Ataídes Miranda: De corpo e alma, rádio
O jornalista acredita que trabalho e dedicação são indispensáveis para a conquista do reconhecimento
Uma forte lembrança da infância de Ataídes Miranda, gerente de Jornalismo da Rádio Guaíba, é que o rádio sempre foi seu veículo preferido. "Desde criança, lá pelos 12 anos de idade, eu já gostava de ouvir rádio. Mas não música, gostava de ouvir programas de entrevistas e notícias mesmo. Então, desde pequeno, eu já tinha essa vontade de trabalhar em rádio", lembra, explicando sobre a escolha pelo jornalismo. Ele conta que, nas festas realizadas no Interior, já ficava por perto do serviço de alto-falante para ter a oportunidade de ajudar.
Na verdade, o jornalista fez o caminho inverso da maioria dos profissionais de mídia eletrônica. Começou em televisão para só depois alcançar um objetivo estabelecido há muitos anos: atuar em rádio.
Ataídes Leandro Miranda da Silva nasceu em 3 de setembro de 1955, em Arroio dos Ratos. Veio para Porto Alegre com 17 anos para trabalhar e estudar. Ainda no Interior, seu primeiro emprego foi como assistente de farmácia no hospital da cidade. Chegando na capital gaúcha, começou trabalhando à noite, no serviço de compensação de cheques do extinto Banco de Crédito Real. Pela manhã, fazia curso pré-vestibular. Logo, foi aprovado para Letras e Tradutor Intérprete Português - Francês da PUC, mas cursou durante apenas um ano, quando resolveu pedir transferência para o Jornalismo.
TV, assessoria e rádio
A primeira experiência na área de comunicação foi no último semestre da faculdade, com estágio na TV Gaúcha. "Eu ficava uma semana fazendo reportagem e outra fazendo rádio-escuta", lembra. Formou-se em 1979 e, no início do ano seguinte, foi contratado como repórter. Ficou até 1986, quando foi convidado a participar de um novo projeto da TV Pampa: a estreia do Jornal Meridional, que durou menos de um ano.
Logo, surgiu uma oportunidade na Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde do Governo do Estado, onde começou atendendo principalmente às emissoras de rádio e TV. Em seguida, assumiu a chefia do setor até o final de 1990, quando deixou de ser chefe em função da troca de governo, dando continuidade às mesmas atividades que desenvolvia anteriormente até 1994.
Nesse meio-tempo, em 1991, como trabalhava só um turno no Estado, ingressou na Rádio Guaíba como setorista de Política. Ele, que já na infância gostava de política e de acompanhar eleições e as movimentações dos partidos, começava a alcançar seu objetivo profissional. "Eram duas coisas que eu gostava: de rádio e de política. Então, foram os melhores momentos da minha carreira. Juntar as duas coisas foi o que me deu mais satisfação", destaca.
Em 1995, deixou a Secretaria para trabalhar na TVE como chefe de reportagem, ao mesmo tempo em que continuou na rádio.
Uma grande paixão
"ei trabalho para fazer as primeiras reportagens. Apanhei bastante até me tornar um bom profissional. Àquela época, não tínhamos as facilidades que temos hoje em termos de equipamentos", exemplifica, referindo-se às dificuldades encontradas no começo da carreira. Tanto em rádio quanto em televisão, Ataídes destaca, para quem está começando, o esforço em aprender certas coisas na prática e, muitas vezes, até mesmo errando.
A dedicação integral à sua grande paixão, o rádio, veio em 1999, quando deixou a emissora educativa para atuar somente na Guaíba. E o reconhecimento foi chegando naturalmente: num primeiro momento, ou a apresentar o programa A Hora e a Vez, em substituições temporárias ao comandante Mendes Ribeiro, além de continuar fazendo reportagens políticas; no ano seguinte, assumia como chefe de Reportagem até abril de 2008, quando foi convidado a ser gerente de Jornalismo.
Na vida profissional, o projeto do momento é implantar o jornalismo durante a madrugada na Rádio Guaíba, além de ampliar programas, preparar grandes coberturas e projetos especiais. Atualmente, além da jornada de cerca de 12 horas de trabalho por dia, aos 53 anos ainda encontra tempo para exercer a função de síndico do prédio onde mora, sozinho, no centro de Porto Alegre.
Jornalista estradeiro
Solteiro e sem filhos, a dedicação à família é notável. Quase todos os domingos visita mãe, irmã, cunhado e sobrinhos em Arroio dos Ratos. "Sempre que dá, eu vou. É pertinho?", explica. Juntos também, vão pra praia, onde am bons momentos durante os quais Ataídes faz questão de ser o cozinheiro. "Sou mais da cozinha campeira: fazer churrasco, preparar carne de ovelha?", descreve. Carreteiro de charque e panqueca também são suas especialidades.
"Eu gosto é de estrada. Todo fim de semana ou sempre que dá, eu vou pra Serra, pro Litoral, pro Interior ou pra Fronteira", conta. Viagens mais longas também sempre fazem parte do roteiro de férias do jornalista. Ataídes, que entre os países da Europa só esteve na Alemanha, pretende conhecer ainda Portugal, Espanha e Itália.
Diariamente, a leitura é uma companheira inseparável, seja revista, jornal e Internet. Entre as atividades culturais, aprecia o teatro - apesar de pouco frequentar - e cinema europeu. "Não sou chegado nas produções hollywoodianas", ressalta. Drama, comédia, romance e documentários são os gêneros preferidos. Em música, é bastante eclético. Gosta de quase tudo, incluindo música erudita e orquestrada, menos pagode - com exceção de Zeca Pagodinho.
Turismo e hotelaria é uma área que chama a atenção de Ataídes: se não fosse jornalista, atuaria neste ramo. "Eu me dedicaria com muito gosto, se não estivesse envolvido com o jornalismo", acredita.
Valores e missão
"Sem dúvida, me sinto realizado. À medida que a gente está fazendo o que gosta e vai tornando realidade as utopias?", reflete. Para isso, caráter, honestidade, amizade e humildade são alguns dos valores que acompanham Ataídes, além da fé.
"Eu creio em Deus, eu rezo, eu acredito realmente. Sou cristão, a minha família é toda metodista", conta, deixando claro que há muitos anos não frequenta, mas que aprendeu a pedir por tudo aquilo que quer e agradecer, também.
O jornalista, que repudia a vaidade, acredita que o segredo do sucesso é trabalho e dedicação. "Trabalhar e te dedicar ao teu projeto, àquilo que tu acredita, e apostar nisso. Porque se tu trabalhar naquilo que tu gosta e que tu acredita, com dedicação e responsabilidade, pode ter certeza que tu vai alcançar o reconhecimento."
"A minha filosofia de vida é no sentido de ajudar a construir alguma coisa não só para os meus, mas para, pelo menos, uma fatia da sociedade. Deixar, fazer algo que possa contribuir para o coletivo", ensina, destacando umas das missões do jornalismo, que é ser uma voz em nome de um grupo de pessoas.
