Gilson Storck: Atendimento hiperativo

Gilson Storck começou a trabalhar muito cedo e ainda jovem já ocupava um cargo importante dentro de uma agência de publicidade…

Gilson Storck começou a trabalhar muito cedo e ainda jovem já ocupava um cargo importante dentro de uma agência de publicidade. Na época, preferia omitir a idade, temendo não receber o mesmo respeito por ser "muito novo". Até hoje, é difícil descobrirmos sua data de nascimento: "Não falo nunca, então, às vezes, nem lembro", brinca. Mas basta uma insistência para revelar ter nascido a 20 de agosto de 1967, na capital gaúcha, uma informação cada vez mais rara, já que agora ele omite justamente pelas razões contrárias?

Ainda no segundo grau, começou a organizar festas com amigos. A influência empreendedora vinha da família, seus pais levavam várias atividades ao mesmo tempo. "Eram trocentas coisas. Meu pai ia desde músico profissional até dono de locadora de carros, garagem e oficina mecânica. Paralelamente, tinha ainda outros negócios, que envolviam toda a família", lembra. Mais tarde, entrou para o Grêmio Estudantil do Colégio São João e assumiu a área de eventos, organizava campeonatos, festivais e bailes, começando a ter uma noção de sua verdadeira vocação.

A dúvida só surgiu devido a um teste vocacional, aos 16 anos - "até hoje, acho que estava errado" -, que indicava duas possibilidades igualmente fortes: as áreas de Biologia e Comunicação. Gilson pensou em Medicina, mas ponderou que era muito difícil e "chato pra caramba". Mesmo sem muito compromisso com o futuro, ele queria dar certo. "Tive aquela formação clássica, em que os pais não deixam faltar nada, dão todas as condições, muito apoio, muito amor, mas há também muita cobrança, exigem muita contrapartida. Então, criei uma certa disciplina, porque minha mãe cobrava, queria que eu me desse bem", explica.

Só pai, mesmo!
As experiências nos negócios familiares e no colégio fizeram com que o jovem aprendesse a conviver com o ambiente de trabalho e começasse a gostar da área de vendas. Quando optou por Comunicação, ficou entre Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. "Não tinha a menor idéia de que Comunicação poderia ser uma ciência, achava que era um bando de malucos, mas gostava dessa coisa mais subjetiva", conta. Gilson começou a ler sobre as duas profissões, para entender o que eram as atividades, e conversar com quem já estudava na área. Decidido pela Publicidade, fez vestibular na Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Ele guarda boas lembranças do período de faculdade, pois, embora fosse o primeiro ano em que as turmas de cada curso de Comunicação eram separadas, o vestibular era um só, e a grande maioria optava pelo Jornalismo.

A turma de Publicidade era muito pequena, o que permitia uma troca entre alunos e professores. "Isso foi legal, não era aquela aula tradicional com o professor falando para 40 alunos. Todo o curso foi muito falado, com seminários, muito debate", recorda. Mas havia o outro lado: "Aquele velho problema da Ufrgs, os horários. É um desastre!". Como ficava impossível conciliar seus horários com um estágio na área, Gilson continuou trabalhando com a família, fazendo de tudo um pouco, até ser motorista. "Precisava de um emprego com horário bem flexível. Só trabalhando com o pai, mesmo!", pondera.

Dicas de estagiário
Cerca de um ano depois, Gilson achou que deveria começar a atuar na sua área. "Já tinha uma certa renda e se não fizesse naquele momento, não faria nunca", avalia. Na época, o pai de sua namorada era cliente da Artefacto e ele começou a estagiar na agência através da "famosa indicação", em meados da década de 1980. "Também foi o único lugar que aceitou um estagiário com os turnos completamente quebrados", diz. Gilson entrou para atuar no Centro de Informações, fazendo, sozinho, um serviço de clipagem amplo e totalmente manual, até conseguir regular seus horários. Então, desse setor ou para tráfego, depois produção gráfica, produção eletrônica, mídia, atendimento? No início de 1987, estava superfeliz com o estágio, mas a agência começava a ar por dificuldades e o dispensou.

"Me cortaram e eu já tinha pegado gosto pela coisa. Meu mundo caiu?", lembra. "Então, cometi o mesmo erro de vários estagiários - tô me sentido um tio, dando dicas - de achar que vale qualquer coisa para não ficar parado", diz, advertindo os futuros colegas: "Caí em duas agências, via cartaz de faculdade, que pediam estagiário para atendimento, mas na verdade era para sair pela rua procurando clientes". Na primeira, ficou um dia e meio e, na outra, uma manhã, porque o que Gilson queria era conviver com publicitários e aprender a profissão, com orientação.

18 anos de casa
Não demorou a encontrar o trabalho certo. Seu professor Norton Flores o convidou para atuar numa agência que estava chegando ao mercado: a SLM. O trabalho envolvia um misto de produção gráfica, RTVC, mídia, atendimento?, enfim, tudo, pois a agência estava apenas começando e ainda nem tinha clientes. "A SLM surgia muito promissora, com acolhimento do mercado, pela proposta, pela história dos sócios", recorda. Ele já chegou contratado, em agosto de 1987, e teve a oportunidade de acompanhar todo o processo de criação da própria agência.

Em pouco tempo, outro professor, Dado Schneider, notou a aptidão do aluno para o atendimento e começou a incentivá-lo. A agência ia crescendo e contratando profissionais específicos para cada área. "Eu fui me empolgando. Então, o Norton, que era atendimento, saiu da SLM e eu pedi a chance de ficar no lugar dele. Os sócios resistiram, mas depois aceitaram, pois viram que era o que eu realmente queria fazer". Foi nessa época que, com 20 anos recém-feitos, começou a tentar disfarçar a idade: "Virou uma brincadeira na agência. Eu me vestia de uma forma mais clássica até. Fazia parte do charme". No seu grupo de contas tinha de tudo: armas, calçados femininos, concessionário de veículos. "Aprendi a atirar, ia a feiras de calçados. A SLM sempre incentivou a participação no universo do cliente", conta. Quando Gilson percebeu, estava gerenciando o atendimento, trabalhava num âmbito mais estratégico e deixava o dia-a-dia para o pessoal: "Virei diretor de atendimento sem querer", brinca. Em 1994, já tinha ado por todas as áreas da publicidade, conhecia bem a estrutura da agência e foi promovido a diretor-operacional. Dirigia todas as áreas, mas não deixou de lado o atendimento, adora visitar clientes.

Em 1995, a SLM firmou parceria com a Ogilvy. "Foi incrível, amos a ter uma visão multinacional de propaganda e descobrimos que muitas coisas que fazíamos aqui, empiricamente, no instinto, eram reconhecidas como técnica, ciência", fala. Em 1999, o publicitário ou a diretor-geral da SLM Ogilvy, "novamente por uma evolução natural", cargo que ocupa até hoje. Nessa época, com a saída de um dos sócios, Gilson, mais o diretor de arte, Luciano Leonardo, e a diretora-istrativa, Lúcia Loeff, compraram sua parte e aram a fazer parte da diretoria.

Gilson adora trabalhar com propaganda por não ter uma rotina e poder sempre conhecer gente nova, através dos clientes. "É bom sair um pouco desta casta de publicitários e temos clientes diversos, desde uma grande metalúrgica, como a Gerdau, até o Botequim das Letras, um bar de amigos. O legal é que eles têm a mesma necessidade de vender, independentemente do porte. E eu gosto é de ver o cliente feliz, satisfeito". As saídas são cada vez mais freqüentes, já que, hoje, a SLM Ogilvy atende a quase 20 contas. Mas o publicitário faz questão de encontrar tempo para conviver com os colegas: "Gosto muito de reuniões, não gosto de resolver pendências por e-mail e tento estimular isso aqui dentro da agência".

Hiperativo
Sempre que possível, Gilson vai viajar, talvez porque tenha um grande arrependimento na vida: não foi mochileiro. Começou a trabalhar cedo e achou que não poderia mais parar. "Se tivesse que aconselhar alguém, diria: """"""""Antes de se encarnar no trabalho, aproveita. Aproveita que teus pais estão te sustentando, que a faculdade dá para trancar e o trabalho, se tu for mesmo bom, vai continuar lá. Vai viajar, porque tu voltas como uma pessoa melhor""""""""", alerta. Recentemente, o publicitário realizou outro sonho: adquiriu um carro 4×4 e nos finais de semana vai ear. "Agora, ando numa fase de contato com a natureza", conta. Até o apartamento reflete isso: na área, cultiva pitangueira, laranjeira e limoeiro, entre outras árvores frutíferas.

Gilson tem dois filhos e sempre os leva para seus eios - quando possível -, mesmo em Porto Alegre.
Vão assistir ao pôr-do-sol no Gasômetro ou em Ipanema. Também costuma levá-los para pedalar na Redenção, que, aliás, é seu único esporte, além de Fórmula 1 no computador. A menina se chama Paula e tem sete anos e o menino é o Luca, de quatro. Embora trabalhe mais de 10 horas por dia, o pai tenta ar o máximo de tempo com as crias, que são seu grande projeto: "Quero fazer deles as pessoas mais felizes do mundo", ressalta. Leva as crianças aos jogos do Grêmio, time pelo qual é apaixonado e acompanha sempre, desde 1977. Foi até à Colômbia para assistir à final da Copa Libertadores da América. Por isso, sua realização é atender à conta do clube.

Também gosta de cozinhar, mas não inventa muito, não nega que segue receitas e apenas dá umas modificadas para colocar seu toque pessoal. "Tem aquela coisa do inconformismo, fico achando que faltou creme de leite ou foi muito não-sei-o-quê. Faço do meu jeito", explica. Gilson confessa que é "hiperativo", gosta de ler, assistir à TV, filmes, de todos os gêneros, e faz tudo ao mesmo tempo. Tem trabalhado a sua impaciência e ansiedade, "mas não tem resolvido nada!".

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