Luiz Afonso Franz: Jornalismo e ousadia
Colunista, assessor de imprensa e blogueiro são algumas das facetas jornalísticas experimentadas por Luiz Afonso Franz ao longo da carreira
Por Karine Viana - 28/03/2013
Luiz Afonso Franz é um jornalista que não faz mais jornalismo. Filho dos ex-jornalistas Alfredo Franz e Lúcia Hartmann Franz (ambos falecidos há muitos anos), é dono de convicções fortes e opiniões polêmicas. É do tipo de pessoa que não se intimida em falar o que pensa, não teme defender suas ideias, tampouco expressar suas desilusões. Enquanto desfruta de uma xícara de café pingado em um ponto da cidade que visita diariamente, conversa com entusiasmo ao lembrar da sua trajetória, oscilando entre boas risadas e palavras sérias.
Franz, como é conhecido tanto no meio profissional quanto familiar, nasceu na cidade de Novo Hamburgo, em 14 de agosto de 1950. O início na trajetória jornalística foi precoce e de forma inusitada. Aos 16 anos, durante todas as noites costumava acompanhar a irmã mais velha até à redação do Jornal NH, onde ela mantinha uma coluna. Maria Cristina Franz, no entanto, precisou deixar a atividade assim que noivou. Foi então que Franz recebeu o convite para manter a empreitada, inicialmente como colunista social e depois com assuntos voltados à juventude. "Tinha 17 anos com cara de 14. Parecia muito guri", lembra o único jornalista entre três irmãs e um irmão.
Desde o início, sua trajetória profissional parece ter sido moldada com desafios e responsabilidades distintas. O jornalista, com forte instinto empreendedor, embora se intitule um 'péssimo gestor', foi responsável pela criação de vários projetos voltados à comunicação. Também escreveu sobre economia, automobilismo, foi pauteiro, repórter, secretário de redação, editor, chefe de redação e assessor. Completa a carreira eclética a participação como membro do júri do Miss Novo Hamburgo, aos 17 anos.
Profissão de múltiplas áreas
Em meio aos relatos que descreviam as mais de quatro décadas de profissão, Franz por vezes se perde na ordem e nas datas, tamanho o número de atividades paralelas às quais esteve envolvido. Depois de escrever para a juventude, foi enviado pelo Grupo Sinos para o Jornal da Semana. De lá, o falecido jornalista Osmar Trindade o convidou para a Folha da Manhã, da Empresa Jornalística Caldas Júnior, onde começou como pauteiro.
Jovem e com a negativa a um pedido de uma melhor remuneração, decidiu pedir demissão. Dois meses depois, foi chamado para reintegrar a equipe do jornal. Dessa vez, sua coluna, chamada Plano Geral, trazia "fofocas políticas". Lembra que, descontente com o teor de uma das notas, o governador do Estado à época, Amaral de Souza (1963-1967), teria sugerido a sua demissão. Após deixar a publicação, por volta de seus 28 anos, rumou para a Coojornal, onde chefiava o setor de comunicação para terceiros.
Paralelo às atividades jornalísticas, Franz competia no automobilismo. Foi campeão brasileiro em 1979, disputando na categoria Rally. Uma capotagem durante um campeonato no início dos anos 80, logo após o nascimento da filha, o fez abandonar o esporte. O conhecimento da área, entretanto, lhe rendeu um convite para trabalhar na Zero Hora, onde escreveria sobre automobilismo, vindo, mais tarde, a falar de Fórmula 1. Através de uma rede social, conheceu um fã que entrou em contato para mostrar as colunas escritas pelo jornalista e que foram colecionadas. Nem mesmo Franz guarda algum registro dessa época.
Mudanças e a desilusão
Franz fez parte de diversas iniciativas que ainda hoje marcam o jornalismo gaúcho, e outras que não deram certo. Aos 21 anos, abriu a revista mensal Janela, que durou apenas três edições. Segundo ele, foi um fracasso total. Mais tarde, ao lado de Jorge Polydoro e Luiz Carlos Felizardo, participou de 'O Estúdio', ainda enquanto atuava na Coojornal. Na época, convenceram a Fiergs a elaborar uma revista chamada Amanhã, foi quando, para produzir da publicação, surgiu a Plural Comunicação. O jornalista ainda chegou a dirigir a Amanhã e a Plural. Foi o criador do conhecido 'Top Of Mind'.
No início dos anos 1990, Franz saiu da editoria de Esporte da ZH para ser editor de Economia, área cuja experiência foi aprimorada com a revista Amanhã. Depois de uma demissão, causada por uma 'barrigada' na sua editoria, o jornalista retornou à Plural até que optou por abrir o próprio negócio, a Mosaico, projeto em parceria com Angela Rahde e Elaine Lerner. Mais tarde, Elaine se afastou da sociedade, após a aproximação e paixão entre Franz e Angela.
A carreira de Franz mais uma vez se modificou em 1999, quando assumiu a chefia de comunicação da Prefeitura de Novo Hamburgo. Permaneceu no Executivo municipal durante seis anos, até o último dia do mandato do então prefeito José Airton dos Santos. Esse período é considerado por ele um dos maiores desafios na carreira. Afirma ter gostado do trabalho que consistia em intermediar o relacionamento do poder público com a mídia. Fora do jornalismo convencional, ou ainda pelo marketing de uma revenda de automóveis, até ser novamente chamado pelo Grupo Sinos. Ainda assim, manteve-se longe do cotidiano da redação, pois desta vez retornou ao jornal para trabalhar na área de desenvolvimento de produtos.
Neste momento da carreira, Franz já se mostrava desiludido com o jornalismo, o que influenciou seu afastamento das redações e o fez trilhar outros caminhos. "Acho que o jornalismo acabou há algum tempo. E isso não tem nada a ver com internet", explica. Ele acredita que as grandes empresas abandonaram a pureza da profissão. "Os veículos trabalham nos seus interesses financeiros e políticos", completa, ao prever um jornalismo cada vez mais tendencioso.
O hobby de buscar notícias
Para Franz, o "jornalismo de fato" ainda pode ser encontrado em alguns sites e blogs. Com a facilidade de escrever que sempre norteou sua vida, ele garante que consegue fazer um texto opinativo e de qualidade em poucos minutos. Por isso, achou um tanto natural que continuasse externando seus dotes jornalísticos mantendo um blog. O site é um hobby do jornalista, que diariamente garimpa sites do mundo todo, em busca de informações diferenciadas e até mesmo curiosas, as quais não teriam espaço na mídia convencional. São no mínimo seis notícias diárias, que totalizam mais de 2 mil postagens em apenas sete meses no ar. "Todas as manhãs, tomo café e vou para os sites de todos os cantos do mundo procurar estas coisas", diz.
Buscar estas informações em âmbito mundial faz com que Franz se depare com diferentes idiomas. É aí que se inserem mais algumas histórias curiosas do cotidiano do jornalista. Ele domina inglês e espanhol, línguas em que a postura autodidata auxiliou no aprendizado. No caso do inglês, este foi facilitado pela hábito de ouvir músicas dos Beatles. O italiano, idioma que compreende e lê com facilidade, foi aprimorado enquanto trabalhava em ZH. Como a principal fonte de informação do automobilismo era produzida na Itália, Franz recorria sempre a um dicionário. O alemão, idioma ao qual tinha familiaridade na infância, quando conversava fluentemente com uma empregada da família, foi esquecido pela falta de prática. A vantagem, segundo ele, é que hoje muitos sites apresentam uma de suas versões em inglês.
O jornalista se diz inserido num contínuo processo de aprendizado, que vem se intensifica com o auxílio da internet. Ao longo da carreira, garante que elogios o acompanharam; no entanto, nunca foram considerados importantes. "As críticas são melhores", afirma. Uma das mais construtivas partiu do antigo chefe na Folha da Manhã, Elmar Bones, ao recursar um texto. "Está ruim, melhora!", teria dito um dos profissionais que Franz mais ira, por ainda seguir com o jornalismo. Ao lado do ex-colega de trabalho, dois profissionais estrangeiros figuram na lista dos mais irados por Franz: o norte-americano Henry Louis Mencken e o inglês Robert Fisk.
Referências
O jornalista possui outros ídolos, os quais refletem sua personalidade forte e suas opiniões bem definidas. Ateu, tem certo conforto ao falar de morte e é fã dos escritores José Saramago, Gabriel García Márquez e Mia Couto. Também tem iração pelo político britânico Winston Churchill e por aquele ao qual ele atribui a "invenção da humanidade", Charles Darwin. Como socialista, é irador do ex-comandante da Venezuela Hugo Chávez, e do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, a quem acredita ter promovido uma "revolução de inclusão social".
Leitor assíduo de todo tipo de literatura, tem como outra personalidade irada o escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo. Certa vez, este chegou a intermediar uma entrevista de Franz com um parente que vinha dos Estados Unidos. O episódio resultou na maior aproximação entre os dois e, no anseio de conviver mais com o escritor, que posteriormente foi seu colega na ZH, chegou a dar carona frequentemente a Verissimo. "Fazia isso apenas para ficar um pouco com ele", diz.
Inspiração pessoal
No lado pessoal, a inspiradora de Franz é a também jornalista Angela Rahde, sua atual esposa, da qual ele faz questão de adjetivar com uma das "maiores e melhores jornalistas" que já viu. Juntos desde o início dos anos 1990 - Franz confessa ser péssimo em guardar datas -, quando se conheceram ao montar a Moisaco, Angela é a terceira companheira de Franz, que lhe possibilitou uma nova visão de relacionamentos e lhe deu uma "filha emprestada", a advogada Suzana Rahde Gerchmann. O jornalista ainda tem mais dois filhos. Maria Lúcia Adams Franz, que atualmente reside em São Paulo e trabalha com semijoias, é fruto do primeiro casamento, com a publicitária Vera Maria Adams.
Após a separação, por volta de 1980, mudou-se para a Capital onde conheceu a bióloga e professora Clívia Cassol Morato. Do relacionamento, nasceu Juliano Morato Franz, acadêmico de Engenharia da Computação, que atualmente reside no Canadá. A escolha do nome mais uma vez remonta uma das ideias do jornalista. Juliano foi o último imperador romano pagão e o nome de um romance de Gore Vidal. O filho nasceu não cristão e nunca foi batizado, feito sobre o qual agradece ao pai. "Meus filhos são pessoas iráveis, infelizmente hoje distantes de mim", lamenta.
Embora tenha iniciado sua vida profissional bastante jovem, Franz carrega boas lembranças da infância. Atividades típicde uma criança que aproveitou as brincadeiras da época. A simplicidade ainda faz parte da sua rotina. Modesto, costuma afirmar que não se acha importante ou influente. Aos 62, anos, no entanto, ainda mantém o espírito do empreendedorismo. Planeja uma nova mudança para Porto Alegre e pretende consolidar mais um projeto, provavelmente no âmbito virtual.
Por enquanto, leva rotina tranquila, formada pelo garimpo de notícias para o blog pessoal, que carrega seu nome; jogos de golfe online; e a invenção de receitas culinárias, uma de suas paixões. Além disso, mantém uma espécie de confraria diária com amigos. A prática é antiga, pois no ado participava com outros colegas da Saga (Sociedade para Assuntos Gerais - com Jorge Polydoro, Telmo Magadan, José Antônio Pinheiro Machado, Luiz Carlos Felizardo e Jesus Iglesias). O grupo deu origem à Sapa (Sociedade dos Amigos de Porto Alegre), que defendia a Capital gaúcha acima de tudo. Encontros pautados por "bobagens", como se refere. "Não há salvação fora da bobagem, temos que buscar bobagens para aproveitar a vida", afirma.