Hoje, início de agosto, mês do desgosto e do cachorro louco (será?), vou dedicar a coluna ao amor, em todas as suas expressões mais vivas, respeitosas e verdadeiras. Sim, porque quando existe um resquício que seja de mentira e desrespeito, não há mais amor, ele já morreu sem marcha fúnebre. Não pensem que estou amando loucamente o namoradinho de uma amiga minha (ahahah). Nem delirem supondo que estou ficando com algum menino que poderia ser meu sobrinho (não sou completamente louca e nem tenho dinheiro como as poderosas quarentonas da TV). Deletem qualquer tipo de namoro. Por enquanto, ok?
É que ao ear com Gabriela no shopping após um cineminha básico, na tarde gélida de sábado (escrevi?), descobri uma liquidação de DVDs e juntei as moedinhas para comprar o que assisti depois do jogo de vôlei. MPB da boa. Apenas o DVD do show "Maricotinha ao Vivo", de Maria Bethânia. Eis que de repente ela começa a declamar algo sobre o amor (que isso é bem típico de Bethânia nos seus shows). E o texto mexe comigo demais. Simplesmente porque descreve o amor que todos já sentimos da forma mais linda como ele é. Fala dos afetos e desafetos, dos beijos e dos tapas, da solidão e do aconchego. Só o amor.
Procurei em vários sites de busca e não encontrei seu autor (talvez o amável Mário, colega das segundas-feiras aqui no Coletiva, que tem mais memória e conhecimento, me socorra). Consta, apenas, que o texto "Quando o amor vacila" é de autor desconhecido. Mas, vai lá um trechinho para vocês começarem a saborear. "Eu te amo pelas tuas faltas, pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas em minha vida. Eu amo as tuas mãos. Mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas". Ah, concordam que é lindo? E eu que amo as minhas mãos mesmo e nunca tinha pensado sobre este viés.
Atire a primeira pedra quem nunca amou deste jeito tão dolorido que a gente nem percebe mais quando dói. Esse amor delirante a que me refiro - acho que só ocorre uma vez na vida - é capaz de fazer a gente protagonizar cenas grotescas ou hilárias, como adora classificar Gabriela. Relatei para ela que, na faculdade, com a ajuda de duas amigas da Saudosa Maloca, saía no estacionamento da PUC a procurar um corcel II azul escuro de um cara que eu amava muito e sempre pulava Carnaval com ele, para colar figurinhas de "Amar é" (um álbum de coleção de anos idos do século ado). Ele nunca descobriu ou me odeia até hoje.
Esse amor que deixa a gente, literalmente, sem vergonha, ou melhor, sem senso de ridículo, é descrito pelo autor desconhecido com uma propriedade de fazer inveja do jeito que ele brinca com as palavras. Porque a gente quando ama mesmoooooooooo, termina relevando a tampa da privada levantada, a toalha molhada em cima do edredom novinho, a caixa de leite vazia dentro da geladeira. Falando só nos itens domésticos. Nos primeiros meses é uma eterna lua-de-mel. Amor, amor e beijinhos e beijinhos sem ter fim. Mas, às vezes, acaba e vira uma eterna lua de fel. Não deveria. Se ao amar as pessoas partilharam tantas coisas, depois não conseguem partilhar o respeito?
Vou confessar algo que a maioria já sabe. Amo enlouquecidamente a minha filha, a minha família, amigos e amigas mais fiéis. No entanto, depois de gravar na minha memória as palavras do texto declamado por Bethânia, fiquei com vontade de amar mais e mais e mais outras pessoas. Só para poder dizer um dia: "Eu te amo nas horas infernais, e na vida sem tempo, quando sozinha eu bordo mais uma toalha de fim de semana. Eu te amo pelas crianças e futuras rugas. Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas. E pelos teus sonhos inúteis. Amo teu sistema de vida e morte. Eu te amo pelo que se repete. E que nunca é igual?".