A Estranha ? IV 2n4q3c

Delegada da Polícia Federal! aram-se sete dias de expectativa, mais demorados que os sete anos dobrados que Jacó serviu de pastor a Labão, pai … 61435y

27/11/2006 00:00

Delegada da Polícia Federal! 5qh3u

aram-se sete dias de expectativa, mais demorados que os sete anos dobrados que Jacó serviu de pastor a Labão, pai de Rachel.

Foram sete dias de permanente alerta para não roer unhas. Sete dias em que cada toque do telefone sobressaltava um coração em espera.

Levantei o fone diversas vezes para ligar para o Márcio mas, envergonhado com a tolice do gesto, desistia. Era evidente que ele, assim que tivesse algo para me dizer, diria.

Mais que de um acaso insólito, eu era a vítima de um fato inusitado e imprevisto. Algo parecido com paixão explodira dentro de mim, sem lógica nem explicação. Enquanto estranhos sentimentos misturavam-se entre si, apeguei-me, como nunca, à razão. Lógica, apelos radicais ao bom senso alternavam-se a momentos de profunda ansiedade e angústia.

Era segunda-feira, chovia muito, o Rio estava com zonas alagadas, o termômetro oscilava na faixa de 18 graus, e aquele clima, como sempre, levava-me à introspecção. Os dias anteriores haviam sido de tanta agitação interior que me aliviei com aquele estado de espírito mais tranqüilo. Baixei as armas da ansiedade e relaxei.

Márcio ao telefone! O amigo disse-me o que eu já me declarara, pelo tempo decorrido, como certo: não havia a menor possibilidade daquele retrato falado, fiel ou não, ser de alguém dos quadros da Polícia Federal. Agradeci, senti-me na obrigação de retribuir a gentileza e o convidei para almoçar. Márcio agradeceu, alegou muito trabalho e disse que aceitaria em outra ocasião, acrescentando rindo:

- Assim que você encontrar o "avião", a gente almoça e você me conta tudo.

Não havia mais dúvidas, assim como não se chamava Regina Pádua Ramos, a estranha também não era delegada da Polícia Federal.  Uma mentira desmentida pela própria mentirosa e outra pelos fatos.

Era óbvio, então, que aquela falsa identidade fora usada com o objetivo da estranha descartar-se de mim. Ela não queria ser abordada outra vez num eventual, ainda que improvável reencontro. A falsa identidade fora usada como uma ameaça velada. Eu tinha nítida, na lembrança, a frase dela que, agora, me soava como advertência:  "Desculpe-me, esqueça tudo. É melhor para nós?"

Cada explicação que eu encontrava para cada acontecimento levantava novas perguntas e todas pertinentes - na tarde em que ela entrou no bar da Zona Sul, duas únicas mesas estavam com um único ocupante -, se ela queria abordar o tal do Milton, qual o motivo de sentar-se à  minha mesa, e não à mesa dele? Essa pergunta era de difícil resposta.

Eu estava caminhando na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, com os pensamentos voando em torno do destino, daqueles fatos produzidos pelo acaso e que, de repente, detonam  grandes acontecimentos, descobertas, tragédias? Minha cabeça viajou para a estrada que leva a Tebas onde Édipo, sem saber, mata o próprio pai? Há uma palavra, acho que árabe, não me lembro qual, que se refere à predestinação, ao inevitável do "estava escrito".

Na esquina com a Rua Vinicius de Morais, meu coração disparou. Ao volante de um Vectra prateado, ela aguardava o sinal verde que, de imediato, acendeu? CH 3241, captei de imediato, enquanto o carro sumia no trânsito. Fiquei repetindo o CH 3241 até pegar a caneta e papel.

CH 3241.

Maktub! Essa a palavra. Estava escrito!

O destino não quis colocar ponto final nessa minha prolongada aflição.