Eram os tempos da Guerra Fria, décadas 50 e 60. Os Estados Unidos não podiam invadir a Rússia, e vice-versa. Sobraram outros inimigos: os alienígenas. Os títulos dos filmes são explícitos, como "Guerra dos mundos", "Quando os mundos se chocam". "A invasão dos ladrões de corpos". Coube a Stanley Kubrick, com seu "2001, uma odisséia no espaço", o início da quebra desta paranóia coletiva. 3r6c3h
Já em 1970 temos Steve Spielberg em "Contatos imediatos de terceiro grau". Neste os extraterrestres deixam de ser um perigo para as pessoas, apresentando-se como uma nave que é uma espécie de catedral erigida como um bem a ser conhecido, contra uma ameaça desconhecida. Em Kubrick, o monolito perseguido pelos astronautas parece ser o próprio Deus.
ALIEN
Não podemos esquecer que 1978 é o ano de "Alien, o oitavo ageiro", o monstro mais tremendo que o espaço já produziu. Ao lado do "Predador", seu arquiinimigo, duas feras malignas que vieram de estrelas distantes e continuam se perpetuando nos cinemas, continuação com estréia marcada para este ano. O alienígena, o extraterrestre, volta a ser um inimigo a vencer. Mas encontra em seu caminho paranóico a "suave" figura de "ET".
A MUDANÇA
O filme que contribuiu contra a percepção ameaçadora do alienígena foi "ET", do próprio Spielberg, em 1982. Um filme que deixa claro que o terror não vem sempre do espaço exterior. São adultos que querem dissecar "ET". O filme garantiu o sentimentalismo em relação ao alienígena. Tantos sentimentos se acumularam ao seu redor, e o tempo acabou pondo as coisas em seu devido lugar. Hoje, "ET" é uma unanimidade.
SIMPLES
A história que conta é simples, um alienígena se perde na terra abandonado pelos seus. É um ser diferente, por ser extraterrestre, e sente-se encurralado pelos seres humanos. É uma vítima que tem a sorte de encontrar um grupo de jovens meninos. A grande diferença em relação a outros filmes com extraterrestres está na mudança radical na forma de tratar o outro. Spielberg inclina-se para um dos meninos e para o extraterrestre, põe a câmera na altura de seus olhos e sente-se o terror que os dois sentem frente à perseguição dos adultos.
Também há uma possível ressurreição da estranha criatura e das bicicletas voando na fuga dos adultos. Ou lágrimas que podem escapar quando o simpático alienígena sente-se doente pela saudade de casa, com seus olhos de vaca e cara de peixe. E tudo isto tem a ver com outra magia, a de Spielberg. Que não parece disposto a continuar uma história tão completa.