Carlos Eduardo Konrath: Nos bastidores do show business
Ele é diretor da Opus e acredita na idéia de que o show tem que continuar. Mantém um ritmo acelerado de trabalho e a preocupação constante com os envolvidos nos espetáculos que produz.
O diretor da Opus Carlos Eduardo Konrath, 40 anos, carrega a filosofia de que o show tem que continuar. Formado recentemente em relações públicas, mantém um ritmo acelerado de trabalho e a preocupação constante com o público, os patrocinadores e os artistas envolvidos nos espetáculos que produz. "Nada pode dar errado", justifica. O produtor, que há mais de 20 anos atua na Opus e cultiva grande paixão pelo que faz, acredita que é preciso saber lidar com "muita adrenalina e confusão" para se dar bem nesse segmento do mercado. Acostumado com as excentricidades do mundo das celebridades, aprendeu a trabalhar apenas com artistas de muito profissionalismo, evitando surpresas desagradáveis.
Natural de Porto Alegre, Carlos cursou o Ensino Médio na Escola Estadual Piratini. Era presidente do grêmio estudantil e, sentindo a necessidade de "agitar o colégio" entrou em contato com a Opus e ou a prestar serviços para a produtora. "Eu queria conhecer esse meio, entender como as coisas funcionavam e levar isso de volta para o Piratini", conta. A partir de então, sua vida escolar foi marcada pela promoção de festas e shows. Com o fim do ensino básico, em 1984, ele poderia ter tomado o rumo da Universidade, mas isso não aconteceu. O bom desempenho do adolescente na produtora lhe rendeu um emprego e Carlos optou por dedicar-se exclusivamente a esta ocupação.
Os anos que se seguiram foram de muito trabalho. Ele colou cartazes, cuidou de portarias, vendeu ingressos, montou espetáculos de madrugada, viajou o país nas turnês de diversos artistas e, assim, ou por todas as funções dentro da empresa. Enquanto engajava-se nas atividades de produção, comprou uma grande briga em casa. "Meus pais queriam que eu me formasse em uma faculdade primeiro e depois trabalhasse", explica. Mas o jovem não preocupou-se em conquistar um diploma tão rápido. Ganhou experiência no mercado e, por volta de 1990, com 25 anos, ingressou no curso de Relações Públicas da PUCRS. Entre 15 anos de idas e vindas e muitos trancamentos de matrícula, o produtor tornou-se bacharel há poucos meses, em 6 de agosto. "Fui orador e tudo", diz, orgulhoso.
A escolha pela Comunicação foi simples e não gerou dúvidas. "Era o curso mais adequado para que eu me aprofundasse nas minhas relações de trabalho e nas atribuições de um produtor cultural", avalia. Segundo Carlos, em sua profissão, é necessário ter boas noções de Publicidade, para vender os espetáculos que se produz, de Jornalismo, para divulgar, e de RRPP, para estabelecer bons contatos, principalmente com empresas e apoiadores (serviços de hotelaria, empresas áreas, etc). Embora tenha adiado a entrada na Universidade por algum tempo, ele vê como uma obrigação, para todos que têm oportunidade, buscar a formação acadêmica hoje em dia. "É uma maneira de melhorarmos, aos poucos, o nível cultural da cidade, do Estado e do país", acredita.
O público em primeiro lugar
Atual diretor e sócio da Opus junto com Geraldo Lopes, ele nunca teve outro emprego e não se imagina fazendo outra coisa. Entretanto, isso não quer dizer que não existam mais desafios profissionais para um produtor tão experiente. Carlos quer continuar proporcionando a seu público "os melhores espetáculos, com a melhor infra-estrutura, com o melhor o, com o melhor equipamento de som?", enumera com entusiasmo, mostrando ser esse seu desafio permanente. "Investimos em qualidade independente da bilheteria ser boa ou não", afirma, referindo-se ao seu trabalho na Opus. Para ele, a responsabilidade e a "vontade de fazer bem feito" são características das empresas gaúchas e fazem parte da cultura local, figurando como uma espécie de selo de qualidade. Como exemplos, cita a Tramontina e a Companhia Zaffari.
Não é apenas o retorno financeiro pela produção bem executada que motiva Carlos a investir
O contato com os artistas, que acontece diariamente, nunca se tornou banal para ele. Por vezes, permite-se momentos de tietagem com seus cantores, personalidades internacionais e atores preferidos. "Tem que ser fã também, para poder olhar do outro lado", ressalta. Logicamente, sua relação com os famosos não é igual à da maioria das pessoas. A iração pelo trabalho artístico confunde-se com a intimidade adquirida em conversas nos bastidores e com a troca profissional entre produtor e artista. "Tenho grandes amigos que são celebridades, ficamos próximos", conta. Em sua lista estão nada menos que Raul Cortez, Cristiane Torloni, Nicete Bruno, Paulo Goulart, Fernanda Montenegro, Marisa Monte, Chico Buarque, Caetano Veloso, MPB4 e Fafá de Belém.
Quando as cortinas se fecham
Também existem profissionais do meio artístico com quem é difícil trabalhar. Mas, destes, Carlos não revela os nomes. Como ele explica, a Opus opta por não produzir esse tipo de profissional. "Tem gente desequilibrada, que pode querer brigar com a platéia, atrasar os shows por capricho ou faltar os compromissos", fala levando em consideração que a culpa sempre acaba caindo sobre os ombros da produtora. Tanta preocupação fez com que, aos 38 anos, Carlos já tenha se submetido a uma cirurgia no coração e tenha chegado muito perto de sofrer um enfarto. "Eu acho que esses problemas me levam a um nível de stress bastante alto", conclui. Desde o acontecido, tenta ser mais ponderado e já percebe as mudanças de uma vida mais equilibrada.
É casado com Beatriz Moraes Ferreira, psicóloga, com quem forma uma dupla de medidas certas de agitação e calma. É pai de João Gabriel Ferreira Konhad, de um ano e quatro meses, e mora também com o enteado Mateus Ferreira Macedo, de 15. As longas férias do qual desfruta anualmente garantem a conexão entre a atuação profissional e a vida familiar. "Trabalho muito de março a novembro e descanso de dezembro a fevereiro. São quase 80 dias", contabiliza, esclarecendo que o trabalho na Opus é escasso no verão. E quando sobra algum tempo, ele corre para seu sítio. Lá, junto ao seu orquidário e sua lagoa, criou um "cantinho de paz".
As viagens de avião são muito freqüentes em sua vida, muito mais a trabalho do que por compromissos pessoais. "E eu odeio avião!", reclama demonstrando medo apenas em falar sobre o assunto. Durante os vôos, não consegue relaxar. Não dorme e pouco conversa, prefere isolar-se. "Não chega a ser algo desastroso. Se preciso viajar, eu vou. Mas só porque preciso", esclarece. O sentimento tem origem em um incidente aéreo que vivenciou há aproximadamente 15 anos em um vôo entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre devido a uma reversão de turbina. "Caímos três mil metros, parecia filme, com máscaras de oxigênio, aeromoças chorando. Quando descemos,
Com o período de férias chegando, Carlos planeja descansar muito pelos próximos dois meses e curtir a família
Para Carlos, a construção da casa de espetáculos vai ser muito boa para Porto Alegre e para o Estado porque, atualmente, faltam espaços para a cultura. "Acabamos não trazendo algumas atrações porque os espaços existentes já estão locados", conta, enfatizando que não pretende competir com a programação das outras casas e, sim, ser mais uma alternativa. Outro empecilho, principalmente para os shows internacionais, é a falta de incentivo do poder público. A Lei de Incentivo à Cultura (LIC) está engessada", reclama e afirma que esse é um fator que, de médio a longo prazo, pode se tornar um grande problema.
