Luiz Antônio Mazarém: Humildade como alicerce
Do tempo de jornaleiro ao registro cinematográfico da cena política gaúcha, a trajetória do cinegrafista Luiz Mazarém
Por Karine Viana - 06/12/2013
Nas décadas de 60 e 70, quando as manhãs que compunham a infância eram ocupadas pela venda dos jornais pelas esquinas da Capital, Luiz Antônio Mazarém não imaginava o futuro como repórter cinematográfico. A humildade, característica incentivada por Dona Celita, a mãe adotiva, conjugada aos conselhos de grandes incentivadores que cruzaram seu caminho conduziram Mazarém a uma atividade que já soma mais de 30 anos.
Luizinho, como é conhecido no meio profissional, tem 57 anos. Mais da metade atrás das câmeras, registrando, principalmente, o meio político gaúcho. Ao todo, já são nove governos estaduais, com seus feitos e articulações, documentados através das imagens de Mazarém, período suficiente que lhe permitiu colecionar também bons amigos e histórias.
A forma como foi acolhido por muitos colegas de trabalho, superiores a ele ou não, com ensinamentos, compreensão e incentivo reflete na maneira como reporta sua gratidão a cada um daqueles que, de alguma maneira, contribuíram para pavimentar sua trajetória. É também dessa forma que hoje busca ar conhecimento aos mais jovens, às crianças de olhares atentos e curiosidade aguçada que o abordam pelas ruas, e aos filhos, de quem fala com orgulho.
Da esquina ao Palácio
Luizinho não conheceu os pais biológicos, embora em determinado momento tenha tentado descobrir suas origens. Sem irmãos, era o único companheiro da mãe adotiva, empregada doméstica, a quem acompanhava até o trabalho. De lá, seguia para a escola Pedro Toqueto, no bairro Santo Antônio, onde se alfabetizou.
Aos 10 anos, muito antes de operar as pesadas câmeras filmadoras, Luizinho já estava nas ruas trabalhando. E tinha dupla atividade: era engraxate e jornaleiro. Ia para as esquinas vender os jornais Folha da Manhã e Folha da Tarde - ambos extintos - e, aos finais de semana, o Correio do Povo. Já quase adulto, começou a buscar novas oportunidades e trabalhou inclusive como vigilante, até ser incentivado pelo ex-vereador Pedro Américo Leal e alçar novos voos.
Os conselhos foram seguidos e hoje Luiz Mazarém é frequentemente chamado de ?Luizinho do Palácio?. Trabalhando no palácio do governo gaúcho desde o final de 1983, viaja com frequência por todo o Estado e já fez imagens até à Coréia. A atividade, embora exaustiva, tem todo o apoio da família que, em função da correria diária, não tem o patriarca tão presente como gostaria.
A pequena e a grande família
O repórter cinematográfico, que cresceu numa pequena família, hoje pode dizer que tem a casa cheia, o que lhe proporciona uma das maiores satisfações. São três filhos, Gislaine, com 31 anos, Tiago, 27, e Éverton, 8, além de um neto, o Luiz Felipe, 7, que também vive com a família. A correria, confessa, não lhe permite se fazer 100% presente. Sinal disso é que teve seu período de férias reduzido devido às demandas de trabalho. Sem reclamações e com disposição, já vestia o colete de repórter antes de desfrutar o fim das férias.
O início da carreira se deu na TV Difusora, em 1982. Na época, como morava próximo à emissora, participava das festas que aconteciam no local, quando costumavam fechar a rua. No entanto, não se imaginara, ainda, trabalhando no local. A turma do bairro Santo Antônio, conforme lembra, já trabalhava ali. O convite, combinado aos conselhos de Américo Leal, o colocou na TV. Dali, fez o concurso para a TVE e ou a conciliar os trabalhos como auxiliar cinematográfico.
Entre mudanças boas e ruins
O período de mudanças profissionais coincidiu com mudanças pessoais. Luizinho perdera a mãe, momento do relato em que sua voz e seu olhar visivelmente se modificam: "Foi a hora de colocar a cabeça no lugar", lembra. Precisou interromper os estudos e no mesmo período casou com a dona de casa Regina Farias Mazarém, a quem conhecera ainda na infância.
Luizinho seguiu o protocolo e ou por todas as instâncias da profissão: auxiliar, operador de TV e câmera. O reconhecimento de seu trabalho o levou ao Palácio Piratini, onde se apresentou no final de 1983. "Durante um ano e meio fui crescendo, até ser chamado pela então chefia, Paulo Odone, para participar de um concurso como câmera", diz. Contratado, acabou atuando no Palácio Piratini onde, a cada troca de governante, foi permanecendo, até somar hoje oito gestões.
Histórias que marcam
Histórias não faltam. Mas duas delas lhe foram marcantes. A primeira, segundo conta, aconteceu durante uma solenidade no gabinete do então governador Alceu Collares. A lâmpada que era segurada pelo auxiliar estourou, atingindo as costas e a cabeça de Mazarém. Collares interviu rapidamente. Tirou do bolso um lenço e batia na cabeça do câmera na tentativa de ajudá-lo. "Se não fosse eu, você não estava mais aqui, viu?", teria dito o chefe do Executivo à época, numa comoção geral de gargalhadas.
Aos sete anos, Luizinho viu o mar pela primeira vez, na praia de Tramandaí. Sensação maior ao se deparar com uma enorme quantidade de água, somente numa cheia em Alegrete. Era a primeira vez que voava para registrar imagens aéreas do local. Poderia ser um simples receio de quem voava pela primeira vez, se não fosse a atenuante de o piloto ter dormido apenas algumas horas depois de participar de uma festa de casamento. Apesar do medo, imagens que foram transmitidas para emissoras do país inteiro, fato que lhe orgulha.
Ter sido homenageado recentemente pela Associação dos repórteres fotográficos e cinematográficos do Rio Grande do Sul (Arfoc-RS) e reconhecido pelos companheiros foi o momento de maior satisfação na carreira. Assim como o Prêmio em Direitos Humanos recebido em 2011 ao lado do colega Nilton Schüller.
Há alguns dias, o cinegrafista foi questionado pelo próprio filho: "Pai, o que tu pretendes fazer quando te aposentar?". A resposta para algo que deve acontecer em dois anos, ainda não é concreta: "Talvez eu sinta muita saudade", garante. A certeza que tem é que continuará acompanhando os filhos, aconselhando para os estudos e para a vida, tentando sanar qualquer tipo de carência que até então tenha sido desenvolvida pela dedicação ao trabalho.