Semana ada, escrevi que o desastre em Congonhas mandou para o congelador a crônica que festeja minha travessia do Rio São Francisco. 4s6s3
Agora, e-mails recebidos sobre o acidente (?) de Congonhas condenam aquele texto a esperar sua vez, igual a ageiro em fila de espera do vôo.
Num verdadeiro bate-pronto, a amiga Maria do Carmo Wajnberg enviou-me trecho sonoro do discurso do deputado federal gaúcho Julio Redecker, das mais candentes vozes do I do "Apagão" e que, com provas irrefutáveis, provou que os crimes aéreos tiveram, em 2005, co-autores na Casa Civil da Presidência, os quais recusaram todas as vozes da prudência e mantiveram um corte orçamentário na verba destinada a minorar o caos. Outro amigo, Magino Carlos, foi o segundo participante, no meu endereço, dessa corrente que, multiplicada pela internet, massificou o conhecimento do fato. Por irônica e trágica coincidência, Júlio Redecker foi uma das vítimas do crime de Congonhas.
Amiga de Porto Alegre, a designer Renata Rubim, no final da semana atrasada, promoveu um workshop em São Paulo e eu mandei-lhe um e-mail: "Na sua volta, "espero" que sua "espera" no aeroporto não tenha o tamanho da minha amizade". Na volta, já em casa, mandou-me um e-mail cujo título é a síntese da denúncia: "É tudo indecente". Alguns trechos: "? o que eu tive que agüentar nos aeroportos foi inenarrável e - mesmo assim - foi muito menos ruim do que tantos outros brasileiros am e aram. Resolvi não viajar mais nesta situação de caos aéreo. No dia do desastre, aquele avião tinha vindo de SP e meu filho Gabriel tinha vindo nele? O workshop foi ótimo?, aí ontem uma aluna me deixou em Congonhas e fiquei numa fila curta por duas horas e sempre com a informação de que não haveria mais nenhuma decolagem. Quando, enfim, cheguei no balcão do check-in, perguntei sorrindo ao atendente se ele achava que eu poderia embarcar. Ele olhou-me e disse que era o primeiro sorriso que ele via no dia e ficou com os olhos marejados. Eu fiquei desconcertada. É chocante tudo isto. Fico muda de agora em diante. Cansei!" Renata colocou um "PS" avalizando minhas palavras no "PS" da crônica e que se referia ao Lula no Maracanã: A vaia foi a expressão sadia de quem só vê o aeroporto como a saída para o brasileiro. Ou melhor, o cais.
A atriz Nilda Maria, de São Paulo, mandou-me a condecoração do seu ofício: Aplausos! Mônica Magaldi, do interior paulista, junta seu protesto com as mãos na palmatória: "Querido amigo, concordo com você. A maneira como este país e nós cidadãos estamos sendo tratados é indecente. Merece vaia mesmo. Eu também acreditei e votei no homem; hoje lamento minha cegueira. Beijos". Aos amigos Fernando Gameleira Filho e Gustavo Borges Lopes, à cunhada Lúcia Aguiar e a seu irmão Francisco Cunha, aos sobrinhos Márcia Varuschin e Carlos Eduardo Cunha torno públicos os agradecimentos pessoais. Idem quanto a Flávio Tavares, o jornalista e escritor - de codinome Dr. Falcão nos anos de chumbo -, que no domingo, 22, publicou em Zero Hora artigo com idéias gêmeas à deste colunista sobre o assassinato em Congonhas.
Cyro Del Nero, amigo-irmão, amizade eterna iniciada à sombra da Biblioteca Municipal de São Paulo, de quem já publiquei aqui, além de texto assinado por ele, uma crônica minha sobre esse professor de cenografia da USP aprovado por concurso, e de São Paulo, recebi um e-mail curto e lúcido, com final patético:
"Mariolino:
(Quando cometemos os piores atos, sempre temos o Bem em mente (ainda que seja apenas o nosso próprio). O fato de que a nossa visão do Bem é tomada equivocadamente é que a transforma em Mal. São Thomas de Aquino.")
O Mal é um equívoco sobre o bem. O crime é um equívoco sobre o Bem.
Aquele cara se decidiu por fazer o Bem para si e para os outros: matou a família e foi ao cinema.
A presente situação brasileira é definida apenas pela visão do que é o Bem.
E têm sido inúmeros os equívocos sobre o Bem.
O primeiro foi o fato de que se julgou alguém apto para dirigir um navio sem ser um capitão de navio.
O segundo foi reelegê-lo presidente da República.
Mas ninguém poderá agir em favor da ética da comunidade sem conhecimento. Para que haja conhecimento que gera a ética, teremos que esperar a formação de diversas gerações. A não ser que um líder consiga gerar uma consciência do Bem.
Estou desesperado e acabo de enviar meu currículo a uma Universidade no Canadá.
Um beijo do Cyro."
Antes de mandar a crônica anterior para o meu editor de Coletiva, Vieira da Cunha, atacado por algumas dúvidas, socorri-me da psicóloga Vera Verissimo que, em 1958, ainda Vera Gomes, protagonizou a personagem feminina da minha montagem de "Romeu e Julieta". Vera deu-me sugestões acolhidas e agradecidas, inclusive para modificar trecho do texto que se referia ao Lula vaiado e onde escrevi que Sérgio Cabral, o filho, governador fluminense "? teve o descaramento de afirmar que ninguém em sã consciência teria coragem de vaiar Lula. Insano é a mãe, diria eu, não fosse o imenso afeto que tenho pelo maridão dela ".* Hoje, mais descontraído, resolvo pedir licença à querida Vera e ao leitorado para expressar o sentimento original: Senhor Governador, vá à merda.
Inté.
* A crônica (Assassinato no aeroporto e o insano Sérgio Cabral Filho) que deu origem a esta permanece no site coletiva.diariodoriogrande.com, assim como o oportuno comentário da minha colega aqui, jornalista Maristela Bairros.