Estou com gripe, coisa banal para os não-gripados e terrivelmente chata para quem a tem. Ficou mais chata ainda, de uns tempos para cá, pois agora não se escapa de uma pergunta quase inevitável: você tomou a vacina? 2i2i1z
Escondi essa minha gripe o máximo que pude e, assim, diminuí a repetição da resposta: há exatos doze meses.
Eu não tinha sete anos quando, em São Paulo , quebrei o braço e não me lembro quantas vezes repeti que fui empurrado por um adulto, na Praça da República, caí e me quebrei.
Eu tinha 30 anos, caí no Teatro de Equipe, em Porto Alegre , e quebrei a perna direita. Felizmente, houve espaço suficiente no gesso para escrever, bem legível: caí na escada.
Inda que esse tipo de curiosidade seja absolutamente fraternal - verdadeiro gesto amigável -, meu abjeto pragmatismo agrega a essa rotina mais um valor malévolo e aprofunda o mal.
Quem já teve gripe braba e tem que escrever sabe que a situação exige um esforço maior. Vou abrir mão desse esforço e escrever pensando o mínimo possível. Sorte do leitor, é claro.
Minha última crônica aqui teve por título "De pubs e bistrots". Pois bem, há gente que sabe o que é um pub e não sabe o que significa o vocábulo "pub". Quem não sabe fica favorecido pela minha gripe. Pub é a abreviatura de "public house", ou seja, um estabelecimento autorizado a operar dentro de limites estabelecidos, ou seja, corresponde ao nosso alvará de funcionamento. Outra coisa que nem todo mundo sabe é o que significa a palavra "arms" (braços) quando colocada na fachada de um pub. A palavra refere-se ao uso manual para tirar o chope. Onde há "arms", há chope.
Já "bistrot" tem uma origem bem curiosa. Em 1814, quando Napoleão foi derrotado na Rússia, tropas cossacas ocuparam Paris. No famoso local de reunião dos pintores, a famosa Place de Tertre, no alto de Montmartre, já funcionava, desde 1793, o restaurante "A la Mère Catherine ". Os soldados, proibidos de beber, chegavam no restaurante e pediam "rápido" sua dose preferida de álcool. "Rápido" em russo é o paroxítono "bistro", que a queda sa pelo oxítono transformou em "bistrot". "A la Mère Catherine " continua lá, e a praça, ao lado da Sacré Coeur, por conta dos enxames de turistas, é um lugar onde o francês só vai a trabalho.
Se você estiver lá em cima, no alto do mont, já visitou a Sacré Coeur, esteve no Museu de Montmartre, mesmo que haja usado transporte para subir, desça a pé, pela Rue Lepic, e defronte ao Moulin de la Galette , cujos bailes foram imortalizados por Renoir e - quase embaixo - n0 54, é onde morava Theo Gogh, o irmão de Van que, quando em Paris, sempre se hospedava lá.
Como a memória não é um ato de pensar, cheguei ao fim da ladeira e da crônica sem pensar.
Atchim!