Enchentes no RS: "A cobertura mais desgastante da minha vida", afirma Ricardo Sander

Gerente de Jornalismo da rádio Independente noticia a tragédia ao lado de repórteres e apresentadores como Gabriela Hautrive e Luis Fernando Wagner

Gabriela Hautrive, Luis Fernando Wagner e Ricardo Sander tocam a cobertura pelo Grupo Independente - Crédito: Carolina Leipnitz / Rádio Independente e Arquivo Pessoal

"Sem sombra de dúvidas essa foi a cobertura mais desgastante da minha vida", afirmou ao Coletiva.net o gerente de Jornalismo da rádio Independente, Ricardo Sander, que já noticiou cerca de 30 enchentes e cobriu, in loco, as tragédias da Boate Kiss e da Chapecoense. Entre os motivos para esse destaque, estão o fato de ter ocorrido na região onde a emissora se localiza e por ter de liderar a equipe. Além disso, o episódio se torna marcante pelas mortes, "pelos estragos sem precedentes e por tudo que ainda virá".

O gestor coordena o time que é composto por 60 profissionais envolvidos nas transmissões, como os repórteres e apresentadores Gabriela Hautrive e Luis Fernando Wagner. A reportagem do portal conversou com os jornalistas e com o diretor-executivo Ricardo Brunetto sobre a experiência. Os relatos integram o especial com depoimentos de quem informa sobre as enchentes.

Já no primeiro dia Gabriela mudou a rotina para se dedicar mais tempo na atuação. Depois de cumprir o horário normal, até às 17h, ela retornou à emissora às 21h e trabalhou até o início da madrugada. Além de Lajeado, foi em Estrela, Encantado, Taquari, Venâncio Aires, Vespasiano Corrêa e nas entradas de Muçum e de Roca Sales. "A chegada é sempre um susto, um choque, por conta do cenário de destruição. A gente chega em um local e acha que ali é o pior cenário, entra em outro e vê mais destruição, é bem difícil tentar descrever qualquer coisa", comentou. 

Fatos marcantes

Para a repórter é difícil selecionar apenas uma situação, entre elas, no entanto, está quando viu um senhor, chamado César, que depois de perder tudo socorria os amigos. Com um sorriso no rosto, ele disse que não reclamaria, pois ele estava vivo com as duas filhas. Ver os familiares se despedindo no velório coletivo também foi chocante. "Entrevistei um senhor que perdeu dois irmãos e a casa dele. Ele me disse que a única força que ele tinha era Deus, pois não sabia nem por onde começar a reconstrução da vida", relatou. 

O colega Luis Fernando relaciona duas cenas. A primeira, na quarta-feira, 6, quando ele escutava os gritos de pessoas presas no telhado de casa, pedindo por socorro, na região conhecida como Praia, no Centro de Lajeado. A segunda, foi a chegada de corpos de vítimas da enchente, sendo dois de crianças, na área de pouso e decolagem de helicópteros de resgate, no Parque do Imigrante, também no município.

O radialista, que tem a experiência de mais de 30 enchentes, disse que essa é uma atuação atípica, por ter sido "algo jamais visto por esta geração". Assim, ele defende que o papel da impresa tem sido fundamental. "Ouso dizer que a rádio Independente salvou vidas, pois os pilotos dos helicópteros de salvamento, no primeiro dia da operação, basearam-se nas informações da estação para localizar e resgatar pessoas em cima do telhado de suas casas", destacou o comunicador que visitou Cruzeiro do Sul, Estrela e Lajeado.

Envolvimento total

"Não tem como não se emocionar", registrou o gerente Ricardo. Para o gestor, apesar do jornalista tentar se manter firme, por tudo que aconteceu e por ser na região é ainda mais dolorido. "As pessoas também gostam de ver esse lado humano de quem está na cobertura jornalística. Recebemos vários elogios por isso também." Luís disse que durante a atuação ele consegue evitar as lágrimas. "Mas em casa, após o expediente, é difícil esquecer aquilo tudo."

Gabriela, no entanto, afirmou que não foram poucos os momentos em que chorou. "Quando estou ao vivo na rádio e por vídeo, eu tento ser o mais profissional possível, tento não entrar em desespero. Mas tem muitos momentos que é impossível."

O trabalho do veículo começou na segunda-feira, 4, pela manhã. A partir de então, o conglomerado midiático alterou toda a grade de programação para transmitir os fatos. Em sete dias, foram mais de 130 horas no ar, sendo as primeiras 67 ininterruptas. "Em termos de cobertura, foi a maior da história da emissora, que tem 72 anos", reforçou Sander. 

Todas as plataformas do Grupo estão conectadas com este acontecimento, tanto as rádios Independente FM 91.7, Tropical FM 103.7 e do Vale AM 820+FM 89.1 quanto as plataformas digitais e o site. Assim, organizar o time se torna "um grande desafio", destacou Sander. "Pelo fato de fazermos muito mais horas de transmissão no ar com praticamente a mesma equipe é um quebra-cabeça para montar escalas, designar a função para cada um e também apresentar os programas". 

Conforme o diretor-executivo Ricardo Brunetto, a rádio Independente é a voz das cidades, dos bairros e das pessoas. "Falamos para a grande maioria da audiência do rádio na região e isso se comprova mais e mais em momentos relevantes como o que estamos vivendo". O gestor acredita que o veículo tem o papel de estar ao lado da população nos momentos mais críticos deste desastre, seja pela falta de energia elétrica, de sinal wi-fi ou de dificuldade de deslocamento. "Lá nós estávamos informando, acalmando e levando alento as pessoas que mais precisam", concluiu.


Na última semana, o Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone extratropical, que resultou em enchentes em diversas localidades. Desde então, a imprensa gaúcha trabalha para levar ao público informações sobre os acontecimentos, além de mobilizar uma corrente do bem para ajudar as famílias afetadas, especialmente no Vale do Taquari. Nesta série especial, Coletiva.net acompanha o trabalho dos jornalistas que mostram ao Estado e ao Brasil a dimensão desta tragédia.

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