Por mais de uma vez, a Fundação Cultural Piratini foi tema desta coluna. Em 8 de dezembro de 2006, quando eu ainda lá estava, na Assessoria de Comunicação, ressaltei a importância das premiações que tanto a TVE quanto a FM Cultura haviam recebido no concurso daquele ano promovido pela Associação Riograndense de Imprensa. Em 1º de fevereiro de 2007, eu voltaria a falar naquele complexo de comunicação, citando suas qualidades e chamando atenção para as conhecidas dificuldades financeiras e logísticas das emissoras. Cobrei, na ocasião, do governo Yeda Crusius, uma definição sobre o destino da Fundação. 1h732w
Pois, nesta quinta-feira, dia 20, voltei a me manifestar motivada por um comentário sobre a notícia do Coletiva que tem por título Presidente do Conselho Deliberativo da TVE renuncia. No momento em que li a notícia sobre a saída de Ercy Torma, o texto era este, que o Portal 3, da Unisinos, ainda mantém no ar e que contém a frase "alegando "má educação e má formação de pessoas que fazem parte do conselho" Torma renunciou ao cargo". Mas o que motivou minha manifestação foi, principalmente, a grosseria do comentário de Alexandre Leboutte da Fonseca, que representa os funcionários da Fundação no Conselho, e que, atualmente, é uma espécie de porta-voz deste grupo, sempre pronto a uma entrevista e a uma declaração midiática.
Fui dura, eu sei. Agressiva, igualmente. Mas o momento não permitia nem paninhos quentes tampouco gentileza com quem não merece. O referido jornalista, que milita na TVE desde que foi aprovado no concurso que fez durante o governo de Olívio Dutra, em 2002, conforme ele mesmo conta no blog que mantém e que se chama Fórum TVE FM Cultura, a meu ver chamou Ercy, sem o fazer de forma direta e explícita, de covarde. Está lá, para quem quiser ver. Mas reproduzo aqui, para facilitar a vida do leitor: "O jornalista Ercy Torma é um homem de bom caráter, porém, esquivo a enfrentamentos, mesmo quando há razões inquestionáveis para fazê-lo."
Leboutte, mantendo-se fiel à sua escolha ideológica que pode muito bem ser analisada em seu trabalho de pós-graduação disponível na web, também chama Ercy de retrógrado, ao afirmar, em seu comentário, "De qualquer forma, a Terra não gira para trás. O Conselho avança mais uma etapa de sua institucionalização, com postura responsável e zeloza (sic) de seus membros, que entendem não haver mais espaço para a submissão aos governos e am a exigir o cumprimento da lei. Por último, se exigir o cumprimento da lei é falta de educação, o Brasil está precisando de mais mal-educados.? (?)." Um comentário deselegante e, acima de tudo, desrespeitoso.
Infelizmente, não se trata daquele "desrespeito" que Henry Thoreau entronizou em meados dos anos 1800 e que inspirou, entre outros, Gandhi, com a desobediência civil. Falo desta falaciosa atitude de tudo enfrentar, sem limites, em nome de algum direito ou de alguma causa vaga, nunca muito bem revelada, mas propagada com técnicas apuradas de convencimento.
Não votei, não votarei jamais em Lula. Critico-o , sim, critico suas posições, seu governo. Mas ele é o presidente eleito do meu País, e, por isso, o respeito pelo cargo que ocupa. Quando assumo um trabalho que tem um chefe, mesmo que com ele não concorde, o respeito. Ou faço isso, ou caio fora. Porque respeitar, ? e isto está na raiz do verbo, lá no latim ? é, de fato, muitas vezes, olhar para trás, sim. É recuar de sua posição. É reavaliar, deixar o confronto de lado.
Se existe um presidente de Conselho, qual a razão para ele ser desrespeitado? Afinal, ele não é um cara de "bom caráter", como diz Leboutte? Não merece, então, ser respeitado pelo seu cargo, suas decisões e, quanto mais não seja, por sua trajetória? Quem sabe, ler sobre Ercy no perfil do Coletiva ou numa entrevista dada a alunos da PUC não ajudaria este conselheiro afoito a encontrar o rumo das atitudes civilizadas tão necessárias à boa condução de qualquer idéia ou projeto?
Um integrante do grupo me contou, ainda ontem, que realmente é inável o clima de confronto ali instalado em relação à nova direção. Por outro lado, soube, também, que há um plano de sustentabilidade a ser entregue ao governo estadual por integrantes do mesmo Conselho, documento este que nunca consegue atravessar os portais do Piratini. Está na hora de Conselho e Governo do Estado verem que não está em questão um embate de força, para ver quem manda mais, e sim um esforço conjunto para que a TVE e a FM Cultura tenham reais condições de cumprir suas funções.
O Conselho Deliberativo da Fundação Cultural Piratini é, em princípio, desde sua criação, merecedor do maior respeito e apoio, seja da sociedade civil, seja do governo. No entanto, a recíproca deve ser verdadeira, acima de tudo internamente. Com guerra de mandados e liminares, pressão e tática de guerrilha, não há diálogo que resista. Perdem todos, acima de tudo o público. E um Conselho que não sabe conciliar suas pressões internas merece ser extinto.