Viajando na maionese

Está cada vez mais difícil fazer algo verdadeiramente novo neste mundo. Será? Tudo que já podia ser criado efetivamente o foi? Tudo o que …

Está cada vez mais difícil fazer algo verdadeiramente novo neste mundo. Será? Tudo que já podia ser criado efetivamente o foi? Tudo o que havia para ser descoberto o foi? Com certeza, não. Hoje, vemos cada vez mais rapidamente as descobertas e criações que ocorrem do outro lado do mundo. Então, temos a sensação de que há pouco espaço para coisas verdadeiramente novas. Mas isso não é verdade.


Exemplifico. Estava eu ouvindo o programa Cafezinho, da rádio Pop Rock, quando surgiu o debate: guitarristas históricos, como Eric Clapton e Jimmy Page, já estariam superados. Os guitarristas que os sucederam na verdade aprimoraram as criações destes primeiros e os estariam superando. Porém, como ressaltou Arthur de Faria, o mais difícil foi feito lá atrás: criar, ter uma sacada. Isto é o mais difícil e o mais importante: criar algo verdadeiramente novo, diferente.


De fato, quanto mais se cria, mais espaço se ocupa. Ou seja, coisas que antes não haviam sido criadas o são e deixam de ser novidade. Para mim, um dos grandes inventos da humanidade e que ainda não foi superado (não sei se um dia será) é o botão de camisas e calças. Outro, o clips de papel. O prendedor de roupas. Às vezes, acontece o invento definitivo. Me parece ser este o caso do botão, do clips. A sacada definitiva. Mas, na grande parte dos casos, as criações não são definitivas. Podem, pelo contrário, servir de combustível para que outros criem em cima delas.


Se os espaços para a inovação estão teoricamente ficando mais exíguos, é tempo de usarmos outras áreas do cérebro (dizem que usamos somente um pequeno percentual de nosso cérebro). Vamos ter que literalmente colocar a cabeça para funcionar. Mas não pensando que o que foi criado antes ocupou espaços, mas tentando utilizar o que foi criado como uma espécie de alicerce para novas sacadas.


Na música, isto acontece muito. Lembro que quando os primeiros sintetizadores (ou teclados) foram criados, só se ouvia o som destes nas músicas. Com o tempo e com a evolução dos teclados, estes aram a contribuir de forma mais sutil nas composições. Não é mais uma música "de teclado" em que o restante (voz, outros instrumentos) são acompanhamentos. Agora, a tendência (e é claro que isto só se aplica a quem realmente tem criatividade) é que os teclados contribuam de forma muito mais sutil na música. É preciso cada vez mais "viajar na maionese" (expressão que certamente foi uma grande sacada, pois pegou), mas de forma literalmente cerebral. Época de aeróbica para nossa massa cinzenta.  

Comments