Amigos e chefes (2005) 2b2y4q

O artigo a seguir foi publicado originalmente em 2 de março de 2004, por ocasião do escândalo Waldomiro Diniz. Não foi preciso alterar uma … 5d2253

02/08/2005 00:00

O artigo a seguir foi publicado originalmente em 2 de março de 2004, por ocasião do escândalo Waldomiro Diniz. Não foi preciso alterar uma vírgula sequer. 315230

Indicar amigos para cargos é natural e, a menos que a função exija concurso, não configura contravenção. Trata-se de saber escolher os amigos. Apenas crédulos empedernidos tendem a aceitar a inocência de comandantes cujos subordinados de longa data dedicam-se a estripulias pecuniárias sob sua barba. Casos do gênero remetem a duas hipóteses: ou o chefe era conivente com a bandalheira ou estava alerta como um coroinha na missa das seis.

Integrar o primeiro escalão exige qualidades que vão além da honestidade. A lista de predicados inclui perícia ao manusear a caneta na folha de nomeações. Melhor ainda é adotar ao longo da vida certos critérios na hora de definir quem está autorizado a se apresentar à mesa no almoço de domingo. Amigo é coisa para se guardar, por isso precisa ter qualidade. Homens públicos vêem-se às voltas com miríades de supostos irmãos de alma. A credencial dá o a gabinetes e concede ao portador salários generosos.

Cabe ao candidato a padrinho rejeitar aliados de ocasião cuja folha corrida não seja absolutamente limpa. Melhor subtrair a alguém o selo de garantia que ter de negá-lo três vezes antes de o sol se pôr. Flagrados em pleno exercício da tunga, velhos parceiros dispensam a necessidade de inimigos. Tornam-se emblema, ainda que o protetor nada tenha a ver com o delito.

A cena política receita fórmulas para a vida civil. Amigos são raros. A popularidade costuma cair no ritmo do saldo bancário. Poucos permanecem quando os abutres iniciam a vigília. Aprender essa lição nos poupa de dissabores. E talvez nos salve o emprego um dia.