Especial Dia da Mulher: empreendedoras negras na Comunicação

Em conversa com Coletiva.net, Cintia Lentilha, Paula Martins e Silvia Abreu contaram um pouco de suas experiências no mercado gaúcho

Cintia Lentilha, Paula Martins e Silvia Abreu (da esquerda para direita) - Crédito: Marcos Feijão / Arquivo Pessoal

O empreendedorismo de mulheres negras na Comunicação no Brasil é um fenômeno crescente e transformador, que reflete a luta por representatividade, autonomia e espaços de fala em um setor historicamente dominado por vozes brancas e masculinas. E no Rio Grande do Sul, o cenário cresce cada vez mais. 

Observando o cenário, a reportagem de Coletiva.net conversou com três empreendedoras da segmento que se dedicam às causas raciais em seus negócios, são elas: Cíntia Lentilha, Paula Martins e Silvia Abreu. Em suas respostas, um aspecto se destacou pela unanimidade. 

Todas enfatizaram a importância de construir uma rede de apoio com outras mulheres empreendedoras, a fim de instigar trocas de ideias, opiniões e experiências. Elas são membros da Odabá Afroempreendedorismo, uma associação com sede em Porto Alegre, que foi criada a partir do desejo de promover a ascenção econômica do povo negro.

Cíntia Lentilha

Nascida no bairro Bom Jesus, situado na zona leste de Porto Alegre, e atualmente residente de Canoas, ela é formada em fotografia pelo Fotocine Clube Gaúcho. A fotógrafa lembrou que antes de ocupar o lugar que quiser ocupar dentro de uma organização, as mulheres precisam "lutar, estudar, correr atrás, ser melhor do que os homens para exercer o mesmo cargo, engolir sapo, desaforo, hipocrisia". 

Além disso, ela também salienta que jovens empreendedoras precisam "provar a sua inteligência, competência e sabedoria todos os dias". Há 14 anos, em 2011, obteve o registro de repórter fotográfica e ou a atuar em fotojornalismo, política, carnaval, eventos corporativos, sociais e retratos. 

Em seu site, onde divulga o portfólio, Cíntia pontua que, nos últimos anos, tem dedicado seu trabalho em capturar a cultura, diversidade e beleza da população negra. A profissional já fotografou mais de 10 mil rostos e sorrisos, sempre almejando captar a essência e valores de cada indivíduo.

Paula Martins

Para a jornalista Paula Martins, diretora da MKT de Causas, o primeiro o antes de enfrentar um empreendimento é "entender que 'chegar lá' não significa apenas alcançar um cargo ou reconhecimento específico, pois o caminho não é linear". Na sua visão, muitas vezes, jovens empreendedoras perseguem objetivos que não fazem sentido para elas e tomar um tempo para refletir é essencial.

Além disso, ainda de acordo com a comunicadora, alinhar esse olhar ao conhecimento técnico e à experiência de vida possibilita promover mudanças reais, tanto na própria jornada quanto na de outras pessoas. "Valorizar o processo, construir boas parcerias, aprender constantemente e estar aberta ao novo são fatores essenciais para transformar desafios em oportunidades", afirma Paula.

Silvia Abreu

Embora siga, primordialmente, a mesma linha de pensamentos das outras duas entrevistadas, Silva Abreu aborda um outro ponto bem importante de ser destacado. Questionada sobre os benefícios de empreender sendo mulher, a comunicadora diz que "o principal deles é ter mais autonomia e poder de decisão". "Muitas vezes, as mulheres trazem uma visão de liderança mais empática e humanizada", pontua.

Vislumbrando um outro viés, Silvia tenciona que "para conquistar seu lugar, uma mulher precisa estar disposta a se dedicar de forma constante ao aprendizado, seja no desenvolvimento de novas habilidades ou no aperfeiçoamento das já adquiridas". 

Ela ainda lembra que "ter precisão em seus objetivos, buscar mentoria de outras mulheres ou de profissionais que a inspirem, bem como construir uma rede de apoio são os fundamentais". 

Embora o caminho a se trilhar seja, muitas vezes, árduo, todas salientam a importância de cultivar a autoconfiança e não se deixar intimidar pelos desafios ou pelas dúvidas impostas por um ambiente de negócios que, infelizmente, ainda é predominantemente masculino. 

"A persistência é chave - ninguém chega "lá" sem esforço, mas com resiliência, paciência, estratégia e determinação, o caminho se torna mais favorável", conclui Silvia.

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