Registro da tragédia climática: gaúcho é finalista em concurso internacional de fotografia

Gerson Turelly é de Porto Alegre e o único brasileiro classificado na disputa

A imagem recebeu elogios dos jurados, que destacaram sua composição e iluminação - Crédito: Arquivo Pessoal

O fotógrafo porto-alegrense Gerson Turelly está na final do 'Standart Chartered Weather Photographer of The Year 2024'. Ele é o único brasileiro classificado no concurso, que tem o objetivo de premiar e considerar os profissionais que melhor captam fotografias climáticas do mundo. 

Em conversa com a equipe de reportagem de Coletiva.net, Gerson contou que se sente orgulhoso de ser finalista do concurso. "Minha vida é totalmente envolvida na fotografia e estar nessa final é um reconhecimento importante do meu trabalho", afirmou.

Conforme o fotógrafo, antes de qualquer aviso oficial da organização, soube que estava na final por meio da imprensa. Ao visualizar manchete da notícia em que havia somente um brasileiro na final, foi ler para descobrir quem era e percebeu que a matéria falava sobre ele. "Fiquei um tanto desconcertado até conseguir digerir melhor a notícia, além de muito feliz, claro", disse.

Para Gerson, ser o único brasileiro na final do concurso o coloca em uma posição de responsabilidade para representar o setor nacional, assim como mostrar algo que é de importância para a realidade atual, que são os impactos provocados pelas mudanças climáticas. Ainda, sente-se orgulhoso, pois dentro da temática deste concurso, o fotógrafo acredita que registros, brasileiros e estrangeiros, também mostraram recortes da realidade climática do mundo. 

Sobre o registro 

Batizada de 'Rowling' (Remo, em tradução livre), a foto mostra um homem a bordo de um bote, remando próximo ao cruzamento das ruas Caldas Júnior e Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre, durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio. A imagem recebeu elogios dos jurados, que destacaram sua composição e iluminação.

Gerson recordou que fez a fotografia no dia 6 daquele mês, um dos primeiros dias sem chuva após a tragédia que atingiu o Estado. "Tinha que ir até lá e ver com meus próprios olhos. Como todo fotógrafo, quero ver. E, como fotógrafo que sou, fui com minha câmera. Depois de mais de uma hora de caminhada até o Viaduto da Conceição, deparei-me com o triste cenário", contou.

O fotógrafo disse, também, que presenciou a cena e fotografou o resgate de uma senhora que estava ilhada em uma residência. Além disso, ele conta que, ao caminhar pela região, pôde observar os rostos de muitas pessoas que encontrava pelo caminho: "O mesmo ar de descrença e desilusão diante da inundação e que eram os mesmos sentimentos que senti".

Conforme Gerson, no ponto exato que fez a foto, bem junto à nova margem do lago Guaíba, que havia no cruzamento entre Rua dos Andradas e Rua Caldas Jr., observou algumas pessoas que improvisaram proteções nas pernas. Além disso, elas usavam, nos pés, sacolas plásticas, pois entravam nas águas a fim de migrarem para os barcos de resgates. 

A cena que viu foi a seguinte: ruas que, diariamente, vibram cheias de pessoas e automóveis transformadas em pequenas hidrovias, e com um solitário resgatista saindo em direção a mais um salvamento ou para dar algum tipo de apoio às pessoas que ainda se mantinham em suas residências. "Fotografei o que vi e o que senti e, certamente, o que muitas pessoas também sentiam ao ver os mesmos cenários."

Gerson contou, também, que sempre acompanhou o tema das mudanças climáticas, mas que não se recorda de fatos que tenham representado categoricamente os impactos causados por elas, por isso, em termos de fotografia, o assunto nunca esteve na mira de suas lentes. "Quando soube do concurso, lembrei dessa foto e entendi que ela representava algo do que foi a enchente na cidade e de como Porto Alegre também ou a estar à mercê das mudanças climáticas", afirmou.   

Gerson gostaria que, em decorrência do concurso, a fotografia selecionada para a final pudesse circular mais pelo mundo, para fazer com que as pessoas, e suas autoridades, não se esqueçam do que aconteceu. "Que essa fotografia sirva para manter o foco na prevenção dos problemas decorrentes das mudanças climáticas, bem como na contribuição para manter o alerta de que precisamos mudar nosso jeito de lidar com o planeta", concluiu.

Outras imagens

Entre os finalistas, há imagens de uma tempestade de poeira no deserto do Saara; pessoas sobre um mar congelado na Ucrânia; e a seca no Lago Urmia, no Irã. O vencedor será escolhido por meio de votação aberta ao público, no site Standard Chartered Weather Photographer of The Year. Os votos serão computados até 17 de outubro e a fotografia campeã será anunciada em 30 do mesmo mês.

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