Hamlet ? Palavras, palavras, palavras… 1m2t35

Deus me deu um amor no tempo de madurezaQuando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme*(Drummond) Eu era um adolescente quando … 1l1u47

10/09/2007 00:00

Deus me deu um amor no tempo de madureza Quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme* (Drummond) 566q1n

Eu era um adolescente quando minha irmã mais velha - Célia - emprestou-me um livro, chamando minha atenção pelo inusitado da forma. Era a "Rosa do Povo", de Carlos Drummond de Andrade.

O impacto foi tão grande que me obrigou, quase de imediato, a ir à biblioteca e mergulhar na obra anterior do poeta. Diga-se que, naquela década de 1940, as antologias literárias escolares ainda não traziam os poetas ditos modernistas, ou seja, as antologias abrangiam só até Bilac e tantos outros grandes poetas parnasianos.

Eu, que já estava atualizado no romance, iniciei minha "auto-ajuda" na poesia modernista através dos livros do mineiro de Itabira, cuja primeira obra publicada, em 1930, foi "Alguma Poesia". Antes daquele "Rosa do Povo", de 1945, Drummond já havia lançado "Brejo das Almas", "Sentimento do Mundo" e "José".

Em 1958, na minha segunda ida a Porto Alegre, eu já estava íntimo dos melhores dos nossos poetas e estava procurando uma forma nova de colocá-los no palco, distante dos recitais convencionais de Margarida Lopes de Almeida, da declamadora russa-argentina Berta Singerman  ou do ator português João Villaret, os quais, quando aconteciam em São Paulo, faziam meu amor pela poesia encontrá-los no Teatro Municipal.

Nem mesmo o quarteto masculino criado pelo ator Ruy Afonso, em 1955 ? leitura conjunta de poemas, com efeitos vocais, Os Jograis ? satisfazia minha inquietude em busca do novo, do inédito. E daí nasceu "Poetas & Poemas".

A imensa releitura da poesia modernista determinou a eleição daquilo que eu considerava ível de ganhar uma roupagem cênica. E começaram os ensaios dos versos de Ascenso Ferreira, Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ledo Ivo, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Mário Quintana, Raul Bopp e Vinicius de Moraes.

"Abrem-se as cortinas do Theatro São Pedro, quase totalmente lotado, e começa Poetas & Poemas, o espetáculo que mais mexeria com minha adrenalina em toda a vida. Pudera, nem os artistas haviam feito coisa parecida e nem o público havia visto algo semelhante àquela proposta inédita. Duas atrizes e quatro atores, seis jovens, com gestual e marcações teatrais, criavam, em conjunto, um clima poético, revezando momentos dramáticos, líricos, nostálgicos, ternos e engraçados. Algumas cantigas e uma iluminação, que só faltava declamar também, condensavam uma experiência estética que eu conseguira botar para fora. Ao final do segundo poema, A Partida, de Augusto Frederico Schmidt, o teatro explode em aplausos. Quando os spots se apagam e o pano se fecha, duas únicas palavras rompem os incessantes aplausos de uma platéia em pé: "Bravo! - Bis!"

Ainda em dezembro daquele mesmo ano, três meses de fundação do nosso Teatro de Equipe, depois de apresentações de "Poeta & Poemas" em Montevidéu, a mesma proposta cênica ? agora com a direção dividida com Paulo José, que estreava na função, cada um dirigindo os poemas de sua própria escolha - "Rondó 58" ganhava os aplausos do público e da crítica, além de uma excursão para o Rio de Janeiro e a recomendação oficial da adida cultural da França para apresentações em Paris. 

ado tanto tempo, Paulo José e eu ainda trocamos  revelações sobre o que a poesia acrescentou às nossas vidas, inclusive dando respostas às nossas inquietações existenciais.

Quando, há pouco mais de 30 anos, assim como Drummond, fui atropelado por um amor maduro, o poeta já havia me ensinado que "onde não há jardim as flores nascem de um secreto investimento em formas improváveis".

Quando na estréia do "Inspetor Geral", de Gogol, espetáculo dirigido por Paulo José, para O Galpão, apresentei minha filha Rachel para Maria Carmen Gómez de Souza - mãe dele e de seus quatro irmãos, Carmensita reagiu assim:

? Então você é minha neta, pois o Mario é meu sexto filho.

Bem, meu irmão Pablito, mais sua filha Bel Kutner, estão no último e pequeno quadro do "Fantástico", em "Palavras", uma generosa e enriquecedora oferta de poesia.  

Inté.