Aos mestres, com carinho 4v502s

"Não sei…se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o … 1r2l60

15/10/2008 00:00

"Não sei?se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas". 5r96u

Nos versos da maravilhosa poeta (como não há consenso prefiro ao termo poetisa) Cora Coralina, encontrei o ingrediente necessário para fermentar a coluna, que tenta acarinhar os trabalhadores da educação, leitores ou não, no Dia do Professor. Respeito e iro todas as profissões conhecidas pelo simples fato de que qualquer trabalho dignifica o ser humano e contribui para o desenvolvimento social e econômico das nações. Mas, trago, ao longo dos meus anos, um afeto mais do que especial a todos aqueles que me ensinaram a juntar as letras, a amar os livros, a ver além da história ensinada, a procurar a justiça, a ser uma cidadã.

Os meus mestres, no jardim da infância, no 1º e 2º Grau (hoje corresponde a Ensino Fundamental e Médio) e na faculdade, não se satisfaziam com o exercício diário de entrar na sala de aula e colocar no quadro-negro a lição do dia. Traziam nas folhas mimeografadas (ah, sim, nem sempre existia tanta tecnologia) e nas apostilas e polígrafos, a semente da inquietude e da indagação, que poderia fecundar conforme a receptividade do aluno. No meu caso, e isso não significa que eu era a melhor ou mais inteligente, era sempre necessário regar a semente para que novos frutos fossem gerados e o ciclo não se interrompesse.

Nem por isso fui uma rebelde sem causa. Todas as contestações em que lembro ter sido a atriz principal estavam respaldadas em motivos nobres. E a minha indignação com o que se apresenta pronto e definitivo foi, em grande parte, impulsionada pelos professores que me ensinaram a viver. Esta função dos mestres, de ir além de rear os ensinamentos básicos e preparar para a vida, é que fez eu me apropriar do termo "trabalhadores na educação", defendido (não tenho certeza) pelo ers/Sindicato. O professor não é um mero educador (e só isso já seria mais do que engrandecedor). Ele investe pesado na construção da educação.

Existem certas situações na vida que jamais se apagam da memória, independentemente do tempo em que elas se aram. Quando cursava a 5ª série do 1º Grau em um colégio de feiras na Zona Sul, fiquei uns dias sem falar, totalmente muda, nem respondia a tradicional chamada, que também é conhecida hoje como o espelho da turma. Preocupada, a Irmã Leônia, professora da Religião e espécie de regente da classe, convocou meus pais ao colégio para um encontro a fim de saber o que ocorrera comigo. E, ao ser indagada pelos meus pais, antes do encontro, sobre o motivo do mesmo, jurei que nem imaginava o assunto.

A minha mudez era um protesto porque meus colegas da escola não cansavam de implicar comigo me chamando de "tatibitate", comparado ao bullying do século XXI (o que era e é uma baita injustiça, só porque eu tinha um "r" arrastado).  Não faltou a Irmã Leônia atitude, amabilidade e carinho para resolver a situação. Não recordo exatamente o que ela falou aos meus colegas. Mas me ensinou a aceitar as dificuldades, a superar os empecilhos, a ser melhor naquilo que eu tinha de superior e moldar, com jeitinho, os meus pontos fracos, até torná-los tão insignificantes que, se duvidar, sou capaz de deletá-los.

Hoje, ainda tatibitate, agradeço aos mestres com carinho. Aos mais severos e aos mais doces. E sua vocação para ensinar, sua paciência para pedir silêncio, sua dedicação com os filhos alheios, seu silêncio para mostrar a hora de encerrar a bagunça. Ser um trabalhador da educação exige muito, mas muito desprendimento. E, como me ensinou a Magali, grande pedagoga e dona da creche freqüentada pela minha filha Gabriela Martins Trezzi, educar é um ato fecundo de amor.