Desde o dia em que Caim sentou uma porretada na cabeça de Abel (suponho, a Bíblia não é muito explícita a respeito), o ser humano começou a ter necessidade do sonho para fugir da crueza da vida. 1y6hg
Então inventou os bares, aonde a gente vai pra jogar conversa fora, incluindo a vã filosofia salvadora do mundo, apesar da robusta certeza de que o mundo não se perderá tão cedo.
Mas é preciso coragem para só se pensar na vida e não na morte, para que a fumaça do bar não vire nevoeiro e as nossas fantasias não se transformem em fantasmas, quando não em assombrações. Ao contrário do que as pessoas práticas dizem, é preciso ter os pés muito bem plantados no chão para se poder sonhar.
Tito Tajes (já se mandou do mundo) e eu, plantões do velho Correio do Povo, saíamos para os bares da madrugada, no tempo em que isso era apenas aventura e não temeridade. Em poucas horas, fundávamos impérios jornalísticos, fazíamos megafortunas, enriquecíamos todas as mulheres - as bonitas, por mérito, as feias, por caridade.
Falíamos ao amanhecer, quando íamos curtir o porre nos braços das bem-amadas, as que, afora cuidar dos filhos, discutiam vinténs com o quitandeiro para fazer o milagre diário de multiplicar o parco (acho que porco, também) fim de mês.
Que seria do mundo sem a fantasia?
Mero entrechocar de Bushes e Bin-Ladens.
Decididamente, não me serviria.