"Tenho medo das grandes palavras - 523p20
disse Stephen - elas nos fazem tão infelizes? James Joyce.
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Existem livros que pedem uma segunda leitura ou mesmo uma terceira leitura mais dedicada e mais atenta. São livros únicos, que permanecem próximos a nós por muito tempo. Alguns, até se transformam em leituras indispensáveis. Para muitos, é a Bíblia, para outros, as peças clássicas de William Shakespeare. Nos tempos de hoje, alguns escritores foram igualmente capazes de seduzir nosso imaginário de maneira irresistível.
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Eles são obcecados por labirintos e enigmas, desfilando estórias diferentes entre si, mas que entrelaçadas em adivinhações e desvios. Como a intrigante narrativa que começa na Buenos Aires de Jorge Luis Borges em 'O Aleph', tem continuidade no mosteiro alpino de Umberto Eco em 'O Nome da Rosa' e termina na Dublin de James Joyce em 'Ulysses'. No labirinto sem minotauro de 'Ulysses', o personagem-de-um-dia, Leopoldo Bloom percorre uma jornada pela cidade-obsessão de Joyce. Um crítico literário escreveu que se um cataclisma um dia varrer a capital da Irlanda da face da terra, será possível reconstruí-la, usando "Ulysses" como livro de instruções.
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James Joyce nasceu há exatos 140 anos e sua prosa ainda continua poderosa - e talvez mais inescrutável do que nunca. Para seus estudiosos, Joyce foi o escritor dos escritores, já que sua marca pode ser encontrada em autores da estatura de Virgínia Woolf ou Samuel Beckett. Como em 'Mrs. Dolloway', talvez o mais joyceano dos romances de Virgínia Woolf:
"É cedo demais para a beleza do mundo perecer, mas ela tem dois extremos, um de alegria, outro de angústia,
rachando o nosso coração (...).
Cada um de nós tem o ado fechado em si,
tal como um livro que só o coração conhece,
um livro do qual os amigos só podem ler o título".
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Amigo de James Joyce e irlandês tão profundo como ele, Samuel Beckett nos deu algumas das obras mais significativas do século XX. Sua peça 'Esperando Godot' anuncia a vinda de um personagem tão misterioso como o Stephen Dedalus joyceano. Ao reconhecer que a vida era feita de lacunas, escreveu:
?Gosto de mentiras e lendas, pois quanto mais elas existem, mais interessante nos tornamos (...). Na minha vida, se podemos chamar assim, existem três coisas que fiz de melhor: a incapacidade de falar, a dificuldade em ficar quieto e a solidão.
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