Marcelo Bacchin: Paixão pela adrenalina

Publicitário atua da criação à direção artística em busca de experiências únicas de marca

Promover conexões autênticas e singulares entre marcas e seus públicos é um desafio diário para o publicitário Marcelo Trindade Bacchin. Durante cerca de 30 anos, ele se especializou na área de live marketing ao agregar seu olhar criativo em ações capazes de provocar experiências impactantes, seja em grandes eventos, festivais, encontros corporativos ou lançamento de produtos, por exemplo. Detalhista, ele se envolve na criação das ações desde o conhecimento da necessidade do cliente, ando pela estratégia, até chegar à direção no momento de colocar o projeto em prática. 

Há 21 anos, Bacchin abriu sua empresa, a Rito Entretenimento Inteligente, e, desde então, participou de muitos momentos de grandes marcas. Entre elas estão: Stihl, Timac Agro, Grupo RBS, Vulcabrás, ARP, South Summit, Tramontina, Inventa Evento e Capacità Eventos. O seu trabalho se assemelha ao de um maestro em uma orquestra. No entanto, em vez de guiar músicos, na função de diretor artístico, está à frente de profissionais das mais diversas áreas, como redatores, roteiristas, produtores de vídeo, de áudio, especialistas em iluminação e projeção, entre outros. Todos são fundamentais para que a entrega seja um sucesso. 

Reservado, ele não gosta de expor amplamente sua vida na internet, nem mesmo explora o universo digital para mostrar seus trabalhos. Segundo ele, os clientes chegam por indicação. "É até antagônico, pois crio palcos para os outros brilharem", reflete ele, que prefere relações mais profundas e íntimas no offline. Tal característica considera como algo que faz parte da sua personalidade e crê que seu processo de criação também a pela introspecção. 

Para ele, as ideias precisam de quietude para se desenvolver. Mas é também nos momentos de lazer que os insights surgem. Gosta de assistir a séries, filmes, ouvir músicas, ir a shows, e garante que busca a pluralidade nas escolhas para manter a mente aberta para receber as mais diversas influências. Se no aplicativo de música encontra playlists variadas com MPB, Jazz ou Blues, atualmente, no audiovisual, tem gostado de assistir a documentários. "O lazer me ensina muito, alimenta meu conhecimento sobre linguagem e narrativas", conta. 

Olhar 360º a partir da prática

Sempre muito criativo, cursou Publicidade e Propaganda na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Demorou a concluir a graduação, pois trancou algumas vezes até se formar. Segundo ele, nos anos 1990, a qualificação focava mais na atuação em agências, com a qual ele não se identificava. O caminho não foi planejado, as oportunidades foram acontecendo. Iniciou no mercado por meio da produção de eventos, publicidades e também de campanhas políticas. 

Bacchin acredita que duas pessoas, em especial, foram determinantes para os aprendizados no início da carreira. Ele considera que trabalhar com Alice Urbim foi uma escola de produção, assim como com Gilberto Perin na área de direção artística, que envolvia conteúdo, criatividade e emoção. "Tive esse privilégio de tê-los como parceiros de trabalho. Sou muito grato a eles por isso, pois era uma escola de alto padrão de qualidade e perfeccionismo. Foi uma universidade para aprender fazendo", lembra ele, com carinho. Contudo, pontua as dificuldades de adquirir conhecimento enquanto já colocava a mão na massa: "Eu tinha que correr atrás. O nível de responsabilidade, de atenção e de independência era altíssimo e tinha que dar conta de coisas que praticamente ninguém havia ensinado. É uma forma dura de aprender, mas também formou uma base muito consistente". 

Antes de abrir a Rito, em 2004, ele ainda ou pela indústria cinematográfica, para qual se dedicou intensamente por quatro anos.  Fez a produção executiva do longa-metragem 'Netto perde sua alma', que teve a direção de Tabajara Ruas e Beto Souza, e de 'Cerro do Jarau', dirigido também por Beto. "Brinco que ali foi meu mestrado e meu doutorado para aprender também na prática", conta. O resultado em um set de filmagem demora a ser visto, e foi após essas vivências que decidiu se dedicar ao live marketing. A área lhe atraiu pelos trabalhos efêmeros, dinâmicos e que o fazem transitar em diferentes setores, possibilitando um aprendizado novo a cada dia. Além disso, a adrenalina causada durante a execução, segundo ele, é viciante. 

Com uma expertise diferenciada de visão artística e criação de conteúdo, somado à produção, desenvolveu habilidades determinantes para ter um olhar 360º e possibilitar o sucesso da trajetória nesse segmento. Sua função exige conhecimento e habilidade bastante peculiares, pois as organizações estão interagindo presencialmente com o público e, a partir disso, construindo relação e uma forte percepção de marca. "Quanto mais autêntica e genuína for essa criação, mais impacto e valor será gerado. O desafio é encontrar nessa comunicação elementos sólidos e verdadeiros que façam a construção desse storytelling refletir a essência das marcas", ensina. 

Mudança do mercado

Ele sempre foi muito exigente nas entregas, tanto consigo, quanto com a equipe com quem trabalha. Desde 1994, quando iniciou a carreira como estagiário, até os dias atuais, presenciou muitas mudanças na Comunicação. Para manter uma entrega efetiva e atual, tem que acompanhar a rapidez das inovações para manter a relevância das suas propostas. "Os desafios do trabalho foram mudando com o ar dos anos. Estamos sempre aprendendo sobre as tecnologias e como usá-las de forma correta. Afinal, tudo está muito ancorado em tecnologia e, no ao vivo, sempre ficamos preocupados com os riscos de falhas, tentando prever qualquer possibilidade e garantir alternativas", argumenta. 

Cada projeto em que atua exige um grande envolvimento, pois toda a criação e produção demandam aprofundamento e interação com os clientes por serem sempre ações estratégicas para as marcas. É preciso entender o produto, o público, as expectativas da entrega, entre outros fatores. Neste contexto, pelo resultado gerado, Bacchin acredita que há uma exponencial relevância das empresas de live marketing para o mercado de Comunicação. 

Para ele, a complexidade da Direção Artística é trabalhar com elementos técnicos e artísticos diversos e construir um momento em que tudo se una perfeitamente - roteiro, interpretação, trilha, som, luz, apresentadores, executivos, cenário, elenco, músicos, vídeos e motions -, acentuado pelo desafio de ter pouca, ou quase nenhuma, possibilidade de testar a criação com o tempo para ensaios e ajustes. "O engajamento gerado por uma experiência presencial é duradouro e de alto valor para as marcas", garante. 

Por esses motivos, o "ao vivo" é um modelo que demanda características bem específicas da equipe. Trabalhar em um ambiente de alta pressão é um pré-requisito básico porque o tempo de resposta é medido em frações de segundos e as ações precisam ser executadas com precisão. Dessa forma, apesar de contar com parceiros terceirizados, criou uma conexão com a equipe que considera fundamental para que tudo ocorra corretamente: "Nos entendemos pelo olhar". 

Com o ar dos anos, alguns projetos marcaram sua história. Como a comemoração dos 30 anos da RBS de Santa Catarina, em 2009, ainda no início da Rito. A celebração contou com grandes atrações e foi aberta ao público, reunindo milhares de pessoas. Com um público menor, mas igualmente relevante, Bacchin destaca a realização do Brasil Investment Forum, da Apex Brasil, que tinha como objetivo atrair investimentos para o Brasil. Outra memória é do período da pandemia, quando se uniu a outras empresas para montar o primeiro estúdio para lives. "Foi bem desafiador, pois estávamos aprendendo enquanto fazíamos. Além disso, lembro da constante preocupação com a instabilidade da internet, entre outras questões", recorda. Um evento virtual marcante foi para Com UOL, em um estúdio montado em sua totalidade com chroma key para possibilitar um cenário todo digital.  

Apesar de uma história longa e relevante na área, o diretor artístico acredita que cada projeto é único, independentemente de quantas vezes já tenha trabalhado com a empresa e de quantas pessoas serão impactadas no momento da ação. "Um evento para 150 pessoas, por vezes, é mais complexo do que um para milhares. Depende do objetivo e do que será realizado", explica.

Equilíbrio e futuro

Natural de Porto Alegre, o publicitário nasceu em janeiro de 1972 e morou quase toda sua vida na capital gaúcha - ou apenas um ano em São Paulo. Filho de Waldemar Bacchin Filho e Marli Trindade Bacchin, ele é o caçula da família. Por ter uma irmã e um irmão com sete e oito anos de diferença, respectivamente, lembra que buscava amadurecer mais rápido na tentativa de acompanhar os mais velhos. No entanto, atualmente, procura viver o agora, buscando a evolução constante e o equilíbrio entre os diferentes aspectos da vida. Seu hobby tem sido cuidar da saúde, fazer aulas de bike e ter atenção à alimentação. "Estou sempre aberto a aprender e a ser um ser humano melhor", garante. 

Embora mantenha um ritmo acelerado no trabalho, em seus momentos de folga gosta de encontrar os amigos e aproveitar a praia, especialmente, na Silveira, em Santa Catarina, onde ele e a esposa Doda Bedin têm uma casa. "É nosso lugar de paz", afirma. Eles não têm filhos juntos, mas o enteado Frederico, de 19 anos, e o cachorro Sheik, de raça Shitzu, completam a família. Com a companheira, com quem divide a vida há 12 anos, também compartilha os desafios e as alegrias do trabalho de eventos. Afinal, ela é sócia-diretora da Inventa Evento, parceira em muitos de seus projetos. 

Bacchin tem no trabalho uma grande paixão, apesar de ponderar que é preciso ter sempre equilíbrio. Afinal, acredita que, hoje em dia, as expectativas de futuro mudaram ao desconsiderar a aposentadoria no seu modelo de atuação. "Antes, tinha-se a ideia de trabalhar muito para se aposentar e viver, mas não é mais assim. O ideal é viver sempre, manter-se atualizado e com a mente aberta. Isso nos torna interessantes", discorre. Para ele, quanto mais nos relacionamos e somos desafiados, mais nos mantemos vivos. Por isso, almeja para seus próximos 10 anos estar melhor do que hoje, dando continuidade às histórias, aceitando as transformações e, principalmente, cultivando as amizades e relações. "O importante é a caminhada e o que aparecer nela", reflete.

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