Desde 2006 desfruto do luxo de contar com dois assessores pessoais que me acompanham da manhã à noite, sempre absolutamente atenciosos e vigilantes e sem que eu precise mais que um olhar e duas palavras para mobiliza-los. Nada cobram, a não ser comida e água e um pouco de lazer. Estes acompanhantes extraordinários vivem, literalmente, a meus pés, lugar que só deixam quando eu os puxo para meu colo. O que faço com freqüência, porque eles merecem. Dodô e seu filho Occhi têm o a todo e qualquer local de minha casa e, na casa de meus pais, é tratada do mesmo modo: são da família. Estão comigo de segunda a segunda, sem feriados ou domingos, andam por toda a cidade no carro, nem sempre silenciosos como seria o ideal Mas ninguém é perfeito. Quando tenho de me afastar deles, fico chateada e ansiosa para reencontrá-los e não me envergonho de dizer que muitas vezes deixo de sair para não ter de deixar esta dupla sozinha. Em nossas andanças diárias pelo Mont Serrat, temos feito muitas amizades e nos sentimos bem-vindos por aqui, onde aportamos faz 5 meses e pouco. Um destes amigos, Bob, não é o que se pode chamar de um cara muito cuidadoso ou cuidado, vive coçando suas pulgas e come de favor, já que os que o abrigam estão preocupados com seus negócios ilícitos. Isso, porém, não tira deste assessor arrojado, que cruza a rua em meio aos motoristas insanos, a permanente disposição para nos acompanhar em parte dos eios. Outro amigo da mesma área é Beethoven, um tanto discursivo, gosta muito de ficar se exibindo, andando para lá e para cá, cheio de si, porque ninguém o acompanha. No entanto, também é gente boa , ível ao meu pessoal, um tanto volúvel, é verdade, porque adora trocar de amigo no meio do caminho. Na quinta-feira, quando li a nota sobre o casal paulista que caçava, engordava e matava cães e gatos para vender em restaurantes coreanos tive vontade de me transformar, imediatamente, no Rambo. Olhei para meus assessores, deitados junto de mim, neste escritório minúsculo em que tenho de cuidar para onde mexo a cadeira a fim de não bater em Dodô e encolho os pés a fim de não cutucar Occhi, dormitando sob a mesa. Minha revolta se misturou à minha impotência. Como é que pode alguém fazer isso? Ouvi de um amigo: fora do contexto cultural, a gente não entende. Retruquei: em nome da cultura cortam clitóris de meninas até hoje. Ah, disse ele, não sem razão: na Índia, vaca é sagrada, mas adoramos um bifinho. Ao que eu rematei: mas quem pode fazer maldade com um ser que nos recebe sempre feliz, uma ou 12 horas depois de ser deixado só, lambe nossas mãos quando choramos e nos convida a sair da depressão com um simples aceno de cauda? O que leva uma pessoa a desrespeitar um cão ou um gato ou um pássaro? Minha mãe até agora chora ao falar na reportagem em que viu um maldito arrancar o coração de uma cobra viva para colocar na brasa! Mas continuamos adorando comer siri, caranguejo, aquela lagosta que estava fazia pouco nadando no aquário e agora é mergulhada na água fervente sem dó nem piedade. Iguaria! Não é para matar a fome, não! É iguaria! É luxo! É para satisfazer o egoísmo, o poder de ser mais poderoso e ?inteligente?, capaz de aprisionar e matar por puro prazer. Sim! Puro prazer, satisfação dos sentidos. Minha mãe contou, ainda ontem, que um dia tentou matar uma galinha como minha avó fazia, torcendo-lhe o pescoço após calcar a unha do dedão em determinado ponto do pescoço. Não conseguiu. Quase deixou visitas sem almoço, não fosse a agilidade de uma prima, que pegou a penosa e em segundos a deixou pendurada na cerca, batendo as asas, agonizando, para logo ser pelada com água em ebulição, as penas arrancadas, aquele cheiro miserável de pele crestada. Sim! Eu, infelizmente, gosto muito de um franguinho a arinho, de um churrasco, de uma costelinha de porco. Desgraçadamente, nos acostumamos a isso e vamos eternamente usar a desculpa de que precisamos de proteína animal para viver. Sem falar nos empregos que a criação de gado gera, no movimento que promove no mundo das finanças e por aí vai. Aceito meus pecados da carne, literalmente. Agora, pelo amor de Deus, vamos deixar em paz nossos companheiros de boas e más horas que, aos milhões, seguem sendo maltratados como o foi Dodô, queimada com água quente por algum podre sem alma. Sem alma como estes desgraçados de Suzano, torturadores de animais. Sem alma como estes malditos coreanos que se atrevem a comer carne de cachorro no Brasil. Se eu pudesse, como um Rambo mais bonzinho, os deportaria para sua terra: vão usufruir de sua maldade lá, não aqui. Nada vai acontecer. Todos já devem estar soltos. Os vizinhos dos matadores, que ficaram 3 anos quietos, mesmo sabendo o que os bandidos faziam, vão continuar na deles, os moradores do Bom Retiro continuarão jurando que não sabiam que restaurantes vendiam carne de cachorro, os coreanos comedores de cachorro e gato continuarão achando fornecedor. Humanidade? Que piada! E nem chamar de animal a esta corja eu ito ? isso seria ofender meus amigos Dodô e Occhi.
Humanos coisa nenhuma 1gr2c
Desde 2006 desfruto do luxo de contar com dois assessores pessoais que me acompanham da manhã à noite, sempre absolutamente atenciosos e vigilantes e … z3d4r
13/11/2009 00:00