Verdades e mentiras

Por José Antonio Vieira da Cunha

No ambiente do Jornalismo que se pratica hoje no país, duas iniciativas merecem apoio ir e confiança absoluta, o Projeto Comprova e o pool formado por veículos de imprensa. São dois projetos de identificação da veracidade de informações que circulam feito combustão imediata e que, pela pulverização desenfreada, provocam distorções de toda ordem.

O Projeto Comprova é uma ação desenvolvida de forma colaborativa e sem fins lucrativos por jornalistas de diferentes veículos de comunicação, criado com o objetivo de investigar informações suspeitas especialmente em relação ao poder público, às eleições e à pandemia do Covid-19. O Comprova merece confiança e aplausos por atuar de forma independente, com orientação editorial ditada e seguida de forma coletiva por seus integrantes, em geral jornalistas que, assim como o projeto, não têm filiação partidária.

E foi exatamente a tentativa de manipulação de dados pelo governo para tentar suavizar a gravidade da disseminação da pandemia que acabou levando à criação de outro projeto relevante, o Fato ou Fake. Foi uma resposta imediata do melhor Jornalismo para, de forma independente em relação às versões oficiais, levantar as informações corretas sobre o desenvolvimento do Covid entre nós. Neste período, mais de 3 mil informações, sobre saúde, economia e política, em áudios, vídeos, fotos e mensagens com teorias da conspiração e conteúdos mentirosos foram verificadas pela equipe do projeto, formada por profissionais de O Globo, Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews, TV Globo e portal G1. 

O mais recente episódio é o vídeo que comprovaria que o presidente da República teria descoberto e revelado fraude nas eleições de 2014 e 2018. O fraudador que o apresenta reproduz outra fraude, a gravação em que Bolsonaro afirma ter provas, aquelas que nunca apresentou, de que teria vencido ainda no 1º turno em 2018. O apresentador-autor do vídeo é tão cretino que envolve as Forças Armadas com a informação de que teriam atestado a veracidade de uma versão relatada por Bolsonaro. Tudo mentira, viu-se logo, mas o estrago buscado pelo autor do vídeo foi plenamente atingido. Viralizou.

O Comprova e o pool de veículos são iniciativas iráveis ao envolver empresas e profissionais em um esforço comum para tentar minimizar os efeitos danosos de mentiras, distorções e manipulações provocados por conteúdos enganosos. Que, sigamos atentos, vão inundar nossas caixas de mensagem nos próximos cem dias. 

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E aí? Já assinou a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!? Não interessa a quantidade de pessoas que vão subscrever o documento, se 400 mil, 500 mil ou um milhão. Seu poder é substantivo, ao chamar a atenção para as ameaças à democracia e às instituições da República e ao obstinado e lamentável esforço do atual presidente da República que, de forma irresponsável e condenável, insiste na teoria mentirosa que tenta desacreditar o processo eleitoral brasileiro. 

- Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional. (...) Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. (...) No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao ado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira a necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. 

Não precisa dizer mais nada, estes trechos bastam. E não pode faltar sua como demonstração, não de simpatia a um ou outro partido ou candidato, mas de vivo apoio à ordem democrática, que envolve o mútuo respeito entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A carta está aqui.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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