Brasil? Fraude explica 39491f

Copacabana, sábado à tarde, verão de 1967.Lara, a companheira gaúcha, e eu oferecemos uma feijoada para Lu e João Carlos Magaldi, Teresa e Carlos … 6i4c2j

27/03/2006 00:00

Copacabana, sábado à tarde, verão de 1967. Lara, a companheira gaúcha, e eu oferecemos uma feijoada para Lu e João Carlos Magaldi, Teresa e Carlos Prósperi, Lídia e Osvaldo Assef, todos cariocas por opção. O único "paulistano" convidado era o mineiro Carlos Maia de Souza, responsável por uma "marca" já consagrada na propaganda: Carlito Maia. Quando o almoço estava na etapa do licor e do cafezinho, alguém notou a ausência do Carlito. Como ele ainda vivia uma fase de muitos e grandiosos pileques, a apreensão foi geral. Procurei-o no apartamento e, de fato, ele não estava. Carlito permanecera sóbrio desde sua chegada e ninguém percebera algo de anormal em sua conduta, como sempre alegre e brincalhona. A gente achava impossível ele ter saído à cata de bebida, pois o meu botequim estava estocado, desde a caipirinha com os limões que ele trouxera de São Paulo ao escocês que ninguém trouxera do Paraguai, tudo totalmente franqueado aos presentes. Mesmo assim, a apreensão existia. Decidida a estratégia de cada um dos homens "varrer" um determinado segmento do Posto 4, incluindo a batida em todos os botequins, bares e restaurantes, saímos à caça e, horas depois, a gente sabia não ser, aquele dia, o dia do caçador. Quando fui levar garrafas vazias à área de serviço, o acaso tranqüilizou a todos: Carlito pagava o imposto de pessoa muito magra que comera muito e dormia na cama da empregada. Carlito Maia, reservista de 2ª categoria, jamais freqüentara qualquer tipo de curso, além do cursinho compulsório da FAB que, como sargento, serviu em Natal, quando o Brasil engajou-se com os aliados na Segunda Grande Guerra. Aos 30 anos, em 1954, levado pelo irmão, o publicitário Hugo Maia de Souza, entrou para a Escola de Propaganda do Museu de Arte Moderna, em São Paulo, através de um exame no qual foi o primeiro colocado. Era o encontro de um predestinado com a vocação que o incluiria entre os 100 mais importantes publicitários brasileiros do século XX, escolha feita entre profissionais da propaganda e onde consta, também, o nome de João Carlos Magaldi, seu companheiro na direção da Magaldi, Maia Propaganda. Carlito é o 16º da relação. Por ser o brasileiro que era, ainda em vida teve a honra de ter seu nome eternizado pela revista Imprensa com a criação do Troféu Carlito Maia de Cidadania. Fundador apaixonado do PT, jamais filiou-se ao partido, alegando que seria oposição assim que o PT assumisse o poder. E criou para o partido o "oPTei", o "Lula-lá" e o slogan que acabou em música "Sem medo de ser feliz". Premonição ou não, antecipou: "Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita". E, inspirado na história pátria, cunhou a frase que emprestei para o título desta crônica: Brasil? Fraude explica. Com Carlito, valia sempre a sua palavra, mas o livro de sua autoria chama-se "Vale o escrito", cujo conteúdo justifica uma de suas frases:  "Uma vida não é nada. Com coragem, pode ser muito". vj5w

Carlito, através da vida, justificou a frase. Generoso e bem-humorado, mandou-me uma vez um livro sobre dignidade com o bilhete: "Mario, ainda bem que tenho pouquíssimos amigos para dar esse maravilhoso livro, pois ficaria ainda mais pobre do que já sou". Minha resposta: "Carlito, Francisco de Assis ficaria invejoso com a espécie de tua fortuna". E eu fiquei com inveja dele quando, em 1985, Emilio Garrastazu Médici, despedindo-se da vida para não entrar na História, foi saudado por Carlito na página política dos principais jornais de São Paulo com o registro de "Por uma graça recebida". E que graça! Há quase dez nos, fui jantar em Londres com o casal de publicitários Maria Eunice e Filippelli, quando este me anunciou: ? Morreu o Geisel.

? Ótimo! Enche o meu copo, por favor. Chegando ao Brasil, soube que o Carlito novamente agradecera, pela imprensa, a graça recebida. Uma desgraça a menos!!! Quando Carlito, em São Paulo, alfabetizou-se, todos os bondes exibiam o cartazete: "Evitar acidentes é dever de todos", coisa que jamais esqueceu, e depois nos ensinou: "Evite acidentes, faça tudo de propósito". Inté.