Vamos por partes 286v45

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18/07/2005 00:00

Como todos os vivos, cumpri aniversário. Minha amiga, designer Renata Rubim, mandou-me de Portinho uma gentileza ímpar: criou um marcador de livro só com frases de minha autoria. Minha filha Rachel havia me dado uma pequena jóia, ?Os cem menores contos brasileiros do século?, século XXI, onde Marcelino Freire, seu idealizador, afirma ser ?Quando acordou o dinossauro ainda estava lá?, de Augusto Monterroso, o mais famoso microconto do mundo. Andei me exercitando no ramo. Lembrei-me que no ginásio - 5ª a 8ª série, 1º grau - a gente estudava literatura através de antologias de poetas e prosadores. Meus pais, também, só que as antologias chamavam-se ?Florilégios?, ou seja, ramos de flores. Moro num megacondomínio, uma aldeia com 5.000 viventes, fora os mortos. Edito um mini-minipasquim - faço tudo sozinho - há 48 ?Semana?(s). Segui a receita do Marcelino, nos micros que ele pediu aos cem escritores brasileiros, e publiquei alguns, nunca com mais de 50 letras, fora o título. Além dos microcontos, vivo chutando um ou outro pensamento. Pronto, vai aí parte do meu Florilégio. Mas já que saí na chuva, vou me molhar com o último dos poemas (?) bissextos: Des/Vendar Nesse impenetrável vendado, haverá fissuras, mini rachaduras, haverá, por sob a cabeça, um caminho não vendado? Por entre os seios ou mesmo nos seios haverá um encanto desencantável? Nas coxas, Nas curvas todas, na fenda rainha haverá um mistério um mistério desvendável? Ou se oculta no mistério todo um desejo misterioso de, afinal, ser desvendada? Agora, a miniantologia compilada por dona Renata: Tenho tanta pressa de viver que, às vezes, a vida foge de mim para poder se viver tranqüila, melhor, sem mim. Eu finjo que não percebo e deixo. Comentando as duas ditaduras que atravessei e festejando ter vivido bastante, registrei: Há pouco consegui uma contagem de tempo de vida livre maior que dos tempos negros. Os microcontos do marcador de livro: Remorso Ao me despedir, percebi que o lenço não era branco. Adeus O lenço preto avisava que não haveria outra vez. Estação Aquela triste despedida onde nem o lenço foi. Como, de acordo com Millôr, pensar é só pensar, pensei: Quando a bunda abunda muito? você está na Bahia. O bom de lembrar é que você lembra do jeito que quiser. Hoje há um risco de extinção de 720 espécies de animais. Ainda não se sabe quando o bicho homem entra na lista. É muito fácil comemorar um ano que chega. O difícil é colocar a data certa nos primeiros cheques. Do ?escreveu não leu, pau comeu? só entendo que o pau comeu. A poesia só acontece se o leitor for parceiro do poeta. Quando se diz ?bons tempos aqueles?, a dor de dente e de ouvido ficam fora. A vida é um rascunho do nosso sonho de vida. Mulher é como cachaça, cigarro ou jogo, se você vicia, viciou. Homem que gosta muito de mulher sofre de excesso de bom senso. Quanto mais conheço os homens, mais gosto das mulheres. O amor dá tantas voltas que às vezes fico tonto. O apaixonado é um cego sem bengala. Médico nenhum explica como problema no coração pode dar dor de cotovelo. ?Mata a cobra e mostra o pau?. Comporte-se, por favor. Brasil, pátria amada, te amo tanto que até me submeto a ouvir a segunda parte do Hino Nacional. Se você é um otimista, experimente ir ao médico. Quando quis ar a vida a limpo, sujou. Eu me achava um tolo, até que tive a certeza. Microcontos: Drama Quando o carro bateu no poste lembrou-se do seguro vencido. Comédia Riu muito quando furtaram o celular que havia furtado. Farsa A amante ficou furiosa ao saber que ele também era casado. O general Achou o caixão desconfortável mas perdera a autoridade. Baile gay Chegou chorando, queimou a fantasia e a foto dele. Imprevisto Ia se suicidar mas a dor de dente era muita. Sem saída Juntou as últimas moedas para comprar o chapéu do mendigo. Negócio é negócio A prostituta disse que gostou e então ele pechinchou. Enfim Mal o trem sumiu, apagou a memória. Monossílabo Queria me despedir, mas só saiu um Inté. 5525i