O dono da vida 4z3j3g

Naquele tempo, logo depois das diligências, quando estrada era tudo carreteira e ônibus não tinha privada, viajei de Bagé a Santa Maria. ava uma … o345o

28/02/2007 00:00

Naquele tempo, logo depois das diligências, quando estrada era tudo carreteira e ônibus não tinha privada, viajei de Bagé a Santa Maria. ava uma hora, se tanto, que tínhamos deixado para trás o restaurante de beira de estrada, levando no bucho uma feijoada que a uns mergulhava em bem-aventurança, a outros, em aflição. 4i6g67

Como ainda havia umas quatro horas de sacolejo pela frente, tentei matar o tempo, ando os olhos pelos demais ageiros. Ninguém de chamar a atenção. Éramos 60 pessoas compartilhando absoluta falta de intimidade. Até os que se acompanhavam, só cochichavam, mesmo as banalidades.

De repente, a modorra se estilhaçou, com a voz estrangulada de angústia saindo de entranhas:

? Pára el coche! Pára el coche!

O motorista guinchou no freio. Um castelhano clinudo veio correndo lá do fundo, segurando a barriga como se recém tivesse sido estripado, e mergulhou na paisagem. Só que era descampado, não havia nenhum atrás-da-árvore.

O ônibus se acendeu em murmúrios. A situação do castelhano era precária. O que fazer, o que não fazer para lhe poupar constrangimento na volta. Um sorriso de compreensão porque a vida tem seus naturais? Quem sabe fingíamos não entender castelhano e não ter percebido o que acontecera?

Pois estávamos todos nestas conjecturas e indecisões, quando o castelhano voltou.  Subiu no ônibus muito senhor de si, estufou o peito com olhar de triunfo, bateu com ruído as duas mãos na barriga e proclamou ao mundo:

? Ahora, si, soy otro hombre! Siga el coche!

Todos baixamos os olhos, encabulados.