Thadeu Malta: Fazer com dedicação
Com três décadas de rádio, Thadeu Malta diz que nunca se dedicou a algo que não acreditasse e deixa clara a certeza da profissão escolhida

Comprometimento e dedicação são termos que caracterizam as ações de Thadeu Malta, para quem todo o fazer deve vir acompanhado de um sentido e ser cumprido de forma integral. Em uma trajetória profissional de mais de três décadas, conduziu projetos que entraram para a história do rádio e, em 1993, como comunicador, atingiu um marco de audiência até hoje inalcançável na rádio Atlântida, de 92 mil ouvintes por minuto em locução individual. "Minha essência tem muito de pé no chão, penso antes de agir e não acredito em fazer por fazer", define-se.
Aos 51 anos, crê que foram justamente essas características que garantiram algumas conquistas na profissão. A história com o rádio começou desde cedo. Quando criança, acostumou-se a acompanhar o pai, que era funcionário em instituição bancária, nos plantões esportivos do fim de semana. Mais tarde, em 1982, ava os dias em estúdio de uma rádio da cidade durante as férias em Santa Catarina, quando viajava para a casa de tios. Em Porto Alegre, ou pela Rádio Sucesso antes de, a convite de um amigo, mudar-se para o município de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, para integrar a equipe de uma nova rádio local.
Ainda trabalhou na Antena 1, em Florianópolis - à época, emissora com perfil jovem -, antes de retornar ao Rio Grande do Sul, onde atuou em rádios da Grande Porto Alegre e Novo Hamburgo. Foram 12 anos no Grupo RBS, nas rádios Atlântida e 102 FM (atual Itapema), além de agens pela Pop Rock e Mix FM. Também conduziu projeto paralelo na área de produção de conteúdo, evento e gestão de carreira de bandas - foi o primeiro empresário da banda Reação em Cadeia, em 2001.
Hoje, gerente de programação da Ipanema FM, diz que sempre pensou que um dia o Grupo Bandeirantes sentiria a necessidade de tornar a emissora uma rádio competitiva, com números expressivos de audiência. Não imaginava que caberia a ele a tarefa de conduzir esse projeto. "Me sinto uma figura abençoada por, aos 30 anos de profissão, ainda receber uma missão dessas", conta. O desafio é ainda maior por tratar-se de um veículo de forte relação com ouvintes.
Feitos e acertos
A primeira experiência em cargo de gestão viveu com apenas dois anos e sete meses de profissão, no Paraná. Considera a agem por emissora no Interior uma experiência essencial a qualquer profissional, que traz como vantagem a possibilidade de trabalhar em diferentes setores. "Quando tu vem para uma oportunidade na Capital, já experimentou muito. Não me arrependo em nenhum momento da caminhada que tive que dar."
Já na década de 1990, na Atlântida, teve participação em uma série de mudanças que, em três meses, levou a rádio do 7º para o 1º lugar em audiência, no ranking geral, e meses depois assumiu a coordenação da emissora. Alguns anos depois, surgiu o Programa X, que até hoje inspira atrações do estilo talk no FM, como é o caso do próprio À La Minuta, da Rádio Ipanema. O programa, que alcançou a marca de 100 mil ouvintes por minuto, foi criado como uma espécie de prevenção à chegada ao Estado do Pânico, da Jovem Pan.
Outro feito que tem a de Thadeu é o evento que depois receberia o nome de Planeta Atlântida. Corria 1995 quando apresentou o projeto ao comitê de rádios do Grupo RBS, na época dirigido por Renato Sirotsky. Com foco nas comemorações dos 20 anos da rádio, a ideia, segundo ele, era criar algo que "pudesse entrar para o calendário da vida das pessoas". A edição de estreia aconteceria no verão do ano seguinte. "Acabou se tornando um projeto importante dentro da empresa. Ter consciência de que algo que é hoje quase de domínio público saiu daqui, numa noite de junho, é algo que me orgulho bastante", comenta.
Em 2008, já como gerente da Pop Rock, acrescentou à programação o Máquina do Cafezinho, que retomava as jornadas esportivas no FM jovem, acompanhando sempre as partidas da dupla Grenal. A primeira experiência do tipo no segmento, também por iniciativa de Thadeu, aconteceu em 1993, na Atlântida, com o programa Trocando as bolas. Apesar do desempenho positivo, o programa foi ao ar em apenas uma edição. Foi encerrado por risco de competir com as transmissões esportivas da Rádio Gaúcha.
Em setembro do ano ado, retornou à Pop Rock, de onde saíra em 2009, para assumir a coordenação do projeto da Mix FM. "Me sinto premiado quando vejo o que está acontecendo com a Mix", diz se referindo ao constante crescimento em audiência. "É uma rádio que sabe exatamente para quem ela é feita. Projeto da Mix nasceu pra ser vencedor", avalia.
Das origens
O filho de Dinora e Marcos Expedito Conde Malta - na família que se completa com os irmãos Marcos Vinicius, Maria Angélica e Ana Cláudia - deixou a cidade natal, Bagé, em 1974, quando o pai, funcionário do Banco do Brasil, foi transferido para Bento Gonçalves. O município serrano abrigou o endereço da família por três anos, antes da mudança para Porto Alegre. As tardes de cinema, quando costumava assistir a até três sessões; as idas ao centro para a compra do jornal de domingo; e os recortes de propagandas com os quais abastecia uma espécie de álbum dividem espaço entre as memórias.
Também são lembrados os fins de semana acompanhando o pai nas jornadas esportivas, e a primeira vez que teve a voz veiculada pelas ondas do rádio, em 7 de setembro de 1975, ao declamar o poema "Canção do Exílio" em coreto na praça de Bento Gonçalves. Além de base para a profissão, o período no Paraná trouxe também um amor. Foi lá que conheceu a mulher que o acompanha há quase três décadas, Rosângela, bancária e graduação em Ciências Contábeis. Do casamento, que dura há 27 anos, nasceu Maria Paula, hoje com 21 anos e estudante Engenharia de Produção na Ufrgs.
Considera-se um ritualista, porém, em alguns momentos, avesso à rotina, o que pode ser paradoxal. É comum decidir por uma viagem de última hora ao litoral, mas também aprecia cumprir certos ritos, como ao preparar o churrasco em família. Ainda alimenta o gosto pelo cinema e, para escolher o que assistir, não faz muitas restrições, basta uma boa história e um roteiro envolvente. Na TV e também na internet, as séries são as que mais agradam. Arquivo X, Twin Peaks e Breaking Bad são algumas das produções consideradas por ele como marcos no segmento.
Para seguir
A leitura tem espaço diário na rotina, ainda que se dedique menos a ela do que gostaria. Conta que, certa vez, desafiou-se a ler um livro por semana, durante um ano. A meta de 52 títulos não foi batida, mas a provocação oportunizou conhecer novas obras e reler clássicos de autores como Franz Kafka, Machado de Assis, Gabriel García Marquez e José Saramago. "Pêndulo de Foucault", do italiano Umberto Eco, e "Leite derramado", de Chico Buarque, são alguns livros finalizados recentemente. As atenções, no momento, estão com "Amor nos tempos do cólera", de García Marquez, e com "Vida", autobiografia de Keith Richards.
O hábito de escutar música, atualmente, está concentrado no trabalho, já que dificilmente ouve um disco apenas por lazer. A coleção de vinis hoje está reduzida e não dispõe de um toca-discos, enquanto a de CDs é estimada em 1,5 mil peças. De perfil eclético, cita artistas como Beto Guedes, Lô Borges, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, A Cor do Som e Ivan Lins. Entre os internacionais, Pink Floyd, Black Sabbath, Burt Bacharach, Led Zeppelin e Neil Young são alguns nomes lembrados. "Vivo num istmo entre a melodia e harmonia. Onde essas duas se completarem, é muito difícil eu não gostar", relata.
Se a carreira teve como base a palavra falada, o que considera um sonho de consumo está na escrita. A redação de textos como contos e romances é um gosto particular, que ainda pretende tornar um modo de vida. No rádio, trabalhar em um projeto jornalístico ainda é um desejo, enquanto, no plano pessoal, a intenção é viajar mais em família, pois a maior parte das viagens já feitas ocorreu a trabalho. "Viajar é algo que me agrada muito. Ninguém é imune ao aprendizado de uma viagem e isso ninguém te tira", enfatiza.
Formado em istração em Marketing pela ESPM, em 2007, ainda quer voltar à sala de aula para o Mestrado e, talvez, lecionar. "Gosto de falar e acho que me daria bem na sala de aula. De alguma forma, gostaria de ar às novas gerações um pouco da experiência que vivi", diz. Ao contar o caminho trilhado até aqui, considera-se um privilegiado por sempre ter trabalhado com projetos em que acreditasse. "Se eu fosse dos pessimistas diria que não tenho o que mudar depois de 32 anos, mas acho que o que me mantém é a crença de que ainda posso fazer a diferença."