Roberto Bastos: Desenhar e transformar

Sócio-diretor da Sceno, Roberto Bastos acredita na capacidade do design de modificar a sociedade

Ele acredita que sucesso vem de dedicação, que é preciso gostar do que se faz, que levar a vida com bom humor é essencial, e que lamentar-se muito é perda de tempo. É com pensamentos como estes, sintetizados na frase "Work hard, have fun, no drama", que Roberto Bastos traça seu caminho. Designer gráfico e hoje sócio-diretor da Sceno, ele justifica: "Se a gente pensar assim, a vida corre mais tranquila".
Foi o encanto pela arquitetura que o direcionou até o design. Ainda aos 12 anos, acompanhou do desenvolvimento do projeto arquitetônico - feito pelo tio e arquiteto Enil Bered - à construção da casa que viria a abrigar a família. "Vi um desenho se tornar algo concreto, algo que tinha forma, a expressão gráfica de um arquiteto. Aquilo me fascinou." Filho da dona de casa Carmen e do dentista Theodoro Bastos (falecido), cresceu em Santa Maria, de onde saiu aos 18 anos para prestar vestibular na Capital.
Queria estudar Arquitetura, curso, na época, oferecido por poucas instituições de ensino, mas também tinha a pretensão de ampliar os horizontes, buscar novas oportunidades. Não imaginava que, mais tarde, retornaria à cidade natal para encontrar a verdadeira vocação. Foi durante um estágio como estudante de Engenharia Civil da PUC que soube que a UFSM oferecia o curso de Comunicação Visual, que depois viria a se chamar desenho industrial. Por meados dos anos 80, retornou a Santa Maria para descobrir a profissão que queria seguir.
De personalidade simples, se diz um cara nada sofisticado e crê que essa característica contribuiu para que encontrasse facilidade de comunicação. "Não faço diferenças, me dou bem e converso da mesma forma com todos", afirma. Bastante metódico, diz que se acostumou a pensar de forma linear e gosta de ser sistemático. "É minha mania e é algo que as pessoas também reconhecem."
Fazer e crescer
Uma gráfica foi o primeiro ambiente de trabalho, em busca da sonhada independência financeira. "Não tinha computadores pessoais, fazíamos muito a mão, era muito manual, pintava, desenhava, com caneta, régua. Fui experimentando e conhecendo os processos de produção gráfica", recorda. Durante um ano, interrompeu a faculdade para viver em Los Angeles, nos Estados Unidos, período no qual trabalhou como vendedor de flores e manobrista. "A gente tinha oportunidade de estacionar Mercedes, Ferrari, Porsche, Jaguar, até Rolls Royce, em uma época que não tinha quase carros importados no Brasil." Após um ano, as dificuldades de morar em outro país, a vontade de terminar os estudos e seguir a profissão o trouxeram de volta.
Com o diploma na mão, até tentou montar o próprio negócio, mas foi na equipe do GAD, escritório de design, que encontrou o apoio necessário para crescer profissionalmente. Lembra que, quando iniciou, em 1995, a empresa era um escritório de atuação regional, com cerca de 20 pessoas. "Saí quase 15 anos depois e já eram 200 profissionais. Pude acompanhar isso e crescer dentro dessa estrutura, em que os projetos tinham muita envergadura."
Hora de empreender
De assistente de projeto a diretor, foi lá que conheceu Fernando Franco, formado em istração de Empresas, e Gabriel Gallina, em Arquitetura. Em comum, traziam a vontade de istrar um negócio próprio. Com formações profissionais complementares e a intenção de trabalhar para os próprios interesses, fundaram, em 2009, a Sceno. Há cerca de um ano, o time de sócios ganhou mais um integrante, Reinaldo Forte.
A Sceno foi a primeira empresa brasileira a levar no nome o environmental graphic design, quando a disciplina ainda era pouco tratada no Brasil. O conceito, ele explica, integra questões de design gráfico, de produto, arquitetura, interiores, iluminação, paisagismo, na construção de um ambiente. É a convergência entre arquitetura, design e comunicação, resume. Hoje, comemora os resultados e o reconhecimento recebido em distinções como o Prêmio Bornancini, Colunistas RS e Society for Environmental Graphic Design (Segd) e revela que os sócios já trabalham no planejamento estratégico da empresa para 2019. "Fomos pioneiros no Brasil nesse tipo de trabalho. Acho que isso foi uma fórmula de sucesso, somos uma empresa pequena e atuamos em todo o Brasil."
Uma pequena sala, três profissionais, três computadores e uma dose de dedicação foram o suficiente para a Sceno começar a operar - até transformar-se em uma empresa agora consolidada no mercado. "No primeiro mês, conseguimos fechar um primeiro projeto. No segundo, vendemos mais três. O terceiro mês também foi muito bom. Depois, percebemos que precisávamos entregar os projetos. Novembro foi um desastre", recorda, ao relatar que, aos poucos, a empresa foi se estruturando. Hoje, ainda que de forma enxuta, o escritório já desenvolveu trabalhos para Petrobras, Walmart, Credicitrus, Syngenta (da Suíça), Hopi Hari, Cirella Goldsztein e Hospital Moinhos de Vento.
As raízes
De Santa Maria, Roberto guarda recordações da infância à vida de universitário. Embora a família morasse em apartamento, os tempos de menino foram vividos bastante ao ar livre, no quintal da casa dos tios, onde costumava aproveitar os dias ao lado do primo. "Tive uma infância de pátio, de subir em árvore, de brincar na terra. Minha rotina era essa. Hoje, eu vejo que meus filhos, que cresceram aqui em Porto Alegre, tiveram muito pouco essa experiência", lamenta.
O período como estudante da UFSM também foi vivido intensamente, já que Santa Maria, reconhecida por ter universitários como grande parte de população, tem uma agenda de muitas festas e encontros. "Foi uma época muito boa, mas, quando me formei, a ideia era trabalhar na minha área. Vim para Porto Alegre atrás disso." Santa Maria também rendeu um amor. Foi em um sarau que conheceu a nutricionista Regina, com quem é casado há mais de 20 anos. Do relacionamento, nasceram Mariana e Pedro, hoje com 21 e 19 anos.
Subir a Serra, viajar a Santa Maria para visitar familiares, jantar fora e ir ao cinema são algumas das atividades com as quais costuma preencher os momentos de lazer. Ainda assim, ite ser um pouco caseiro, portanto, ficar em casa, acomodar-se em uma rede e ler um livro também são atempos. Os filmes preferidos ele define como os que incomodam, que encantam, tocam a gente de alguma maneira. Dentro dessa ideia, gêneros como ação, por exemplo, geralmente são descartados. Na literatura, obras relacionadas ao design são as mais frequentes, mas a lista atual é variada e inclui os livros "O cérebro imperfeito",  "Libertando o poder criativo", "O poder do hábito", "Subliminar" e a biografia de David Bowie. O estilo musical inclui pelo rock, jazz, bossa nova e indie rock. "Cada um tem o seu momento", acredita.
Aposentadoria, não
Ajudar a construir a valorização do design enquanto atividade profissional foi a principal razão para que Roberto viesse a integrar a diretoria da Associação de Profissionais de Design do Rio Grande do Sul (apDesign), por seis anos, e, atualmente, do Sindicato das Empresas de Design (Sindesign/RS). "Acho que é importante construir um valor para a atividade, um reconhecimento junto ao mercado e à sociedade, para que as pessoas valorizem mais a profissão", argumenta.
Também foi por razão semelhante que decidiu dedicar-se à docência, primeiramente na Uniritter e hoje na ESPM. Fazer do design um meio de transformação social é, para ele, o maior desafio da profissão e esse é um ponto que costuma defender como professor. "Posso mudar a forma como as pessoas se movimentam na sociedade, o comportamento, a maneira como se comunicam. Tudo isso através do design, da comunicação visual, do design de mobiliário urbano, de edifícios, meios de transporte", crê.
Os planos para os próximos anos incluem escrever um livro, talvez um manual de prática de projetos. "Já fui organizador de dois livros de design: "Pensando design" e "Pensando design 2". Acho que é hora de sentar e registrar algumas coisas que aprendi", diz. Dedicar-se ainda mais ao futuro da Sceno, tornando-a uma marca conhecida nacional e internacionalmente, e abrir negócios paralelos também estão entre as expectativas de Roberto, que ainda quer praticar um esporte regular e cuidar um pouco mais da saúde. Aos 50 anos, ele afirma que não pensa em aposentadoria. "Não consigo entender quando algumas pessoas falam como se trabalho fosse uma coisa ruim. Venho trabalhar feliz, gosto do que faço."
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