Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Os chefões dos estúdios, profundos amantes de histórias épicas, não pretendem "deixar os créditos em mãos alheias". Já estão em suas mesas dezenas de projetos , como, por exemplo, "Monopoly", de Ridley Scott, e a continuação de "Wall Street". 6gg4t
"No entanto, a relação íntima entre o cinema e as crises financeiras nem sempre existiu. Em 1929 os estúdios americanos encararam a crise financeira sem nela tocar, uma vez que dependiam das instituições bancárias, não sendo de boa política incomodá-las", diz Tiago Figueiredo, crítico de cinema do Uol News. "E depois, em lugar do Bank of Boston ou Merry Linch, tinham suas próprias e fulgurantes estrelas."
O que mudou, então, para alterar desta forma o setor audiovisual americano, incluindo até os Simpsons? Ou séries como "Donas de casa desesperadas", na qual duas das personagens principais são o espelho da sociedade: uma deve arrumar outro emprego para pagar o colégio do filho, a outra é forçada, a vender sua pizzaria por falta de fregueses? A resposta é simples. O sistema financeiro americano faliu (em grande parte) e seus investimentos não são abundantes como outrora. Os chefões viram o filão em cima da tragédia americana e do próprio sistema financeiro. Isto levanta uma questão crucial, segundo Tiago Figueiredo, que recorda do livro de Collin Schindler, "Hollywood em crise: cinema e sociedade americana".
Uma de suas preocupações é que, fonte de inspiração ou não, a utilização da crise pelos argumentistas levanta vários pontos de interrogação: será esta a altura ideal para lembrar constantemente a atual conjuntura? Não será esta oportunidade, pelo escapismo, de atrair público e consequentemente encher seus cofres? Uma dúvida que somente os dólares entrando ou saindo podem resolver.
O primeiro projeto sobre a crise ainda não tem título, mas sim o elenco: Ben Affleck, Tommy Lee Jones e Kevin Costner. Está sendo vendido como "a primeira grande produção sobre a quebra do sistema financeiro". À frente do projeto está John Wells, produtor executivo de "Todos os homens do Presidente"
As lições da Grande Depressão
O cinema falado teve a Warner Brothers como pioneira. O som fez com que as audiências atingissem seu mais alto nível em 1930. Durante algum tempo, pensou-se que a indústria cinematográfica americana era imune à depressão. Mas tudo acabou em 1931. O número de ingressos vendidos caiu 30%. E os filmes falados eram mais caros. As salas de cinema começaram a fechar: em 1933, um terço fechou as portas. Mas, no ano seguinte, a indústria começou a se recuperar. Franklin Delano Roosevelt (sempre ele) permitiu o monopólio da indústria de entretenimento, ajudando os grandes estúdios de Hoolywood, que controlavam a produção, a distribuição e as salas que receberiam as películas em primeira exibição. Hoje os chefões sabem muito bem que Obama não é Roosevelt e existe todo um cenário permeado pela internet.
No começo da Grande Depressão, os filmes americanos chegaram a tentar refletir o caos da economia na sociedade. A partir de 1934, Roosevelt editou o Código da Produção, onde os filmes se alienaram da realidade, com censura à nudez, o desrespeito à religião, o uso de drogas ilegais, a utilização de palavras ofensivas. Entram em cena os fulgurantes musicais.
Os musicais ganharam destaque numa época em que o New Deal de Roosevelt e Hollyood coincidiram em seus interesses de despertar o ânimo da nação. O musical por si só já é uma fantasia, permite que o espectador saia de sua realidade. Este é o desafio dos chefões atuais: realidade ou alienação. Parece que eles já se decidiram pela primeira. O resultado do desafio somente será conhecido com os números de bilheteria. (Com pesquisas em Uol News e citações do livro "Hollywood em crise: cinema e sociedade americana")