Era uma vez, no século ado, uma turma de jovens totalmente heterogênea que se reunia, no mínimo, durante quatro anos, quase todos os dias da semana, num prédio da Avenida Ipiranga. No campus da PUC, alunos da Famecos do primeiro semestre daquele ano traçavam o futuro do país e os mais ousados imaginavam mudar o destino do mundo. E alguns acreditavam impiedosamente que isso era possível ou que ainda é. Afinal, a entrada deles na universidade coincidia com a abertura política no Brasil, com o nascimento do novo sindicalismo e o verbo preferido para ser conjugado era mesmo acreditar e protestar. 3s1a4c
Não havia uma festa dos ?bixos? da Comunicação Social da PUC daquele ano de 1979 (me entreguei?) em que não fosse cantada em tom animado pelos participantes a música de Geraldo Vandré, denominada ?Prá não dizer que não falei de flores?. Depois de alguma turbinada básica para animar os ânimos, sempre alguém puxava o ?caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não?. Tudo servia como ingrediente para fermentar uma tese, uma reunião, um café no bar da Famecos, uma ida combinada às pressas para a casa de alguém na praia ou na Serra.
Nas escolas, nas ruas, nos campos, nas construções pessoas e profissionais, como sugere o prosseguimento natural da vida de qualquer normal, cada um, terminada a faculdade, seguiu seus caminhos. Mas, sobraram muitas lembranças, memórias, sonhos, promessas e os desejos costurados com a linha da esperança e da juventude. Fotografias em preto e branco de um tempo que não volta mais. Páginas da história de uma juventude, na sua grande maioria, hoje beirando os ?enta?, que com raras exceções, seguiu a carreira avalizada pelo diploma em Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas.
Será que a turma ainda depositaria, nos dias de hoje, tanta energia nas suas utopias? Será que a turma não esperou acontecer, e fez a sua própria hora? Será que os egressos do curso de Jornalismo, que gostavam de carregar o rótulo de mais engajados, ainda marcham nas ruas, em indecisos cordões, na defesa de suas idéias? E as meninas, aparentemente mais quietas, do grupo de Relações Públicas, o que andariam fazendo? E qual foi o destino dos criativos e criativas que ganharam o diploma em Publicidade e Propaganda?
Depois de tanto tempo, o povo resolveu que ainda havia tempo de se reencontrar e, quem sabe, fazer da flor o mais forte refrão. Foi uma busca incessante de nomes e nomes pelo Orkut, pelo Google, nas redações, nas agências. Uma indicação terminou levando a outra. E a ?Saudosa Maloca?, nome da turma, foi reunida. Ainda faltando pedaços importantes do cerébro da turma da Famecos 79/1. Assim, como se a maloca não pudesse ser reerguida. Com a promessa de se procurar, em todos os minutos disponíveis, os que não puderam comparecer, para a próxima festa, que deverá ocorrer perto do Natal.
O primeiro reencontro serviu para reforçar que a memória da nossa adolescência é difícil de se enterrar. Os primeiros abraços, após a distância, inundaram de carinho os corpos mais calejados dos adultos que hoje sustentam o mundo. Já não são mais soldados. Já não trazem mais armas na mão. Mas, ainda têm a certeza na frente, a história na mão.