Silvio Teitelbaum: Os olhos da gestão
Viciado em Comunicação, o professor e consultor Silvio Teitelbaum acredita que, para haver desenvolvimento, é necessário deixar de lado tudo aquilo que seja opressivo
Por Gabriele Afonso
A educação e os olhos azuis são os primeiros pontos que chamam a atenção para o professor e consultor em estratégia e marketing Silvio Teitelbaum. Natural de Porto Alegre, Silvio nasceu num domingo de sol do mês de setembro, no Hospital Moinhos de Vento, após uma semana de chuva intensa. "O médico disse que eu era um raio de sol que havia batido na maternidade", diz, com inevitável orgulho. Formado em istração, o consultor tem na Comunicação a sua grande paixão e desafio constante. Justifica a paixão à infância, quando ava as férias na loja da vó, Sofia Foguel, em Erechim. "A relação que tenho com o marketing e o merchandising foi despertada por uma senhora que não tinha a quarta série do ensino fundamental. Considero minha vó um modelo de empreendedorismo", ressalta.
Silvio nutre um carinho especial pelo Jornalismo: "Sempre fui fascinado por escrever, gosto de jornais e de rádio". Na adolescência, gostava de escutar os comentários esportivos na Rádio Guaíba com
Lasier Martins,
Lauro Quadros e Armindo Antônio Ranzolin, e, ao final de cada partida de futebol, escrevia num caderno a sua visão sobre o jogo. Em 1977, aos 12 anos, uma das anotações se transformou em uma carta enviada para a diretoria do Sport Club Internacional. Protestava contra a venda do jogador Elías Figueroa, a saída de Paulo César Carpegiani e a compra de alguns jogadores que, na sua visão, não iriam acrescentar nada ao time.
Esteve perto de largar tudo e assumir a carreira de ator, isso porque, durante a faculdade, realizou cursos de Artes Cênicas escondido da família. Chegou a ir para o Rio de Janeiro, onde teve aulas com atores da Rede Globo, como Antônio Fagundes, Cecil Thiré, Stênio Garcia, Sérgio Britto, Natália Timberg e José Wilker. A aprovação no curso de mestrado na Ufrgs interrompeu essa trajetória, que ainda pulsa com intensidade na vida de Silvio. "Já estou programando uma volta para daqui a alguns anos, não sei se atuando ou ministrando aulas gratuitas ou mesmo escrevendo uma peça", afirma.
No ramo da educação, atua como professor há 25 anos, com agens pela PUC, ESPM e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, está no Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (IBGEN), nos cursos de MBA e in company, além de desenvolver um trabalho de relação com o mercado. Como consultor, desenvolveu trabalhos para o Grupo Odebrecht, RBS, Rede Record, Rede La Salle e para a União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale), entre outros.
Quebra de paradigmas
Por questões familiares, registra, aos 17 anos ingressou no curso de Engenharia, mas já no primeiro semestre percebeu que a profissão não lhe traria satisfação - apenas conforto em saber que o emprego estava garantido, pois este é o ramo em que a família atua. A primeira decisão importante que tomou e que acarretaria consequências ainda desconhecidas foi que cursaria istração de Empresas. "Optei por sair do aquário e não me tornar um peixinho dourado que, ao se deparar com o oceano, morre por não saber nadar em locais diferentes", explica Silvio.
No penúltimo semestre da faculdade, o professor José Luiz Niederauer Pantoja lhe aconselhou a seguir a carreira de mestre. Silvio confessou ao docente que sua vontade era fazer algo na Comunicação, e imediatamente Pantoja orientou-o a procurar o Programa de Pós-Graduação em istração (PPGA) da Ufrgs. "Insisti na pergunta: 'Mas por que o senhor acha que devo fazer mestrado? E ele me respondeu: Porque tu te comunicas como poucos".
Paralelamente, o teatro tornou-se seu refúgio. As aulas na escola Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, lhe permitiram receber o convite para estrear o monólogo 'Requiem para um Deus', adaptação de Caco Zanchi sobre a vida e obra do bailarino Vaslav Nijinsky. "Sou o primeiro ator brasileiro a representar Nijinsky nos palcos, fizemos diversas apresentações no Brasil e na América do Sul. Foi uma época ótima", lembra. A visibilidade trouxe a oportunidade de trabalhar nas novelas da 'Vênus Platinada', como era conhecida a Rede Globo, e participar da inauguração do Salão de Atos da Ufrgs.
A aprovação de uma bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pegou Silvio de surpresa, que decidiu ficar em Porto Alegre e cursar o mestrado na Universidade Federal. Na mesma época, recebeu o convite para assumir a disciplina de Teoria Geral da istração na PUC e assim iniciou a sua carreira acadêmica. Em 1990, assumiu a Coordenação Adjunta do Departamento da istração. "Durante três anos, participei da construção de novas diretrizes para o currículo do curso de istração. Acabei trazendo alguns colegas do mestrado para trabalhar na PUC", destaca.
Nasce o consultor
Os bons relacionamentos e a competência levaram Silvio a se aventurar em um novo ramo, o da consultoria. Era 1993 quando recebeu proposta para trabalhar na área de planejamento e desenvolvimento de pessoas do Grupo Odebrecht, em São Paulo. Durante cinco anos, foi responsável por mais de três mil pessoas que trabalhavam na Rodovia Ayrton Senna e no Túnel Ibirapuera. Nesse período, também trabalhou na Usina Hidrelétrica de Xingó. Entre idas e vindas ao Estado, participava semanalmente do programa Câmera Dois, do falecido comunicador
Clóvis Duarte, onde fazia comentários sobre economia, istração e marketing.
Ao retornar para Porto Alegre, ingressou no projeto Banco de Soluções da Ulbra, onde alunos dos cursos de istração, Contabilidade, Comunicação e Direito eram inseridos nas empresas da região para realizar seus estágios. Em 1999, Silvio assumiu, a convite do então colega de mestrado Antônio Marinho, o que considera um dos seus maiores desafios profissionais: o cargo de diretor de ações com o mercado da ESPM. "Foi um momento de extrema satisfação. Juntamente com os professores
André Arnt e Roger Born, construímos um projeto sólido de consolidação da marca. Fomos ganhando espaços antes ocupados apenas pelas instituições tradicionais", ressalta.
Durante esse período, o consultor estreitou os laços com o Grupo RBS, construindo assim uma parceria na produção para o caderno de Gestão da 'Zero Hora', além de encartes da ESPM News veiculados nos jornais do grupo. A relação tornou-se tão próxima que, em 2004, ele foi convidado para ser gerente executivo comercial dos jornais do grupo. Lá, desenvolveu, junto ao atual presidente executivo
Duda Melzer, que inclusive foi seu aluno na PUC, um relatório matricial de receitas. "amos a vender o nome RBS. Com isso, lançamos o Hagah e a Revista Z+", observa. Em 2006, decidiu se dedicar ao doutorado.
Dinamismo e trabalho são o sobrenome de Silvio. Mesmo determinado a dar um tempo na carreira, não resistiu e aceitou participar do projeto de reestruturação do jornal 'A Cidade' de Ribeirão Preto, que havia sido comprado pela EPTV - associada da Rede Globo no interior de São Paulo e sul de Minas Gerais. "Fui eu de mala e cuia, apesar de não tomar chimarrão, trabalhar num calor de 42 graus", brinca. Foi responsável pela criação do modelo online, do novo layout gráfico e editorial. "Foi um trabalho difícil, onde tinha que me reportar a um conselho composto por pessoas que vinham da Rede Globo e outras que faziam um jornal da Idade da Pedra."
Esse trabalho chamou a atenção do vice-presidente executivo da Rede Record do Paraná e Santa Catarina, Marcelo Petrelli. "Ele estava preocupado com aquelas pessoas que gostariam de vender suas coisas, mas não tinham poder aquisitivo para anunciar", lembra. Dessa ideia foi criado o 'Negócio Já', inspirado no 'Primeira Mão' de São Paulo, onde um anúncio de até 90 caracteres é gratuito.
Homem de opiniões fortes
Silvio defende a liberdade com veemência, pois acredita que tudo aquilo que é imposto não faz bem e não leva ao desenvolvimento. "Estamos vivendo novos tempos de inquietude e de quebra de paradigmas de uma geração fantástica. Se hoje as pessoas que estão com 50 anos não olharem com serenidade para tudo, nós provavelmente não aproveitaremos todo esse conhecimento que está sendo gerado", alerta. E ainda faz uma crítica à forma como o Estado está sendo gerido há anos: "O Rio Grande do Sul se fechou para o mundo e está desenvolvendo o mesmo traço equivocado que o Uruguai desenvolveu por um tempo. Precisamos reescrever uma nova história e estou disposto a participar disso", explica.
Casado com a arquiteta Daniele Cardoso Teitelbaum e pai do menino Victor, de três anos, a quem dedica todo o seu tempo livre, Silvio considera os dois seu núcleo familiar. O amor ao Sport Club Internacional lhe rende algumas polêmicas nas redes sociais. "Costumo ver futebol com os olhos da gestão e algumas pessoas não aceitam que eu critique o clube. Se as coisas não vão bem é porque tem algo errado e, como torcedor, tenho o direito de contestar", afirma.
Aliás, a gestão é visada até mesmo em suas viagens. Tem quatro lugares no mundo que acaba sempre retornando quando tira férias: Portugal, pelos traços brasileiros que lá estão; a Disney, por acreditar que seja o melhor exemplo de como servir e fazer as pessoas felizes; Chicago, pelo urbanismo e organização da cidade, e Nova York, por considerar um berço cultural. "Não posso me esquecer de mencionar Porto Alegre, mas só volto a gostar quando os veranistas migram para o Litoral, odeio aglomerações", salienta. Alguns de seus gostos mais inusitados são comer banana com Stiksy, salgadinho da marca Elma Chips, e ser viciado em branquinho, o popular docinho à base de doce de leite.
Leitor voraz, tem como meta a leitura de pelo menos dois livros por semana. "A informação é tão rápida que isso é necessário", completa. Silvio se define como um ser inquieto e que está sempre em busca do conhecimento. Odeia a zona de conforto e por isso vive uma constante mudança. Identifica-se assim: "Sou um cara que tem pavor de duas estrofes, uma do Hino Nacional, o 'Deitado eternamente em berço esplêndido', e a outra do Hino Rio-grandense, 'Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra'. O primeiro me causa ojeriza e o segundo me faz gargalhar".