O período que se inicia no dia 9 de maio, quarta-feira da próxima semana, requer muito cuidado e delicadeza das pessoas que convivem comigo. É quando entrarei no meu inferno astral, que, pela definição do zodíaco, são os 30 dias que antecedem a data do aniversário. Como boa geminiana (ascendente, sol, lua, Vênus e tudo o mais em gêmeos) acabei de, sutilmente, lembrá-los do meu aniversário (ihihih). Gosto de ser bajulada. Mas, ao mesmo tempo, estou avisando, pelo menos aos mais próximos, que estarei mais sensível, emotiva, sujeita a chuvas, trovoadas e rajadas fortes. 346q4l
Antes que o inferno astral (ai, que arrepio só de pensar) se aloje na minha vida, tenho uma semana para me divertir com a certeza de que não vou derramar lágrimas e mais lágrimas em qualquer beijo de novela; nem me emocionar à toa com um simples gesto de carinho; nem me envolver demasiadamente com os problemas alheios e nem tentar resolver o nó do mundo (ufa). Preciso correr como o coelho maluco (e qualquer semelhança não é mera coincidência) da Alice. Não tenho muito tempo e já começo a aproveitar essa semana derradeira que ainda me resta antes de pirar de vez.
Nesses dias, meu lema, mais do que nunca, será "curtir a vida, porque a vida é curta", nome de uma das tantas comunidades inúteis do Orkut. Aliás, a criatividade dos orkuteiros para denominar as tais comunidades é uma coisa fantástica (aí já é outro assunto). Característica vital de toda geminiana é misturar tudo, fazer mil coisas ao mesmo tempo (estudar, ver TV, falar ao telefone, conversar?.), ser preocupada, desencanada, curiosa e falar muito. E talvez um grande defeito da geminiana também seja a mania de fuçar em tudo, querer saber sempre mais além.
Graças a esse último defeito citado acima (um dos poucos que tenho, imagino?hehehe?), encontrei, no Orkut, um pensamento do meu ídolo/herói Caio Fernando Abreu que servirá para me respaldar nos dias difíceis e longos de inferno astral. "De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite, descobrir um motivo razoável para acordar amanhã", profetizou Caio. Parece sob medida para os meus dias de solidão acompanhada e de noites mal dormidas que podem me perturbar e me tornar uma criatura IN-SU-POR-TÁ-VEL no meu inferno astral.
É claro que a experiência de uma certa quilometragem já me forneceu algumas dicas para superar os dias do inferno astral que, às vezes, nunca têm fim. Devo estar preparada. Renovei meu estoque de Lexotan, comprei incensos com perfumes que acalmam e harmonizam, alertei a psiquiatra (é nova comigo, coitadinha) de que deve medir melhor as palavras, uma vez que dependendo do meu ânimo "tomada pode sim ser focinho de porco", comprei uns creminhos revolucionários para disfarçar as rugas e iniciei um rigoroso controle alimentar. Isso é muito fashion. Totalmente diferente de dieta, regime ou ar fome??..
Se algum dia, neste mês fatal que começa no dia 9 de maio, eu perceber que estou tão chata, mas tão chata, mas tão chata (sim, leitor, isso pode ocorrer), prometo que não sairei de casa. Trancarei todas as portas e janelas. Para me prender no "Lar, doce lar", comprei um livro sobre MPB que estava super a fim; uns CDs em oferta naqueles balaios (sabem???), até uns DVDs e muitas caixas de água de coco (conselho médico). Vai que tudo isso não me segura em casa num dia em que acordei com aquela idéia de que "o que é que estou fazendo aqui, esse mundo não me pertence", prometo andar com uma placa alertando "Mantenha Distância"
Mas, voltando ao mestre Caio, por mais incoerente que possa ser, depois de tanto aviso de precaução, um certo know-how em inferno astral parece me assegurar que vou sobreviver. Afinal, é impossível não se ter uma única alegria em 24 horas. Ou mais ainda, em cada noite, um motivo razoável para acordar. Minha lista se apresenta, na primeira tentativa, acolhedora: Gabriela Martins Trezzi, suas descobertas e anseios; minha família e sua dedicação; minha saúde quase recuperada; minha vontade louca de voltar ao trabalho e de escrever; meu desejo de acertar; meus amigos; a turma da Saudosa Maloca, a esperança, a vida?..