Carlos Guilherme Ferreira: múltiplo por nomes, inteiro por essência

Jornalista, empreendedor, pai, zagueiro nas horas vagas - ele acumula nomes e papéis, mas se revela inteiro em cada história que vive e escolhe contar

Carlos Guilherme é sócio da Padrinho Conteúdo há 11 anos - Crédito: Pedro Piegas / Divulgação

É Carlos. É Guilherme. É Ferreira. Carlos Guilherme Diehl Ferreira atende por qualquer chamado. Em Venâncio Aires, onde ou a infância ao lado da mãe Mariângela, do pai Moacir e dos irmãos, ele sempre foi Guilherme. Quando decidiu morar em Porto Alegre e ingressou na Famecos, virou Carlos - a turma já tinha outros três Guilhermes. Ferreira ou a ser quando virou repórter do Grupo RBS.

Para cada fase da vida, um nome. Sempre a mesma pessoa: que valoriza os momentos em família, um profissional dedicado, curioso e comprometido. Assim Carlos Guilherme Ferreira foi constituído: da infância livre em Venâncio à liderança empreendedora na comunicação. Gentil, preza pelas boas relações - e, graças a elas e à sua obstinação, tem muitas histórias. Daquelas boas, que só um jornalista com faro aguçado carrega no repertório. 

Guilherme - infância, origens e afetos

Nasceu em 7 de maio de 1981, em Venâncio Aires, cidade que não só visita com frequência, como acompanha pelas redes sociais e portais de notícias. De lá, levou consigo o hábito de tomar chimarrão - o que faz primeiro ao acordar. Permaneceram as lembranças de um menino que brincava na rua até escurecer, nas intermináveis partidas de futebol, andando de bicicleta, jogando conversa fora com vizinhos e amigos do colégio. Dentro dele, ficou a memória de uma infância vivida com liberdade, leveza e autonomia.

Apreciador de bacalhau às natas e de um churrasco mal ado, não abre mão do bife à milanesa alto e suculento, do arroz com feijão e da salada de batata preparados pela mãe - que ainda garante a sobremesa preferida do filho mais velho: o pavê. Reunir a família rende sempre momentos especiais, seja em Venâncio Aires ou em Capão da Canoa, onde os pais adquiriram recentemente uma casa. É lá que os cinco netos constroem suas memórias afetivas e onde a família celebra a convivência.

No Natal o ponto de encontro é, invariavelmente, Venâncio Aires. Os adultos estão sempre às voltas com os pequenos. Em um desses Natais, o avô resolveu surpreender e chamou um Papai Noel. A surpresa foi dupla: o bom velhinho era ninguém menos que Gilmar, professor de inglês de Guilherme dos sete aos 16 anos. "Ele ficou muito emocionado. Dava para ver no rosto dele. Eu escrevi a matéria sozinho. Não precisei de ajuda nenhuma. Fazia anos que não nos víamos e eu pude contar isso para ele pessoalmente", recorda-se, com orgulho, sobre a reportagem que mostrou a ele naquela noite mágica.

Ferreira - curioso, dedicado e determinado

Formado em Jornalismo pela Famecos, em 2003, iniciou sua trajetória com estágios nos jornais de sua cidade natal e no Sport Club Internacional. Logo após a formatura, trabalhou seis meses no jornal O Sul, até ser um dos desligados numa leva de demissão. Foi em Santa Maria, sob a mentoria de Nilson Vargas, que encontrou direção e propósito. A partir dali, ou por diversas redações e cargos - do Diário de Santa Maria à Zero Hora -, cobrindo esportes, sustentabilidade e editorias gerais, sempre com dedicação e detalhismo.

O reencontro com o ex-professor de Inglês não foi um episódio isolado. A fluência em inglês rendeu a Ferreira um furo nacional. Bastou ouvir um "duvido" de um colega de redação para entrar em ação. Era o ano em que se especulava a volta de Ronaldinho Gaúcho ao Grêmio. Ferreira acionou um amigo que morava na Itália, conseguiu o telefone do vice-presidente da Internazionale de Milão, Adriano Galliani, e, sem saber italiano, decorou algumas frases para se apresentar. Perguntou, então, se poderiam seguir em inglês.

Ao questionar o presidente se Ronaldinho seguiria no clube, ouviu que sua fonte não poderia comentar o assunto. Mas Ferreira, com sua gentileza e perseverança, conduziu a conversa até ouvir o que ninguém ainda tinha conseguido extrair do clube italiano: "Ele fica".

Carlos - da reportagem ao empreendedorismo

Em 2014, viu a vida profissional dar um salto, ou melhor, fez acontecer. Mas não sozinho. Para sair das redações e decidir empreender o próprio negócio, ele contou com a ajuda da ex-colega de redação do Diário de Santa Maria, Alexandra Zanela. E foi desta amizade que surgiu a Padrinho Conteúdo. "As pessoas diziam que nós éramos loucos por sairmos de redações e termos nosso próprio negócio." Hoje, ele pondera que não estavam totalmente erradas. "Mas a gente se esforçou muito. Sempre fomos muito dedicados! Temos que ter capacidade e conhecimento técnico, esforço, dedicação e responsabilidade para trabalhar", complementou. 

O que começou como um projeto discreto virou uma agência sólida e reconhecida, com foco em conteúdo estratégico para marcas. O início foi desafiador, sem investimentos externos e com muito trabalho. Hoje, a agência se prepara para mudar de sede para um espaço três vezes maior (atenção, isso é um spoiler!), reflexo do crescimento e da consistência do trabalho da equipe.

Dizem que a primeira pauta a gente nunca esquece e Carlos é prova disso ao recordar o primeiro negócio fechado na Padrinho, ocorrido quase de maneira intuitiva.  Era janeiro de 2014, e Carlos escutava as notícias na rádio - como faz todas as manhãs - quando ouviu que a seleção equatoriana ficaria hospedada no hotel Vila Ventura, em Viamão, durante a Copa do Mundo. Foi o suficiente para procurar o contato da redação do jornal El Comercio, do Equador, se apresentar por e-mail e sugerir uma pauta. A matéria foi feita por ele e por Alexandra. Detalhe: com apoio de um tradutor convocado especialmente para a ocasião, já que não dominavam o espanhol. 

Foi a experiência na Padrinho que fez o jornalista perceber que tinha faro para os negócios. Em 2019, fez um MBA em Gestão Estratégicas de Negócios pela ESPM. A decisão de investir em qualificação dentro da própria empresa marcou um divisor de águas na trajetória de Ferreira. Embora tivesse a opção de seguir pela área da comunicação, ele ponderou com cuidado e apostou em um caminho que lhe proporcionasse um entendimento mais aprofundado sobre negócios - um conhecimento que tem buscado aplicar com intensidade na Padrinho. 

A escolha não apenas ampliou sua visão estratégica como também o fez sentir-se mais preparado para os desafios atuais. O processo trouxe contribuições reais à sua atuação, fortalecendo a forma como enxerga e se posiciona no ambiente corporativo.

Mesmo quando o assunto não são os negócios, a pauta parece enveredar por esse caminho. No meio da entrevista, Carlos respondeu que, durante seu tempo livre, gosta de jogar no computador. Era hora de falar sobre seus hobbies - mas não é que ele conseguiu um cliente jogando? Mais uma história que não poderia ficar de fora. E foi assim: enquanto se divertia no Football Manager, notou uma placa de publicidade do próprio jogo durante uma partida. 

Curioso, fechou o game, ou o site oficial e enviou um e-mail. "Hoje não faria isso, nosso escopo de clientes é outro", pondera. Mas, naquele dia, deu um chute improvável - e acertou em cheio. A resposta veio da Inglaterra. Golaço de zagueiro, daqueles raros, mas que ficam pra sempre na memória.

Um ano e quatro meses depois, a Padrinho já estava à frente da campanha de lançamento da SEGA no Brasil, com conteúdo voltado ao público brasileiro nas redes sociais. A parceria ainda rendeu um webdocumentário recheado de boas histórias, como a de Tiago Gomes, técnico do São José e auxiliar de Falcão no Sport Recife, que mudou o rumo de uma partida com uma substituição inspirada em suas táticas no jogo virtual. 

Um lance ousado, quase improvável, que fez a partida virar. Assim como Carlos, que soube transformar um atempo em oportunidade - e um e-mail despretensioso em golaço de placa.

Três nomes em um 

Casado com Angela Chagas, jornalista, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora e pesquisadora de pós-doutorado UFRGS, se conheceram em 2012, mas, curiosamente, o destino já havia dado sinais dessa união muito antes. O encontro deles foi possível graças à Alexandra, sua sócia. "Foi ela quem nos apresentou", conta Carlos, sorrindo ao lembrar o início do relacionamento. Na época, Ângela trabalhava no jornal Terra com Alexandra, e foi durante um aniversário da amiga que os dois se encontraram pela primeira vez. Logo começaram a se ver com mais frequência, e, poucos meses depois, estavam juntos. O que parecia um encontro casual virou uma parceria que, hoje, soma nove anos de casamento. 

A união deles é uma mistura de carinho, iração e muitas histórias que se entrelaçam entre o pessoal e o profissional. Uma verdadeira parceria que, como eles mesmos dizem, se fortaleceu e amadureceu ao longo dos anos, com o apoio e respeito mútuo sendo o alicerce de tudo. Principalmente depois do nascimento de Anita, de 4 anos. Aliás, não tem jornalista, zagueiro ou empreendedor que mereça papel maior e de mais destaque do que ser pai. 

A paternidade é um dos papéis mais importantes da vida dele - participa ativamente da rotina da filha e valoriza os pequenos momentos do dia a dia. Desde as madrugadas quando ainda bebê acordava, era Carlos quem primeiramente ia tentar acalmar a filha, algumas vezes funcionava, outras tinha que chamar a companheira para saciar a fome da pequena. 

Até hoje, um compromisso quase inadiável na agenda é levar e buscar Anita da escola. O dia não termina sem uma ou algumas partidas do jogo de memória, que ele invariavelmente perde. "Eu não dou chance para ela ganhar. Ela é boa mesmo, vence quase todas", diz orgulhoso. Colorado, ele também já levou a filha para o Beira-Rio, o que pretende fazer mais vezes, já que em suas lembranças de infância também estão as idas ao estádio para ver o Guarani, de Venâncio Aires, em campo. 

Nos últimos dois anos, Carlos incorporou um novo hábito à rotina: a corrida. Começou como uma recomendação médica, após exames indicarem um leve aumento nos níveis de açúcar. Hoje, virou prática regular - duas a três vezes por semana, ele calça o tênis e percorre de cinco a seis quilômetros, sem seguir planilhas nem orientação profissional, apenas no próprio ritmo. 

Além disso, cultiva outros momentos de pausa: gosta de ler, especialmente biografias, mas reconhece que, nos últimos tempos, tem consumido mais séries - uma mudança no jeito de relaxar que acompanha o próprio ritmo da vida. 'Dark', 'The Americans' e '1923' estão entre as favoritas, assim como a série sobre Fórmula 1, esporte que ele acompanha com interesse. Também é fã de podcasts, especialmente os de notícias, que ajudam a manter a curiosidade sempre afiada. Entre uma corrida e outra, ou no caminho para algum compromisso, é assim que Carlos se informa, se inspira e se reconecta consigo mesmo. 

E, se a trilha sonora da vida de Carlos fosse escolhida por ele mesmo, certamente viria embalada por bandas como The Rolling Stones, Drugs, The Killers e o eterno David Bowie - de quem, aliás, ele gostaria muito de ter assistido a um show ao vivo. Rock clássico com personalidade.

Jeito de ser e planos

Carlos se define como uma pessoa determinada, leal e extremamente responsável. Acredita que é preciso dormir com a consciência tranquila de ter feito o que deveria ser feito. É pragmático, respeita diferentes crenças e valoriza a ética em tudo o que faz. 

Carlos carrega consigo um senso de iração profundo pelas pessoas que o cercam - aquelas que, de formas diferentes, o moldaram e o movem. Reflete com carinho sobre seus pais, que, com uma trajetória construída no trabalho bem-feito e no cuidado com a família, lhe ensinaram valores essenciais. 

A esposa, Ângela, é inspiração diária: "Eu queria olhar para a pessoa ao meu lado e sentir que ela me traz algo, que é melhor do que eu em muitas coisas, que me puxa para frente." Alexandra, sócia e amiga, é outra presença fundamental - "foi ela quem me ensinou a olhar para as coisas de forma diferente, a reconhecer e repensar preconceitos". Referências profissionais também ocupam um espaço importante: Nilson Vargas, o jornalista Carlos Wagner, Iara Lemos são nomes que, com seus exemplos, ajudaram a construir a visão de mundo e de jornalismo que ele leva consigo.

Seu sonho para o futuro? Continuar à frente da Padrinho, empreendendo, criando e liderando. E, quem sabe, tendo um pouco mais de tempo para viajar e sonhar. 

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