Vida pela internet 6j5s3g

Nos últimos anos, tenho acompanhado o desenrolar da vida pelo filtro da internet. Mais especificamente, nos últimos dois anos, quando deixei o chamado "emprego", … i6x6s

24/10/2008 00:00

Nos últimos anos, tenho acompanhado o desenrolar da vida pelo filtro da internet. Mais especificamente, nos últimos dois anos, quando deixei o chamado "emprego", com horários e tarefas fixas. ei a desfrutar, praticamente em tempo integral, das delícias (e também malices) da web2.0,  em especial, mandando e recebendo (e principalmente deletando) mails, falando com gente do mundo inteiro por MSN e webcam, me inscrevendo, usando e saindo (duas vezes), do Orkut ? que detesto -, e, acima de tudo, exercendo meu pleno direito de cidadã, sem qualquer censura, escrevendo tudo o que me dá na telha nos três blogs que criei. 3v5j

Este ver a vida pelos olhos da rede não envolve aquela alienação de que os profetas do após ? calipso se valem para dizer que nos isolamos em função do universo virtual. Faz pouco, divulguei, aqui mesmo, no Coletiva, uma notícia que traduzi de uma das várias newsletter que o Washington Post me envia diariamente, dando conta que as famílias estadounidenses se declararam, em pesquisa, muito mais unidas hoje do que há dez anos. Graças a quem? Aos saraus movidos a violino e a batida de pé no chão, reabilitados nos celeiros dos casarões texanos? Às conversas ao pé dos fornos de pão nas cozinhas imensas das cidades próximas ao Alaska? Aos chiquetérrimos jantares nos lofts falsamente pobres de New York? Não! Graças a gadgets como o celular, que faz com que mãe, pai e filhos troquem mais hellos durante o dia do que antes do advento desta ferramenta. Graças aos encontros de final do dia diante de games ou de vídeos no youtube. Graças, também, a esta coisa maluca chamada twitter, uma espécie de mensageiro aberto através do qual você é mais localizável que se usasse GPS sob a pele.

Uma proeza da modernidade isso tudo, para quem, como eu, ainda guarda a Olivetti Lettera 32, azul-clarinho, comprada de segunda mão pelo meu pai de um seu irmão, sapateiro como ele, que, por sua vez, a recebera em pagamento por algumas solas-inteiras "penduradas" por algum freguês. Supra sumo da superação, este mergulhar na era do computador, ainda mais sem tempo para a transição, aprendendo-fazendo, no meio do "fechamento" de um jornal, com um ou dois técnicos percorrendo a redação para ajustar cabos e ar informações rapidamente. E isso não foi só uma, mas várias vezes. E, finalmente, veio a tal internet. No começo, uma complicação, discada, bloqueando o telefone de casa, tão lerda que dava tempo de conectar, sair da sala, ir à cozinha, preparar um bom café, se alimentar e, na volta, com sorte, "entrar" em algum site.

Isso era a pré-história da rede. E faz tão pouco tempo! Ciclo curtíssimo, como estão sendo todos os ciclos vitais que nos envolvem hoje. Pelo menos comigo tem sido assim. Tudo é rápido e já começo a embarcar na explicação de minha mãe de que a Terra está girando mais ligeiro e que por isso já estamos em fins de outubro. Ou seja: final do ano, já com os Jingle Bells e os hohohoho indefectíveis da época natalina nos nossos calcanhares. Mas, como assim? - me pego perguntando boçalmente para mim mesma! Era recém ontem, e eu estava me livrando dos restos da ceia de Ano Novo, planejando minha próxima ida para a Europa, as várias agens pela cultura civilizatória de São Paulo onde mora meu filho, prometendo me disciplinar e escrever o novo livro! Nada! E tenho a desculpa ideal: não deu tempo!

O bom de tudo isso é que as experiências também se sucedem e, com ou sem desgastes, com ou sem expectativas (nossas ou plantadas em nós pelos outros), com ou sem vontade, elas terminam. Outras chegam. Estou ando por este momento vital, importante, novamente. Um ciclo se fecha. Outro me atropela e me leva para mais longe. E lá vou eu, feliz da vida, com meu celular, meu MSN, meu mail, meus blogs e, acima de tudo, meus afetos - todos eles, os bons e os nem tão bons. Dando vivas especialmente ao hyperlink, esta maravilha que nos poupa de interromper um fluxo de pensamento para explicar ou definir alguma coisa no corpo do texto. E pronta para contar tudo sobre esta recém-terminada viagem. Onde? Ora: na sacrossanta e libertária blogosfera.