias e resgatar memórias.

Descendente do povo pomerano, o escritor carrega no sangue a força dos que desbravam e se reinventam. Ele acredita que as palavras têm um papel maior: registrar, provocar e transformar. É por isso que a paixão pela escrita e pela leitura não é apenas profissional, mas também uma característica da própria alma. E isso se reflete, inclusive, naquele que é o seu lema: "Leia, leia e leia".

No interior, lendo sobre o mundo

Romar nasceu em 24 de julho de 1969, na cidade de Agudo, interior do Rio Grande do Sul. Filho do casal de agricultores Laurindo e Lira, cresceu na propriedade rural da família, onde os pais trabalham ainda hoje. "Eles são os meus heróis. Meu pai está com 79 anos e minha mãe com 76, e os dois conduzem a propriedade de 60 hectares, muito bem estruturada", conta. E foi no núcleo familiar que o comunicador demonstrou uma curiosidade incomum para uma criança: o fascínio pelos jornais.

Foi por volta dos cinco anos de idade que começou a manusear os exemplares do Correio do Povo disponíveis em casa. Esse interesse precoce levou-o a aprender a ler praticamente sozinho, com alguma ajuda dos pais. "Não tenho dúvida nenhuma que foi assim que meu imaginário me conduziu para o Jornalismo depois", afirma. É por isso também que Romar valoriza os conteúdos impressos, pois acredita que há uma interação e um vínculo que o digital não é capaz de proporcionar. "Ninguém consegue fazer uma sessão de autógrafos de livros digitais, ou uma feira do livro. Na hora da interação, buscamos o físico", pondera. 

E quando o assunto são os hobbies, a leitura é a personagem principal. "Sou absolutamente eclético, já li tudo o que podia ao longo da minha vida. Hoje me atraem mais as biografias, os ensaios e os livros de viagens", conta. Esse gosto é compartilhado pela esposa, Daniela Neu, de quem Romar fala orgulhosamente. "Conseguiu algo que dificilmente eu vou conseguir na minha caminhada. Ela ganhou dois 'Açorianos' em 2015", conta. Os troféus foram conquistados com a obra 'O Som da Folha Quando Cai' na categoria Ensaio de Literatura e Humanidades e como Livro do Ano.

Inclusive, para priorizar a leitura, o escritor prefere não assistir séries. "Acho que iria acabar me prendendo mais do que eu gostaria", comenta. No entanto, Romar gosta de frequentar o cinema e assistir bons filmes, não importando o gênero. Em relação à música, ele também não tem artistas favoritos e se considera eclético: "Sou de colocar o rádio na Antena 1 e deixar tocando". Agora, a ecleticidade acaba quando o assunto é futebol, pois, como todo bom gaúcho, ele escolheu um lado: o Grêmio, embora também tenha torcida pelos times locais, o Avenida e o Santa Cruz. "Já li muito a respeito do Grêmio, biografias de figuras importantes. Mas não sou de ir ao estádio, não chego ao ponto de me mobilizar tanto", explica.

Romar e Gazeta: 37 anos de história

Embora quisesse cursar Jornalismo, essa graduação não estava disponível quando Romar ingressou na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), em 1988, o que o levou ao curso de Letras, já que também nutria o desejo de se tornar professor. "Jornalismo só chegou em 1994, quando já tinha praticamente concluído Letras", justifica. Contudo, o comunicador acredita que a experiência prática ao longo dos anos compensou a falta da formação acadêmica. "Uma coisa é o Jornalismo dos anos 80 a 90, que preparava para impresso, rádio ou TV. Mas hoje a graduação é fundamental, pois o universo digital é muito desafiador", pontua.

O Grupo Gazeta de Comunicação é a casa de Romar há 37 anos, mas essa trajetória começou de maneira um tanto informal. Enquanto ainda estava no curso de Letras, aos 18 anos, uma colega que trabalhava na área de arte-final da Gazeta do Sul percebeu sua habilidade de escrita e sugeriu que tentasse uma vaga no jornal. "Não era o que eu queria", conta. Contudo, com tanta insistência, o editor Romeu Neumann decidiu propor um período de testes. "O resultado é que ou aquele período e o Romeu não me desligou. Eu já tinha me enturmado e quando vi já tinha ado um ano na empresa e mais um ano e mais um?", relata.

Ele acredita que o maior desafio no começo da carreira foi encontrar o próprio estilo. "Fazer Jornalismo não é só escrever o texto e tentar responder as perguntas básicas", pondera. Para Romar, deve-se ir além do lide, oferecendo uma abordagem criativa e diferenciada. É por isso que um dos seus exercícios diários é consumir conteúdo de outros profissionais. "Todos os dias eu dou uma espiada no Correio do Povo, no Estadão, na Folha, no Globo, no Valor Econômico e na Zero Hora para perceber as abordagens e a escolha de pautas. Hoje todo mundo está satisfeito em fazer o próprio trabalho, mas não lê o trabalho dos colegas", explica.

Conteúdo com raiz e propósito

Em alguns momentos desta trajetória na Gazeta, Romar conciliou as atividades da redação com uma carreira paralela, que envolveu aulas e assessorias. No entanto, a dedicação com o jornal sempre esteve em primeiro lugar. Foi assim que, após 10 anos de casa, assumiu a função de editor de Agricultura, o que fez sentido devido à experiência de vida no meio rural. Em 1997, envolveu-se na criação do 'Anuário Brasileiro do Tabaco', produzido pela Editora Gazeta, cobrindo toda a cadeia produtiva. "O primeiro anuário deu certo e depois disso fomos a 24 anuários ao longo dos anos. Assim eu também fiquei vinculado à editora por 20 anos", salienta.

Em função do trabalho, Romar viajou pelo Brasil inteiro para cobrir diversos setores agrícolas, como cana-de-açúcar, café, soja, algodão, milho, fruticultura, hortifruti, cacau, entre outros. "Eu sempre fazia um mergulho muito forte em cada região", afirma. Dessas vivências, novos anuários foram surgindo em cada segmento. "À medida que a editora fez sua caminhada, eu também fui avançando em idade, então há sete anos fui convidado para ser o responsável pela área de conteúdos", explica. Desde então, tornou-se responsável por toda a produção de conteúdo dos veículos Grupo Gazeta de Comunicação, entre eles a Gazeta do Sul, a Gazeta da Serra, a Editora Gazeta, o portal Gaz e o pool de rádios: "Ao todo são 11 unidades, mas eu cuido só das que produzem conteúdo".

Romar explica que hoje a sua atuação é mais estratégica, sem a necessidade de gerenciar diretamente a produção, visto que os veículos possuem autonomia e equipes competentes. Para o comunicador, fazer parte da Gazeta e poder contribuir para o jornalismo perseguindo informações de qualidade é motivo de muita satisfação. "Informar é importante, desinformar é crime. Eu acho que a sociedade se desinformou demais e isso impede as pessoas de terem o à informação saudável. Fico feliz em colaborar para que essa saúde seja resgatada", afirma.

Ler, ler e ler

A relação com a Literatura é um capítulo importante da trajetória de Romar. A estréia no mundo dos livros nasceu de um trabalho para celebrar os 50 anos da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra): a obra 'A História de Muita Gente' (2006). A publicação resgata a importância da produção do tabaco no mundo. "Gostei dessa abordagem, já que o tabaco é uma das culturas agrícolas mais antigas que existe", afirma. Em 2007 publicou 'Terra de Bravos - Imigração Alemã no Brasil 180 Anos', fruto de uma pesquisa sobre o tema entre 2004 e 2005.

Ao lado do amigo Rudinei Kopp, publicitário, Romar também assinou, entre 2012 e 2014, três edições da antologia 'Nem Te Conto'. Além disso, foi autor de dois livros de poesia, 'Noites em Chamas' (2011) e 'A Felicidade de Estar Vivo' (2017), embora ita que não pretende mais fazer publicações do gênero, preferindo focar em outros projetos. Ainda em 2017, juntou-se a outros autores para fundar a Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, sendo escolhido como primeiro presidente dessa. "Existe um grupo de escritores bastante atuante aqui na região, então não foi difícil compor a academia. Não estamos preocupados com uma questão ritualística. Para nós, é a congregação de pessoas que têm afinidade com a escrita e entendem a importância da leitura", afirma.

Em 2023, o comunicador ainda lançou 'Entrevistos' (2023), onde reúne entrevistas realizadas com escritores estrangeiros ao longo da carreira. Neste mesmo ano, a trajetória na Literatura foi coroada com a sua escolha para 'Escritor Homenageado' na 34ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. "É aquele momento em que somos a estrela, né? Como eu realmente levo muito a sério a divulgação cultural, fiquei muito feliz", pontua. Outra homenagem ainda está por vir: a condecoração com a Medalha Alberto André, oferecida pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que Romar receberá em 7 de abril deste ano. "Essa medalha representa que consegui fazer algo relevante no Jornalismo. Eu acho bonito e muito bacana, inclusive por todos os nomes importantes que estarão lá", afirma.

Páginas que ainda virão

Embora os reconhecimentos institucionais tenham um grande peso, Romar se sente especialmente satisfeito ao receber bons s de entrevistados, pois entende que o trabalho jornalístico foi feito com precisão e respeito pelo conteúdo. Ainda assim, ele enfatiza a importância de receber críticas - positivas e negativas - com naturalidade. "Eu não aconselho o jornalista a ser soberbo. Acolha as críticas, separe o joio do trigo e trabalhe", pontua. Essa postura se relaciona diretamente a uma das maiores características do comunicador: a persistência. "Não vou arredar o pé para tentar implementar minhas ideias. Posso ser obrigado a desistir em certa altura, mas vou sempre tentar", garante. 

Inclusive, é através dessa mesma persistência que Romar planeja retomar o doutorado em Letras, que havia dado início antes da pandemia e não conseguiu concluir. "Ainda pretendo fazer ele, no momento certo e da forma certa, com disponibilidade de tempo", explica. Outro projeto que está no horizonte é a segunda edição do 'Entrevistos', que deve chegar em 2025, com entrevistas de escritores brasileiros, como Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, Nélida Piñon e Thiago de Mello. "São conversas muito legais e que acabam ficando dispersas no jornal. Então estou recuperando esse conteúdo", explica. 

Ele também pretende publicar um livro sobre o Rio Jacuí, mapeando a importância histórica e cultural para o Rio Grande do Sul, bem como seguir alimentando um projeto sobre os povos originários do Estado. "Sei que existem bons escritores que já se dedicaram a esse tema. Não quero fazer diferente do que eles fizeram, mas deixar o meu olhar", afirma. É através desse mesmo olhar que o escritor sabe que ainda existem inúmeras páginas esperando para serem escritas e tantas outras para serem lidas. "A leitura talvez seja o que de mais extraordinário nós, seres humanos, conseguimos nos propor. O livro é formidável. O mundo está aí, as coisas acontecem, e lendo nós percebemos esse mundo", conclui.

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