Mário Santarosa : Economia, arte e culinária
Jornalista há quase 50 anos, Mário Santarosa descreve seus gostos pessoais e seu envolvimento com a editoria de Economia
Por Karine Viana - 30/08/2013
Nasceu em Bento Gonçalves, uma das cidades-berço da imigração italiana no Estado. Na gastronomia, como todo típico descendente de italiano, é fã de massas e não abre mão de um bom vinho. Durante a infância, não perdia uma missa dominical e chegou a ser coroinha da paróquia da cidade por influência da nona. Hoje, o jornalista de Economia Mário Santarosa afirma que há duas coisas que não fazem mais parte de seu cotidiano: beber vinho ruim e ir à missa.
Mário Santarosa beira os 50 anos de trajetória profissional no jornalismo de economia. Nascido em 1944, ingressou no mercado de trabalho justamente no período chamado de milagre brasileiro, com toda política voltada para a criação de novas empresas e instituições mais evoluídas, o que, para ele, influenciou os jornais a ampliarem as seções voltadas à editoria.
Em 2001, quando se aposentou, o jornalista chegou a trabalhar na elaboração de relatórios empresariais e a prestar assessoria de forma autônoma. Atualmente, dedica-se a atividades que, na época, não conseguia conciliar com a vida profissional. "Eu sempre fiz mais ou menos uma espécie de preparação, aquela coisa que o cara só deixa pra pensar no que irá fazer quando se aposentar", revela. Mário é fã da marcenaria, da culinária e da pesca, embora este último gosto não seja colocado em prática como gostaria por falta de parceiros.
Trajetória
Apenas um ano após chegar à Capital para ingressar na faculdade de Jornalismo, em 1964, Mário foi convidado a trabalhar no 'Diário de Notícias'. O convite partiu daquele que hoje é considerado como uma de suas referências profissionais, o jornalista e economista Ernesto Corrêa. Após quase dois anos, então jovem e na busca de novas oportunidades, seguiu para o 'Jornal do Comércio', onde trabalhou com Homero Guerreiro. "Me alfabetizei na economia e nas finanças, aprendendo no dia a dia das entrevistas e reportagens", lembra. Foram mais de 10 anos no 'Jornal do Comércio', até o início dos anos 1980.
Com o conhecimento adquirido na área, seguiu para a Assessoria de Comunicação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, o BRDE, onde coordenava o setor. Se até então já vinha aprendendo e se especializando na reportagem econômica, o local foi uma espécie de especialização na área: "Se eu tinha alguma noção da área econômica, esse foi meu doutorado". Para o jornalista, ali se encontrava a parte mais matemática do ramo, com pensamentos voltados não só aos conceitos de economia, mas também de desenvolvimento. Ainda longe das reportagens, teve uma breve agem pela Caixa Econômica Estadual, onde ficou pouco mais de um ano.
De volta à redação em meados da década de 1990, ou a escrever o Informe Econômico do 'Correio do Povo'. Foram dois anos assinando a coluna, anteriormente de autoria do jornalista Políbio Braga, que deixara o local para assessorar a Casa Civil. Com a volta de Políbio à Caldas Jr., Mário retornou às reportagens, e escreveu sobre economia por mais um ano.
No entanto, já se considerando velho para a reportagem, aceitou o desafio de chefiar a assessoria da antiga Secretaria de Indústria e Comércio. Deixou o local, mas acabou retornando na época do governo Britto. Por coisas do destino, como o próprio Mário denomina, Gilberto Mosmann, então secretário, foi diretor do BRDE. Era a segunda vez que o jornalista coordenava a comunicação do local.
Mudanças no caminho
A trajetória profissional de Mário Santarosa foi lhe apresentando mudanças ao longo de quase cinco décadas. "É como aquelas coisas que a gente vê numa certa época, que lhe deram muito prazer, mas que quando vamos ver novamente, não tem tanta graça, como um filme", sintetiza. Para ele, na sua segunda agem pelo BRDE, o lugar já não era mais o mesmo. Retornou à Caixa Estadual, onde já tinha um certo vínculo, até se aposentar, em 2001.
Outra mudança experimentada pelo jornalista foi na sua agem pelo 'Correio do Povo', onde, segundo ele, sentia-se um tanto deslocado ao se ver inserido em um ambiente bem mais jovem. "Era quase outra geração", lembra. Para Mário, as relações também estavam distintas, dificultando o diálogo, o que acredita ser cada vez mais frequente nas redações: "Parece que o pessoal mais jovem tem receio de perguntar certas coisas e o mais velho não fala porque acha que a linguagem está defasada". Ele também acredita que, com maior participação nas matérias produzidas, haveria melhor proveito para o leitor.
Definitivamente afastado das redações, continuou se dedicando a uma das editorias de que mais gostava: economia. Desta vez, executando relatórios para empresas, em uma espécie de assessoria empresarial. O jornalista acredita que, ao menos no contexto atual, seria mais difícil uma ambientação a partir de certa idade, se referindo à dificuldade que teve de sentir o mesmo prazer de quando ingressou na profissão, ainda nos anos 1960.
Tempo para outras paixões
Na infância, o filho de dona Angelina Rigon Santarosa e Ernesto Federico Santarosa costumava fazer o que mais gostava. Juntar dinheiro para embarcar em um ônibus em direção à colônia em que viviam os tios e brincar nas redondezas voltando para casa apenas para comer era praxe na época. Hoje, depois de longos anos direcionados ao trabalho, Mário Santarosa voltou a se dedicar a duas de suas paixões: a marcenaria e a culinária.
O gosto pela cozinha foi influência da mãe. "Era aquela coisa de italiano, o casal e os sete filhos reunidos, todos numa mesa, a maior peça da casa", relembra. Por outro lado, a praticidade foi inspirada na sogra, segundo ele, mais prática que dona Angelina: "Eu aprendi o gosto com a mãe e a prática com a sogra". Em casa, sua especialidade são os assados e as massas. São diversos equipamentos utilizados no preparo do macarrão. "Chego a importar máquinas", diz, hábito sobre o qual, vez ou outra, ouve a esposa indagar: "Outra máquina?".
O jornalista é casado com a artista plástica Arlete Santarosa, que trabalha com xilogravura. Juntos, têm a filha Daniela, também jornalista. Atualmente tem se dedicado ao atempo preferido, a marcenaria. Ele acredita que o gosto pelo trabalho manual e elaborado surgiu ao observar o pai, que trabalhava com pedras de forma mais requintada.
Para fazer com que a madeira ganhasse a forma desejada, Mário realizou um curso de marcenaria e hoje produz pequenas peças. "Se tiver um armário, eu posso olhar e dizer: vou fazer mais bonito. Então vou lá e faço", diverte-se. A habilidade manual é uma forma de descarregar as energias e não ficar em casa "reclamando para as paredes", como diz.
O agora
Hoje, a busca é por colocar em dia aquela leitura que havia ficado para trás ou aproveitar para viajar. Recentemente, foi convidado a participar de um tour pela região de Bordeaux, na França, onde degustou vinhos e conheceu o funcionamento de todo o preparo e escolha de ingredientes. "Eu não vou chegar a esta sofisticação", diz, se referindo ao patamar de enólogo, "mas isso possibilita uma satisfação intelectual, mais do que gastronômica".
Aos poucos, Mário foi contando as peculiaridades de sua vida. Acontecimentos e detalhes que nem ele imaginava que seriam relatados. "Já revelei coisas demais", brinca. Mas foi com entusiasmo e sorrisos que relembrou os primeiros os profissionais, os desafios, a infância e a atual rotina, agora com ar artístico e fixado aos detalhes, o que considera primordial em tudo que faz.
Apesar de ter frequentado a igreja e pertencer a uma família católica, hoje crê "num Deus que ensina o amor ao próximo". E acrescenta: "Tem duas coisas que eu já fiz demais na vida: ir à missa e tomar vinho ruim, duas coisas que não faço mais".