Abelardo Marques : De repórter fotográfico a guardião do tempo
Para manter o bom-astral, ele cultiva alguns hobbies: coleciona rádios antigos, faz trabalhos em madeira e restaura velhas bicicletas
A habilidade com as mãos está entre as características mais marcantes do fotógrafo Abelardo Marques. Tanto que um de seus hobbies é realizar pequenos trabalhos em madeira, como réplicas de relógios antigos e algumas restaurações. Na dependência de empregada do apartamento, ele tem todos os apetrechos necessários, até serra elétrica tico-tico. Gosta ainda de restaurar bicicletas antigas. "Eu compro as bicicletas antigas e procuro as peças originais para ir substituindo", explica.
Apreciador de antiguidades, Abelardo é como um guardião do tempo. Ele também tem como hobby colecionar rádios antigos. São 23 exemplares. "Só não expandi minha coleção porque moro em apartamento", explica. Os mais antigos são de 1935 e 1936, ambos da marca Philco. O fotógrafo conta orgulhoso que meia dúzia destes é valvulada. Outro, da marca Spica, é o primeiro modelo portátil transistorizado comercializado no Brasil. Sempre que pode, ele vai ao Brique da Redenção e à Feira da Pulga de Montevidéu. "Gosto muito de ir ao Uruguai, mas não me contento só com a fronteira, gosto de ir a Montevidéu", revela.
Entre as suas atividades diárias, está ler jornal, sites de notícias e livros que tratem sobre os seus hobbies. Em rádio, é ouvinte de ondas curtas. Escuta noticiários internacionais, como a Rádio Canadá, a Voz da América, a BBC de Londres e a rádio estatal da Argentina. Em termos de música, gosta de tango e música tradicionalista argentina. "Gosto de bons espetáculos, em geral, de música popular com grandes orquestras e patinação no gelo", completa o fotógrafo.
A gastronomia também tem espaço garantido no dia-a-dia de Abelardo, que aprecia cozinhar frutos do mar e preparar variados tipos de tortas frias. Igualmente pesquisa, na Internet, diversas receitas, que modifica, incrementando-as. "Eu acho que as boas idéias têm que ser aproveitadas. E também acho que faço isso com muito bom-gosto, não só na área de marcenaria, como hobby, mas também na gastronomia", comenta. Nos finais de semana, quase todos, vai para Atlântida Sul com a esposa e um casal de cunhados. Caminhar e pedalar em suas bicicletas antigas são as atividades físicas que Abelardo pratica.
Educação, família e fé
Nascido
Há 31 anos é casado com Marli Marques, funcionária da Ufrgs. Juntos, eles têm dois filhos: Luiz Felipe, 30, estudante de Direito, e Silvia Alice, 27, estudante de Enfermagem. Ela mora no Rio de Janeiro e é mãe de Pedro Henrique, de dois anos. Sempre que possível, o casal vai ao Rio visitar a filha e o neto. Aos 63 anos, Abelardo tem fé. "Eu tenho a religião como um segmento importante de vida. Pra mim, uma pessoa sem religião não tem direção. Eu acho que tudo que deu certo na minha vida foi devido à fé. A pessoa que caminha com certo equilíbrio visualiza o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. E é por isso que eu me sinto feliz".
Descobrindo o mundo das imagens
O pai, percebendo que Abelardo demonstrava interesse por fotografia, presenteou o filho, na época com 20 anos, com um equipamento fotográfico completo. Assim, começou a aprender sobre fotografia e sempre comprava revistas sobre o tema. Sua preferida era a norte-americana Life. "Foi incrível a influência da revista Life, foi minha grande escola de fotojornalismo. Eu comprava todos os meses, tinha curiosidade de saber como eram feitas as fotos, guardava aquela revista e ela era vista e revista por meses. Eu estudava as fotos até saber o ângulo que foi usado, os filmes e processos fotográficos utilizados. As fotografias da Life eram simplesmente espetaculares e de altíssima qualidade", avalia, comparando a publicação à National Geographic. Abelardo conta que, desde então, nunca parou de estudar e pesquisar sobre fotografia. Até hoje, ele guarda alguns de seus exemplares e ainda compra outros, mais raros, em sebos.
Em 1967, começou a fazer trabalhos esporádicos para desenvolver o conhecimento fotográfico. No mesmo ano, teve a oportunidade de viajar aos Estados Unidos para um intercâmbio com jovens universitários de uma revista do mesmo padrão da Life. "Foi meu primeiro contato direto com laboratório fotográfico. Eu aprendi a fotografar e revelar, e fazer as provas, usando filme Tri X 400, que foi a grande revolução da fotografia jornalística nos anos
Durante os quatro anos seguintes, voltou a trabalhar em cartório, mas nunca parou de fotografar. Fazia trabalhos freelance para revistas, agências e alguns eventos sociais. Foi então que, em 1986, surgiu uma oportunidade para atuar no Teresópolis Tênis Clube. Abelardo fazia fotos de divulgação e também fotografava para o jornal dos associados. Em 1991, foi para o Grêmio Náutico Gaúcho e, em 1992, retornou ao Correio do Povo, veículo em que já vinha fazendo substituições de funcionários em férias desde 1988. Mesmo aposentado desde 2006, continuou atuando neste jornal até final de maio deste ano, quando completou 40 anos de experiência.
Realização e gratidão
"Hoje, a grande fonte de pesquisa e inspirações para fotógrafos são os bancos de imagens da Internet", considera o recém-aposentado, cujo projeto para o momento é criar um site na rede mundial de computadores. A página, que ainda não tem nome confirmado, será voltada às diversas atividades que acontecem na Capital e estará no ar até final de agosto. O fotógrafo enfatiza que não gostaria de trabalhar sozinho e deixa aberta a participação de colegas, inclusive jovens profissionais, que estão começando. "Não é um projeto audacioso, é um projeto simples. Deus queira que evolua, cresça e que possa ser útil, também, às pessoas que queiram participar", planeja.
Olhando para trás, reconhece que encontrou algumas dificuldades no começo da carreira. "Mas eu sempre fui muito controlador de situações. Mesmo lidando com pessoas difíceis no trabalho, eu sempre soube superar situações", garante. "A minha vida profissional foi muito boa, muito boa mesmo. Eu agradeço a todos que, de uma maneira ou de outra, colaboraram comigo e sempre me estenderam a mão. Eu sempre fui uma pessoa de muita sorte, não só profissionalmente, como em toda minha vida. Eu acho que o bom-astral que eu tenho, eu devo à sorte que sempre tive. Eu me sinto feliz, me sinto uma pessoa altamente realizada", afirma.
Ele destaca que no Correio do Povo, mesmo tendo atuado sob a gestão de três proprietários - Breno Caldas, Renato Ribeiro e Rede Record - sente-se imensamente satisfeito com as oportunidades que teve. "Apesar dos altos e baixos pelos quais a Caldas Junior ou, eu tenho muito a agradecer aos meus empregadores, porque me sinto realizado com a minha profissão", completa. Atualmente, mesmo aposentado, procura estar sempre atualizado no mundo da fotografia. E não perdeu o contato com a área, já que, dos 16 anos em que atuou no Correio do Povo, os últimos 13 foram, entre outras atividades, acompanhando o colunista social Eduardo Conil em festas e eventos. "Foi um dos melhores colegas que já tive, pela sua excelente conduta e pela ética profissional por que ele prima. É uma pessoa espetacular para trabalhar", faz questão de salientar.
