Décio Azevedo: O jornalista do black-tie

Apesar de andar lado a lado com o glamour, Décio Azevedo não abandonou os hábitos simples e prazerosos da vida

Por Gabriele Afonso - 05/10/2012


O Direito tentou levar Décio Azevedo a encarar outros desafios, mas é o Jornalismo que sempre esteve ao seu redor, mesmo sem o seu conhecimento. Aos 14 anos, decidiu participar de um teste para ser locutor comercial da rádio Osório, cidade que residia. Acreditava que a noção de dicção o levaria a algum lugar. Esqueceu, porém, de um detalhe importante, a voz, já que a adolescência não costuma ser justa nisto para com os meninos. A ida para um colégio interno aflorou a sua vontade de escrever e, mesmo sendo uma atividade considerada feminina, o futuro jornalista ou a descrever o ambiente escolar num diário.
Desse segundo contato com uma suposta atividade jornalística pode ter nascido sua inclinação para o colunismo, já que a forma como escrevia seguia as técnicas utilizadas nas colunas do jornal Folha da Tarde. Na sua rotina incluía também a fotografia, que a a ser um hobby. Tendo as imagens do cotidiano como inspiração, Décio adquiriu um equipamento moderno, mas nunca pensou em se profissionalizar. Ia assistir jogo de futebol, e prestava mais atenção nos movimentos dos fotógrafos do que no próprio jogo.
A paixão pela câmera o levou a pensar em cursar Publicidade e Propaganda, faculdade que chegou a sua vida apenas no final dos anos 70. Em 1975, Décio começou a trabalhar na Prefeitura de Porto Alegre, e logo uma amiga jornalista soube do seu gosto pela fotografia e pela escrita. Com esse pequeno incentivo, e a vontade de mudar de ares, bateu na porta do Jornal do Comércio pedindo emprego de fotógrafo. Na ocasião, a única vaga disponível era de revisor, e, sem entender até hoje por quê, aceitou o desafio. Formado em Jornalismo em 1982 pela Unisinos, Décio trabalhou em veículos de comunicação até conquistar sua independência profissional.
Natural de Osório, o jornalista é de uma família ligada ao campo. A mãe, Zaida, é dona de casa, mas o pai, Décio Gomes de Azevedo, já falecido, foi Técnico Rural e funcionário do Estado. Além de vereador em Osório, também ocupou o cargo de prefeito nomeado do município de Tramandaí, entre 1975 e 1978. Daí a veia política que faz com que o jornalista transite com naturalidade entre diferentes tipos de públicos. Roberto, o irmão mais velho, veio morar em Porto Alegre junto com Décio, em 1971, enquanto o irmão mais novo, Rogério, ainda reside em Osório.
Os primeiros confetes
No Jornal do Comércio foi revisor durante dois anos. No início, considerava que o horário era ótimo, das 19h em diante, até que começou a cansar daquela rotina. Tudo começou a mudar quando foi promovido para a editoria de Internacional. Estava ocorrendo a Guerra das Malvinas - conflito armado entre Argentina e Reino Unido pela soberania dos arquipélagos das Ilhas Malvinas - e seu instrumento de trabalho ou a ser o telex. Sua função consistia em receber os telegramas com as notícias e selecionar o que poderia merecer ir para as páginas do jornal.
O JC havia extinguido a coluna responsável pela cobertura da rotina de clubes da Capital, e logo essas instituições iniciaram uma pressão pela volta dela, até porque outros diários, como a Folha da Tarde e a Zero Hora, mantinham este espaço. E foi assim que tudo começou. A jornalista Cláudia Fermann era a responsável por a coluna, mas algumas conversas de 'rádio corredor' indicavam que o nome de Décio havia sido sugerido para substituí-la. Sem esperar, foi chamado pelo diretor da época, Homero Guerreiro, para substituir a jornalista - e o primeiro evento já seria no final de semana.
Sua estreia no mundo do glamour foi na 'Festa da Cantina', no Clube do Comércio, seguida, no mesmo dia, de um evento do Grêmio Náutico União. "Primeiramente fiquei observando, mas logo comecei a conversar e me apresentei para todos. Já na redação a Cláudia me ajudou a escrever a primeira coluna", relembra. Durante 10 anos no comando da publicação, Décio vestiu smoking mais de 100 vezes para acompanhar festas de debutantes e eventos mais sofisticados. Em 1983, aconteceu uma mudança na sua rotina, o jornalista ou a a coluna social do veículo. A transformação lhe trouxe uma certeza, que era isso mesmo que gostaria de fazer daqui para frente.
Décio solicitou a saída do veículo em 1987 e foi tentar traçar um novo caminho no Correio do Povo. O jornal, que havia parado de circular, ava por um momento de renovação, com o empresário Renato Bastos Ribeiro assumindo os negócios. As mudanças logo começaram, e o formato standard deu lugar para o tabloide. O clima era de insegurança, diz ele hoje, e o que classifica como "uma aventura" durou apenas seis meses. De volta para a coluna social no Jornal do Comércio, Décio recebeu o convite, em 2003, para voltar a também a coluna de clubes, entretanto, não aceitou. "Redação é muito bom, mas uma hora cansa. Cansa ter que dar satisfações todos os dias". Uma nova fase iniciou-se.
A independência
Assim como na sua adolescência, o Jornalismo voltou a bater na sua porta a partir de um convite do jornalista Danilo Ucha, para escrever uma coluna mensal no Jornal da Noite. As festas e os eventos tornaram a participar de sua rotina e a novidade, para Décio, foi saber que Ucha tinha um site onde chamava a atenção dos leitores para o jornal. "Comecei a enviar para o meu mailing uma mensagem também alertando o site do jornal, e acabei tomando gosto pelo mundo virtual", explica. Houve um aumento na demanda por informações, e Décio então sugeriu que a letter asse a ser quinzenal. Paralelamente ao trabalho do Jornal da Noite, criou sua própria coluna social eletrônica, em 2004, levando-a depois também para o site de entretenimento Qual é a boa.
Algumas mudanças na linha editorial do site fizeram com que Décio parasse de publicar sua coluna. A independência havia sido proclamada. Com as amizades conquistadas, ao longo de uma carreira baseada na confiança, o jornalista continuou a cobrir todos os acontecimentos da Capital. Trabalhar sozinho lhe permitiu estabelecer uma seleção das coberturas. "A forma de escrever sobre a sociedade foi se modificando, já que hoje há uma diferença tênue entre eventos comerciais e sociais", ressalta.
As redes sociais recebem agora sua atenção, desde que descobriu que seu uso lhe permite propagar a coluna para um novo tipo de público. Apesar de considerar o resultado "fantástico", o jornalista acredita que a linha editorial utilizada deve ser a mesma sempre, mesmo nas redes. "A recepção desse novo público foi ótima, mas utilizo o canal apenas como um link para a coluna." Hoje, além dos eventos, Décio escreve sobre moda, o que lhe permite pesquisar e estudar muito, além de ser mais um assunto a atrair público. Quando uma conhecida lhe disse "que mania de sapato que tu tem!", Décio disse que o objetivo havia sido alcançado - também ou a ser referência em moda.
O bon vivant
Ainda que leve sua profissão a um alto nível de seriedade, o jornalista ite que também costuma ser divertido. "Procuro saborear as oportunidades", afirma. Isso fica claro quando diz que já ou por alguns casamentos, e que se unir a alguém é extremamente complicado: alega que a vida agitada nem sempre foi aceita por suas companheiras.
Aos 56 anos, Décio tem apenas uma filha, Elisa, de antigo casamento. Hoje com 18 anos, é estudante de Direito e mora com a mãe em Brasília. "Sempre gostei de criança, portanto criá-la foi fácil", afirma. Inconscientemente, a opção por poucos filhos pode ter sido em função do que ou na infância, já que é o irmão do meio. Acredita ter sofrido em relação à atenção dos pais, o que seria motivo para atos de rebeldia que tiveram como consequência a matrícula em um colégio interno.
O gosto refinado, adquirido após tanta convivência em eventos sociais e seus públicos específicos, fica evidente quando afirma que sua bebida favorita é um bom espumante. No entanto, convicto, assegura: "O grande amadurecimento em conviver com o refinado é saber viver com o simples. Quem pula de um lado para o outro de uma hora para outra, não tem raiz".
Mesmo com a intensa atividade social, Décio adora ficar em casa estudando e curtindo suas coisas. Acredita que a conquista da independência permitiu-lhe mais liberdade para criar, e assim ira cada vez mais a profissão que abraçou com naturalidade, entrando em sua vida para ficar. Décio considera complicado definir-se, mas não pensa duas vezes ao responder: "Valorizo minha individualidade. Valorizo a autonomia. Confio nas coisas que faço, pois não tenho que estar provando tudo para as pessoas".
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