Rescaldos 3l624h

Cheguei de Paris e fiquei aliviado ao saber que Romário tivera sua obsessão pelo milésimo consagrada pelos veículos de comunicação. Mais uma vez o … 4p113r

04/06/2007 00:00

Cheguei de Paris e fiquei aliviado ao saber que Romário tivera sua obsessão pelo milésimo consagrada pelos veículos de comunicação. Mais uma vez o fato foi embalado pela leviandade e, em vez de noticiar-se, ampliou-se a notícia. Foi o caso desse milésimo gol. 534s4c

Os veículos, quando se interessam por um assunto, vão fundo e fazem investigações. No caso do milésimo, ao contrário de investigar, colocaram mais lenha na fogueira, pois a notícia já vinha embalada e não havia motivos para estragar uma festa que, inclusive, vende jornais e revistas.

Li, em O Globo, uma pequena matéria onde um expert em futebol disse que pelos valores europeus, seriam contabilizados apenas 904 gols do Romário. E só.

Quanto ao "baixinho" a imprensa, por inércia, insiste em dizer que ele tem 1,69m. É o único brasileiro, com essa altura, chamado de baixinho.

É muito difícil viajar e não ter nada para comentar, nem que seja corrida de cachorros vista, ao vivo, em Londres. Os galgos são tão velozes que as corridas quase acabam antes de começar.

Esperando o vôo de volta para o Rio, no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, minha mulher foi dar uma espiada no Duty Free e observou que os cosméticos estavam muito caros. Depois, ando pela porta da loja, vi que o uísque Johnny Walker red label, em promoção, custava mais caro que em qualquer loja ou supermercado do Brasil.

Escrevi uma nota no pasquim que edito no meu condomínio considerando o fato uma piada, mas depois comecei a pensar sobre o assunto. Achei muito estranho o fato de que produtos isentos de taxas e fabricados no país, ou no Mercado Comum Europeu, pudessem ser vendidos a preços mais altos que no Brasil. Creio haver achado a resposta.

Na venda a varejo de qualquer localidade, alguns valores ? independente de impostos ?  são agregados ao percentual médio acrescido nos preços de  todos os produtos: aluguel ou valor do imóvel, salários, energia e água, mais todos os custos de manutenção.

Acho que nestes custos fixos está a resposta para a charada, pois todos eles, na Europa, são astronomicamente maiores  que os custos brasileiros.

Conclusão: enquanto a nossa moeda for uma piada frente à libra ou ao euro, para o brasileiro só é vantagem comprar produtos importados em free shop ou no varejo brasileiros.

Por enquanto, lá na Europa, a festa é exclusiva para os habitantes dos países de moeda forte. 

***

Liberou geral: em Londres, agora, todos os museus, em todos os dias e horários, têm entrada gratuita. Apenas há cobrança de ingresso em ocasionais exposições  e em seus espaços específicos.

Cada vez que vou a Londres sinto, com mais ênfase, como a cidade integra, sem problemas e sem fraturas, todas as raças e povos de múltiplas origens. Nesse aspecto, Londres é uma utopia que aconteceu.

Exagerando um pouco, Paris parece que só vai parecer Paris daqui a uns tempos, pelas pontes do Sena, pelos seus monumentos e pelas suas notórias edificações. A cidade abriga uma tal quantidade de turistas que afasta os cidadãos dos seus museus e pontos mais concorridos.

A Place du Tertre, em Montmartre, é um exemplo típico. Centenário local de trabalho e de exposição de artistas anônimos, tornou-se um aglomerado de turistas que comprometem o espaço físico da praça onde nasceu, há quase duzentos anos, no botequim "A la Mère Catherine", o vocábulo "bistrot".

A "Paris é uma festa", de Hemingway,  neste século XXI esconde muito do seu universo cultural e artístico, mas continua uma festa. Festa do consumo.

Ao mesmo tempo, em La Defense, começa a surgir a Paris do futuro, onde a arquitetura e a ocupação de espaços são tão revolucionárias quanto a urbanização ousada por Haussmann há cerca de 150 anos.

Interessante notar que por muitos aspectos, inclusive extenso território contínuo e grande população fixa, Londres a bem melhor o fluxo turístico e mantém sua personalidade única. Suas mais bizarras bizarrices continuam intocáveis. Inclusive uma Little Venice que não tem nada a ver com nada.

Estivemos no reconstruído "Globe Theatre", o espaço elizabetano de Shakespeare, e fiquei ruminando que uma viagem pode "ser ou não ser" uma "comédia de equívocos". Só depende da gente.

Inté.