Circula pela Internet um email daqueles que tem milhões de remetentes com uma descrição perfeita da profissão de jornalista, que muitos já devem conhecer, mas que peço gentilmente emprestado ao seu autor , ao liberar para os homens o conhecimento sobre como ser jornalista,determinou que esse ?saber privilegiado? ficaria a um grupo muito pequeno. Evidente que, nesse pequeno grupo, onde todos se consideram um pouco ?semi-deuses?, um dos membros resolveu trair as determinações divinas e estava armado o caos. 6p22j
O traidor, ao provocar a raiva de Deus, motivou uma lista de castigos impostos pelo superior que acompanharia a nossa profissão de jornalista até o final dos dias. Separei algumas penalidades exibidas a seguir: ?não terás vida pessoal, familiar ou sentimental; não verás teu filho crescer; não terás feriado, fins de semana ou qualquer outro tipo de folga; terás gastrite, se tiveres sorte, se for como os demais, terás úlcera; terás tendinite nos pulsos; a pressa será teu único amigo e as refeições principais serão os lanches, pizzas e McDonald?s; o trabalho será teu assunto preferido, talvez o único; exibirás olheiras como troféus de guerra?.
Nada poderia, no entanto, ser mais superior e profético do que a sentença final do castigo divino. ?O pior é que, inexplicavelmente, o jornalista gostará de tudo isso?. Mesmo reclamando da falta de tempo para tudo, da ausência de um planejamento da vida particular, se é que vocês, colegas, me entendem (ou não conhecem essa situação?), do aparecimento de doenças causadas por Lesões Repetitivas de Esforço, da carteirinha de sócio de fast-food, a gente ainda gosta de tudo isso que nos assegura o pão nosso de todo dia.
Só mesmo a maldição de Deus para justificar o imenso número de novos profissionais de comunicação que deixam as universidades anualmente; o incessante eio nas redações para entregar currículos; o crescente reencontro de colegas nas salas de espera de médicos especializados em doenças intestinais. A paixão pela profissão, mesmo conhecendo as ?dificuldades?, leva centenas de jornalistas à boêmia para conversas sobre adivinhem o quê? Jornalismo, é óbvio. Mas, é a mesma paixão que deixa os jornalistas estressados, sempre com olheiras, com refeições puladas e poucos minutos divididos com a família.
Essa ligação umbilical que o profissional mantém com o jornalismo se fez marcante na minha rotina nos últimos dias. No jogo de estréia da Seleção Brasileira, enquanto a torcida inteira se acotovelava em busca do melhor ângulo defronte a televisão nas suas respectivas casas, os jornalistas que trabalham em redação, torciam para que suas pautas permitissem acompanhar uns minutinhos da partida. Como o jogo coincidia com a data de Santo Antônio, tive que fazer a largada da procissão na igreja do santo casamenteiro, exatamente uma hora antes do pontapé inicial. Imaginei que a procissão estaria esvaziada em função da Seleção Brasileira. Milhares e milhares de fiéis foram prestar sua devoção ao Santo.
Em nenhuma outra profissão, é possível acompanhar duas paixões tão genuinamente populares e, por isso, autênticas, a não ser no jornalismo, como a religião e o futebol. Pauta cumprida, cheguei na redação e faltava redigir as matérias, o que me permitiu acompanhar a largada da seleção. No meio de outros colegas que também estavam no exercício da profissão. Em qual outra profissão é possível dividir momentos tão importantes, como uma estréia da seleção, junto com colegas como eu, com opiniões diversas, ídolos diferentes, palpites espalhafatosos e que se travestem de treinadores, como todos os brasileiros ? Realmente, em nenhuma. Ser jornalista tem dessas coisas que surpreendem, encantam e emocionam todo o dia.
Uma visão privilegiada da vida com todas as suas emoções é o que Deus nos deus de presente de carona com a sua maldição divina. Por isso, não estranhei minha resposta no questionário de uma das comunidades que participo no Orkut. Perguntada sobre o que eu seria profissionalmente se pudesse escolher novamente e recomeçar tudo, imediatamente escrevi: jornalista, jornalista, jornalista e jornalista. Sem pensar duas vezes. Eu seria jornalista novamente quantas vezes me fosse dada a oportunidade de recomeçar.