Luciane Liberman: Coração no trabalho

Quando era criança, a relações-públicas já gostava de organizar e comandar festas de aniversário e chás de fraldas da família

Primeira estagiária a ser efetivada na história da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul - Federasul. Foi assim, em 1992, que começou a trajetória profissional da relações-públicas Luciane Brentano Pacheco Liberman. Determinada e persistente, aos 37 anos, ela gosta mesmo é de trabalhar em um ambiente com clima agradável, de preferência perto da família, e de estar em contato com a natureza sempre que possível.


Natural de Esteio e a primeira de cinco irmãos, sempre teve que lidar com muitas pessoas em sua infância, o que lhe deu o gosto pela comunicação. De família humilde - o pai trabalhava como distribuidor de cargas e a mãe era industriária -, Luciane sempre colocou seu trabalho em primeiro lugar. Quando pequena, adorava fazer as distribuições de tarefas e coordenar as festas da família. Mandava os primos mais fortes encherem os balões e as tias fazerem a comida. Foi então que começou a nascer a futura empreendedora.


Calma e de bem com a vida


Capricorniana com ascendente em gêmeos, Luciane se define como uma mistura de pessoa teimosa, que faz tudo ao mesmo tempo, organizada e "certinha demais". Se não fosse relações-públicas seria psicóloga ou lidaria com o mundo da moda. Sempre gostou de filmes com a atriz Audrey Hepburn, a quem considera "superelegante e estilosa".


Uma de suas manias é escrever. Gosta da escrita de Martha Medeiros, por isso, tenta, em seus textos, chegar ao máximo perto dos da escritora. Um arquivo em casa guarda as crônicas que fez e Luciane pensa em, talvez um dia, tirá-los de lá para, quem sabe, publicá-los. Aniversário na família, a escritora se solta. Como se expressa melhor com as palavras do que com a fala, adora escrever sobre o aniversariante.


Há 15 anos conheceu o de empresas Vitor Liberman, nas reuniões-almoço da Federasul, onde ava maior parte de seu tempo. Com ele casou-se há oito anos. Sua única filha, hoje com 10 anos, é a empresa Cem Cerimônia Eventos. Um filho de verdade, ela pretende ter nos próximos três anos, porque, como ela mesma, diz "tem que ser antes dos 40" .


No início da carreira sofria muito com a ansiedade. Sentia dores no corpo pelo fato de estar sempre preocupada com os eventos. O tempo ou, e hoje ela consegue istrar tudo muito bem. Com celular sempre ligado e notebook por perto, Luciane não se desliga do mundo e de sua empresa. "Depois que tu tens uma empresa, é o mesmo que tu ter um filho. Não consegue te desligar totalmente".


Trabalho: o núcleo da vida


Sempre com muita afinidade com a comunicação, Luciane teve que optar por um curso superior no fim do Ensino Médio. Ficou em dúvida na hora de escolher entre Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas. Decidiu pela última opção, pelo fato de a área lidar com todos os elementos da comunicação que ela gostava. "Um grande leque de diversidades, que lida com diversos públicos. Isso é Relações Públicas, é bem por aí que eu queria ir."


Em 1992, com 21 anos, ingressou na Unisinos, e, acompanhada da mãe por não saber andar no Centro de Porto Alegre, Luciane fez uma entrevista para estágio na Federasul. Assim que conquistou a vaga, ficou um tanto decepcionada com seu diretor por ter-lhe dito que aquele emprego era só um degrau em sua vida, pois a empresa não efetivava estagiários. Logo no inicio, começou a fazer eventos, que hoje são as reuniões-almoço do Tá na Mesa.


O diretor estava enganado: destacada pela persistência e por não desistir tão fácil das coisas, a relações-públicas virou funcionária, se tornando a primeira estagiária a ser efetivada na história da Federasul. "Quando fui minha carteira, a pessoa responsável ainda me disse: tu és a primeira estagiária que a gente assina carteira, sabia?".


Com duas colegas da assessoria de relações-públicas da Federação, Luciane deixou seu instinto empreendedor se soltar e abriu a empresa Eventos & Companhia. Como nunca se adaptou à ideia de ter um chefe e bater corretamente o cartão-ponto, para ela esta era a melhor saída. A empresa prestava serviços para entidades como Gerdau e, também, para a Federasul, que terceirizou a área de RP.


Com sede na Rua Felipe Nery, a empresa foi se desenvolvendo. Luciane adquiriu experiência, mas, em 1996, quando estava se formando, sentiu que era hora de parar. "Estávamos indo bem, mas eu estava vendo que o negócio não era só meu. Tínhamos linhas de pensamento diferentes. Aí eu saí com uma mão na frente outra atrás." A partir daí, com 26 anos, Luciane teve que começar do zero novamente. Cerimonial e Protocolo era a área que ela mais se identificava, e foi nessa opção que apostou.


O início de um sonho


Sozinha, Luciane foi contratada para terceirizar serviços para a Federasul novamente. Começou a conhecer pessoas do meio e foi sendo contratada por outras empresas para trabalhar, paralelamente, nos cerimoniais. Em 1998, foi chamada para criar a área de Cerimonial e Protocolo do Ministério Público, que na época estava começando como instituição.


Seu horário no órgão era das 9h às 18h. Antes de ir para lá e depois que saía, cuidava de sua empresa, montada na própria casa, e que só tinha ela como funcionária. Depois de um ano, viu que queria mesmo era empreender e acabou saindo do Ministério Público para se dedicar especialmente à empresa, que ainda não tinha nem um nome de fantasia. "Sempre tive perfil empreendedor. Este é o meu jeito de trabalhar. Nunca precisei que alguém ficasse me dizendo o que fazer".


Aí começou a se firmar a empresa que viria a se chamar Cem Cerimônia. A irmã Rosane Brentano Pacheco, formada em istração de empresas, que era sua sócia desde pequena em roupas e mamadeiras, desta vez virou sócia nos negócios. "Somos melhores amigas, melhores comadres, melhores inimigas, melhores tudo."


Sem dinheiro para contratar funcionários, a empresa era constituída pelas duas irmãs e por estagiários. O quadro de funcionários foi aumentando e logo mais um sócio se integrou à equipe: o seu marido Vitor Liberman. Após ar por três sedes, a Cem Cerimônia se instalou em uma casa na Rua Benjamin Constant, com mais salas, pátio para os funcionários, refeitório e um lugar ao ar livre para sua cachorrinha da raça Pug, Nina, de oito meses, que lhe acompanha todos os dias no serviço.


Atualmente, a empresa possui uma equipe de oito pessoas que produzem em média 60 eventos por ano. Para Luciane, sua equipe é uma família e ela gosta de dizer que, em vez de funcionários, tem colegas. E antes de qualquer coisa, ela preza pelo bom trabalho de cada um e o quanto estão se sentindo bem e independentes no ambiente de serviço.


Para aliviar o estresse


Filmes épicos conquistam Luciane. Adora filmes com o exército em batalha. Como ela diz: fica "arrepiada" só de ver um general puxar todo o grupo, gritando rumo à guerra, como faz Mel Gibson no filme Coração Valente. "Não que eu goste de violência. Mas aquela coisa de vamos lá, aquela motivação de todos, é muito bom."


Um bom livro não falta em sua bolsa. Gosta sempre de ler os que acrescentam algo no seu meio de trabalho. "A arte da Guerra" foi um dos que mais a ajudou, pois traça estratégias de guerra, as quais a relações-públicas utiliza para lidar com o trabalho e com a família. "Meu jeito de fazer negócio", de Anita Roddick, conta a história da escritora diante do empreendedorismo  e serviu como aprendizagem na carreira de Luciane.


Steve Jobs, fundador da Apple Computer, é o seu ídolo nos negócios. Para ela, Jobs se destaca pela criatividade e a facilidade que teve para consagrar a empresa novamente, mesmo depois de ter sido retirado dela em 1985. Na música seus exemplos são Chico Buarque, Caetano Veloso, Lenine e Zeca Baleiro. Internacionalmente, a "doidinha" Amy Winehouse e o "charmoso" David Bowie, segundo ela mesma, são os cantores que mais chamam a atenção.


Com um dia-a-dia agitado devido aos eventos, Luciane foge do estresse e coloca as ideias em ordem diante da natureza. Montanhismo, pilates e ginástica são alguns dos esportes que contribuem para trazer um pouco de calma. "Não consigo ficar parada. Praticando algum esporte, tenho tempo para me reorganizar e poder voltar para a gincana que é a vida de eventos".


Para caminhar, tem como o melhor lugar a praia, pois assim ela entra em contato com o mar, o que lhe traz mais energia. Se não consegue ir ao litoral, eia com a Nina, no Parcão, na Redenção ou na Usina do Gasômetro. Quando vai praticar montanhismo, junta alguns amigos e foge para um sítio no interior ou para o Ginásio de Esteio, onde tem uma parede para praticar o esporte.


Exemplo da família


Foi a primeira a completar o ensino superior na família. A partir daí, sua responsabilidade aumentou, o que lhe trouxe a tão citada persistência para terminar tudo o que começa na vida. O maior elogio que Luciane Liberman já ganhou ou pode ganhar de alguém é quando uma de suas irmãs, primas ou sobrinhas dizem que se espelharam nela para alguma coisa.


Luciane não quer ser o ponto de partida de ninguém e assegura que está longe de ser a "certinha da família", mas fica muito feliz quando vê que as jovens sobrinhas se balizam por ela e optam por seguir o caminho vencedor de uma pessoa que batalhou por um espacinho desde o início. "De certa forma, eu sei que eu tenho esta responsabilidade e eu me esforço bastante para não decepcioná-las", diz, um pouco apreensiva, mas feliz.

Imagem

Comments