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‘Uma vida não é nada. Com coragem, pode ser muito.’                          Carlito 2l3y4j

24/04/2006 00:00

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                         Carlito Maia

Carlito amigo:

Você escreveu que assim que o PT fosse governo, iria para a oposição. Por maior que tenha sido a criatividade em sua vida - e foi enorme! -, nenhuma viagem da sua imaginação chegaria onde o PT chegou.

Você também escreveu "Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita". Ainda que parte da militância do PT fosse de esquerda, nunca o considerei um partido de esquerda, pois corporativista como era, na defesa demagógica - com ou sem razão - de trabalhadores, parecia-me um partido eleitoreiro, não ideológico. Parte do PT, quem diria (?), ocupou-se de forrar cofres, bolsos e cuecas com dinheiro das mais ilegítimas procedências, inclusive em contas no exterior.

Desde há muito, por mais conhecer História, maior foi ficando a minha descrença na humanidade, mas nunca deixei de irar aqueles estadistas que nos ensinaram o que deveria ser a condição humana.

Roosevelt e Churchill, mais o inquebrantável De Gaulle, são alguns exemplos não muito distantes dessa desejável condição. Isso explica como o meu natural ceticismo relativo à política sempre irou a forma apaixonada pela qual você integrou-se à vida do PT e deu a ele o melhor de você mesmo. Eu não entendia bem o PT, mas irava - e muito - a sua forma, Carlito, de valorizar a condição humana.

Houvesse você vivido para ser o primeiro a ir para a oposição com o partido no poder, seria, pouco depois, seguido por uma elite de pessoas que não trocaram a decência pelo trono. Delúbio Gonçalves et caterva expulsaram Heloísa Helena e os militantes do PT que não se conformaram com as alianças espúrias que desmentiam, na prática, todos os postulados da pregação anterior. E ainda nem sabiam - os decentes - que os indecentes estavam pagando por essas alianças.

César Benjamim, que você bem conheceu e que considero dos mais lúcidos analistas políticos deste país, fundador do partido e militante até 1995, sentiu que Lula era o protótipo do diagnóstico de Oswaldo Aranha sobre o Brasil - "um deserto de homens e de idéias" - e desligou-se, expondo os motivos de sua malograda esperança.

Você, Carlito, assim como outros companheiros, dilatou a sua esperança e continuou apostando naquilo que acabou sintetizando a esperança de uma grande maioria. Você não teve tempo de ver a esmagadora vitória do "oPTtei" e do "Lula-Lá", duas de suas muitas criações.

Dia desses, Carlito, Elio Gaspari, que conseguiu editar a história mais abrangente e factual dos 21 anos da ditadura militar, lembrou os três presidentes eleitos sob a égide da honestidade e da ética. Jânio Quadros e a sua vassoura -símbolo da faxina contra os maus costumes - foi desmascarado pela filha, pois tinha conta na Suíça? Collor inventou uma campanha contra os "marajás", foi eleito e quando descobriram que ele queria ser o Marajá I & Único,  deram-lhe um pontapé na?

Carlito: grande parte do nosso povo, hoje, está gritando que o rei está nu. Lima Duarte, que nós aprendemos a irar desde os primeiros programas de televisão, em 1950, disse em entrevista recente que o Lula é um idiota, um imbecil, um ignorante que glamouriza a ignorância. Para o Lima Duarte expressar-se nesse nível, acredite Carlito, quem baixou o nível não foi ele, nível já tão subterrâneo que uma deputada petista dançou no plenário para comemorar a absolvição de um colega corrupto.

Carlito: este deveria ser, apenas, um bilhete afetuoso e saudoso. Imaginei sua ira se eu o fizesse, deixando de confessar que vou bem, obrigado, mas minha cidadania foi conduzida para um chiqueiro onde convive, compulsoriamente,

com porcos. Em situação igual, o Hamlet shakespereano teria dito: "O reino da Dinamarca está podre!". Lembrei-me, Carlito, de seu eterno bom-humor e acrescento: é a desordem natural das coisas.

Carlito, ia despedir-me, mas Álvaro Moreyra escreveu "As amargas, não!" e eu não quero ser porta-voz só das amargas.

Sei que você sabe que o rei Roberto Carlos, semana ada, completou 65 anos, pois você nunca esquece datas.   Minhas filhas guardam, até hoje, os telegramas de boas-vindas ao mundo e, ano a ano, pelos seus aniversários. A primeira vez que não chegou seu telegrama, eu já sabia que você estava muito doente.

O Roberto deve a você o antigo bordão "é uma brasa, mora" e toda a "realeza" deve também o programa que a Magaldi, Maia Propaganda colocou no ar, em 1965, na TV Record. Assim como Ronaldo Bôscoli criou a expressão "Bossa Nova", você cunhou "Jovem Guarda". Alguém desconfiou que esse batismo se deve a uma frase do Lênin? Festejemos o aniversário do rei com as palavras dele mesmo:

 

Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada, amigo de tantos caminhos de tantas jornadas Cabeça de homem mas o coração de menino, aquele que está do meu lado em qualquer caminhada. Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro, você tantas vezes provou que é um grande guerreiro?

 

Um abração. A gente se vê.

Inté