Inquietações inquietantes 3y5w2y

Me indago um bocado. Raro o instante em que eu ? que nem filósofo sou ? não filosofe. Interrogações que começam sei lá quando … 1b1w26

15/12/2006 00:00

Me indago um bocado. Raro o instante em que eu - que nem filósofo sou - não filosofe. Interrogações que começam sei lá quando e acabam sei lá onde. Inquirições recorrentes, que povoam meu já tão questionado cérebro, sem nenhuma taxa de condomínio pro Fraga. l2k46

Por que acreditamos no que acreditamos? Por que bancamos os mineiros, a extrair obscuras certezas das nossas escuras profundezas? Por que o dubitável é um latifúndio e o indubitável um lote? Por que nos agarramos a rochedos de isopor? Pergunto-me.

Todo mundo quer ser importante, a maioria precisa ser importante, quase todos se importam com o importante. Mas, no fundo do fundo, qual a importância da importância?

Da significância à insignificância, ou versa-vice, é um o, às vezes uma peregrinação, nunca um eio. Significa que ninguém pára de significar ou de buscar significados. Mas a dúvida se impõe, significativamente: qual o significado do significado?

Atribuir valor, reconhecer valor, itir hierarquia de valores. Valorizar ou desvalorizar pessoas, objetos, bens, idéias - isso tudo vale alguma coisa? Qual o verdadeiro valor do valor?

Merecimento versus desmerecimento. O merecido quase inatingível e o imerecido tão ível. Fazer por merecer, tendo até que refazer. Se curvar ao meritório, incluindo o genuflexório. Delícias aos merecedores, desprazer aos não-merecedores, o demérito como fronteira. Qual o mérito do mérito?

Beneficiar-se primeiro; depois, bem depois, beneficiar aos outros. Ser sempre mais beneficiário que beneficente. Encher-se de mais e mais beneficiamentos. O benéfico como ponto de partida, meio de vida, meta de chegada, beneficências do hotel ao hospital, beneficiado até à morte. Qual o benefício do benefício?

Levar vantagem, negar vantagem, propor vantagem, discutir vantagem. Temer a desvantagem, nem que não seja tão desvantajosa. No gozo, a rima pobre do vantajoso. No medo, a sombra do avantajado. Qual a vantagem da antagem?

Por que semear o irrespondível, se a farta safra já nos enfarta?

Descendo por onde se sobe

O elevador - esse veículo que tanto mais constrange quanto mais comprime - há muito se tornou um ótimo espaço para a difusão de novos parâmetros da insociabilidade. Como se chega mais rápido ao último andar do que à alguma conclusão sobre o convívio compulsório temporário, melhor complicar de vez as viagens. Assim, quem sabe se consiga algo definitivo sobre o comportamento do animal implume nessas gaiolas de aço escovado. Aí vão alguns procedimentos para acelerar a descida da civilidade. Embarquem.

  • No térreo, em prédios comerciais, ao chegar diante dos elevadores, colabore para criar um amontoado de gente que atravanque a movimentação e confunda o o. Desligue o resto de educação que tenha e deixe a grosseria em stand-by.
  • Ao entrar, não espere que as pessoas que chegaram ao térreo saiam. Se intrometa na frente delas e, se possível, aos esbarrões, tente invadir o cubículo antes que elas consigam sair. Nem pense no que há de ilógico nessa atitude.
  • Antes da partida, ignore a possibilidade de gentilezas a bordo. Se estiver sozinho e surgir um ageiro, agilize o fechamento da porta. Com companhia, apresse-se a apertar logo o seu botão, dispute com fúria a a oportunidade de garantir a parada no seu andar. Enfie mãos e braços por entre as pessoas, com cutucões e desrespeito.
  • Lá dentro, inverta o mais que puder a ordem de desembarque: se for o último, posicione-se bem na porta, irremovível a cada parada.
  • Mantenha o máximo de indiscrição possível: encare as pessoas de alto a baixo, encoste-se nelas mesmo que o elevador não esteja lotado, carregue volumes da forma que mais atrapalhe os demais e, claro, não esqueça de utilizar o celular como não se usa o celular.
  • Em edifícios residenciais, com elevadores ainda não inteligentes, seja tão inteligente quanto eles: chame o social e o de serviço ao mesmo tempo. Se notar que o chão do elevador está limpo, modifique essa situação com o que tiver à mão - papel de bala, chicletes usados, tocos de cigarro etc.
  • Se você é engenheiro, construa cabines cada vez mais modernas: compactas por fora e mais compactas ainda por dentro. Equacione a lotação por peso máximo e não pelo máximo de pessoas. Desse modo, meta 8 pessoas onde, moralmente, só caibam 4, e assim por diante, valorizando cada cm2 do piso e desvalorizando cada abdômen ou costas.
  • Caso seja designer, estilize bastante o de controle. Para quê tornar bem visível os botões de abrir e fechar as portas se você pode encher os usuários de dúvidas e com isso induzir a enganos e causar acidentes? Se for um tecnocrata, não imponha um padrão: deixe que os fabricantes ponham o abrir ora à esquerda, ora à direita.

    Etc.