Tecnologia e cirurgia plástica estão mudando a forma de entender a pessoa humana, não como um ser que nasce e se desenvolve, mas um ser criado segundo seus próprios ideais ? obtidos é claro, na mídia e na sociedade de consumo. Este é o diagnóstico da historiadora da arte e especialista em mídia-arte na Universidade de Barcelona, Claudia Giannetti, em entrevista ao jornal El Clarin, de Buenos Aires. 1r3d49
"A internet e a câmera do celular transformaram a forma de construir a realidade de cada um", afirma, "a ponto de mudar sua atitude: os atos em si se esvaziam de sentido e só se deseja ser gravado e exposto". Para Giannetti, o auto-erotismo é cada vez mais profundo: "Chama a atenção que a imagem que o espelho nos devolve seja distorcida pela própria percepção. Por isto, muitas mulheres não percebem que a protuberância de plástico colocada na boca não funciona".
A era da imagem
Com o século 21 e a era da imagem vem a perda do o à própria identidade, adverte Giannetti. Na opinião dela, a pessoa constrói sua identidade a partir da mídia ? toda a relação do espectador ? através de uma interface tecnológica em que a obra é sempre imediatizada.
Que olhar buscam as mulheres em sua corrida pelo ideal de beleza? Giannetti afirma que hoje se percebe mais a auto-afirmação e o autodesejo do que o olhar masculino: "Elas dizem ter cada vez menos relações sexuais e, por isso, esse elemento cirúrgico acrescentado ao corpo é um fator erótico que as supre. Sim, algo mudou em sua visão, interiorizaram o olhar masculino e não o social, se não o da mídia, e isto muda sua relação com o espelho. É um espelho imediatizado, filtrado pela mídia e pela tecnologia".
O sorriso da Gioconda
É famoso na Europa e também em Buenos Aires o caso da artista cinematográfica Orlan, que se submeteu a sucessivas operações plásticas em busca da boca da Gioconda e dos olhos de Nefertiti, rainha do antigo Egito. Ela perpetra, desse modo, segundo Giannetti, uma crítica brutal contra esta sociedade que baseia sua identidade na beleza física. "Seu rosto é um reflexo da arte, mas monstruoso em seu conjunto. Apóia-se nas teorias do feminismo e na história da arte, mas também recebe o aplauso da crítica, que interpreta seu auto-retrato como uma celebração dos avanços médicos culturais, enquanto geramos seres monstruosos, como Orlan".