A lição de Antoine-Laurent f4x22

Rien ne se perd, rien ne se crée, tout se transforme. (Lavosier)   Edito um pasquim no megacondomínio onde moro e escrevi o texto … 3y4xd

29/01/2007 00:00

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Rien ne se perd, rien ne se crée, tout se transforme.

(Lavosier)

 

Edito um pasquim no megacondomínio onde moro e escrevi o texto abaixo, com antecedência, como se fosse 31 de dezembro. Os fatos foram diferentes e encaixam-se melhor no Natal.

Sem a mínima pretensão de concorrer com a Missa do Galo, de Machado de Assis, ou com O Peru de Natal, de Mario de Andrade, mas com a máxima intenção de aumentar o registro dessa quase eterna  irresponsabilidade de nossas istrações públicas, aproveitei a lição de Antoine-Laurent Lavoisier e mudei a data e referências a ela. 

Espero que o aproveitamento, pelo menos, seja quase saboroso como um "arroz-de-puta-pobre" ou um "virado à paulista".

  *** 

Diego, o cucaracho, chegou ao Tom Jobim às 14h, com bilhete para Buenos Aires marcado para as 16h. Sabia dos problemas e das informações contraditórias sobre os atrasos dos vôos. Do presidente da República até os engraxates do aeroporto, ninguém se entendia. Tentara viajar na véspera, mas a morosidade das repartições? 

Já combinara com a namorada que a ceia seria na casa dele, em Santelmo. Logo na entrada do aeroporto, percebeu o caos evidente. Consultou o de partidas e suspirou resignado, a previsão era para as 19h.

No balcão da Aerolineas Argentinas fez o check-in e livrou-se da bagagem. Dirigiu-se a um telefone, conseguiu falar com Mercedes, a namorada, informou a previsão, pediu que ela dissesse ao sócio que estava tudo legal e avisasse sua mãe que chegaria atrasado, mas a tempo para a ceia tradicional. 

Foi para o bar, o ar-condicionado era precário para tanta gente, sentia calor e socorreu-se de um chope. A bebida gelada caiu bem e ele repetiu. Limpou os lábios e foi até a ala nacional, dar uma "geral". Viu um povo em roda e aproximou-se. Assistiu interessado, por uns 20 minutos, a uma exibição de capoeira, com todos os jogadores usando cintos de cor azul-amarela. Diego, que nunca ouvira falar em berimbau, ficou irando o instrumento e, curioso, perguntou a um senhor o motivo daqueles cintos coloridos. Um baiano ao seu lado foi logo dizendo: "Ò xente, esse pessoal aí é de craques, esse cinto é igual à faixa preta nas lutas orientais". Ofereceu batida de limão na garrafa mesmo e Diego resolveu aceitar, dando um grande gole. Depois de embarcar em outra rodada da batida, agradeceu e continuou o giro. Ouviu músicas de um coral gospel, viu um monte de gente dormindo amontoada em bancos e no chão, foi tomando chopes e urinando e quando faltavam 15 minutos para a meia-noite, começou a dar telefonemas para a namorada, para a família, para o sócio, desejando-lhes um Feliz Natal. Quando o sócio, já de brincadeira, desejou-lhe boas entradas em 2007, ele foi rápido:

? Mas, che, eu só quero sair!

Desligou o telefone e, quase ao seu lado, formara-se uma roda animada de samba, e uma linda mulata, rebolando, chamou-o de forma provocadora. Diego não se fez de rogado e, mesmo sendo um exímio dançarino de tango, seus os desengonçados revelaram que, no samba, era gringo. 

Quando alguns familiares começaram a se abraçar e beijar, houve uma reação em cadeia e conhecidos e desconhecidos deram sucessão a um ritual fraterno. O bordão era único: Feliz Natal! Diego aproveitou e deu um amasso na mulata que, alegre, deu um amasso nele. 

A festa continuou e encharcado de suor e meio de pileque, já ava das três horas da madrugada do dia 25 de dezembro, quando Diego entrou num Boeing da Aerolíneas. 

Ao desembarcar no aeroporto de Ezeisa, quase na alvorada, uma Mercedes insone e estremunhada beijou-o, dizendo: Feliz Natal! Então?

- O Brasil tem o pior governo do mundo. E o melhor povo!