Você está no caminho certo. Não pare. Siga reto. Se um conhecido lhe chamar, apresse o ritmo. Faça de conta que seu nome, mesmo que não seja João ou Maria, é popular e aquele chato insistente pode estar berrando por qualquer um. o cadente, olhar desviado, calculadora anticonsumo na mão, última folha de cheque e cartão de crédito no limite. Munido destes mantras e dos equipamentos que repelem o consumo, você estará pronto para enfrentar as primeiras liquidações de 2009 e evitar, desnecessariamente, um rombo fiscal no seu orçamento doméstico familiar do ano que se iniciou.

Se o seu perfil consumista é mais controlado, não é preciso tanta proteção. Caso contrário, meu leitor, todo cuidado é pouco. Feche sua carteira para as liquidações, que também são apelidadas de saldos de verão, queima dos estoques, ofertas de derreter (criativo!!!) ou descontos especiais, quando a loja é para um cliente mais selecionado, compreende? Porque assim que o calendário, orgulhoso, exibe o mês de janeiro, o comércio percebe que é "momento ideal para desovar as prateleiras". Porque as vendas de Natal foram ruins. Quem sabe foram boas. Ou para aproveitar o restinho do seu salário infeliz.

Não faltam motivos, tentações e conselhos de autoridades em todo o tipo de assunto. Despreze a sua vizinha que subiu no elevador sem poder abrir a porta direito de tanta sacola que equilibrava nas mãos. E finja que nem conhece a loja. Desligue o rádio quando tocar o spot do grande magazine que só amanhã estará com os preços tão baixos. E depois de amanhã. E sexta-feira. E só no fim de semana. Vai perder? Tenha certeza que não é antipatriótico ignorar o apelo do presidente Lula para que o brasileiro continue comprando e gastando. Mesmo com a crise econômica mundial que se prenunciou.

Tanta preocupação para que ninguém se afunde no mar de ofertas das prateleiras das lojas, perca-se entre as gôndolas dos supermercados ou fique totalmente seduzido pelos balaios de preços baixos, é reflexo da minha própria experiência em anos anteriores. Embalado pelo eco do espírito natalino, vontade de começar o ano com tudo novo ou até mesmo fascinado pelo preço cativante daquela TV de plasma que fica tão bem "deslocada" na sala pequena do seu apartamento, é provável que seu corpitcho e mente consumistas não obedeçam ao comando do seu bolso.

Nesta etapa, a um o do seu endividamento supérfluo, você pode ler no canhoto do cheque o gasto feito para o pagamento do IPVA. E, num ato contínuo, lembrar que não sobrou nada do 13º para antecipar o IPTU, imposto que parcelado já começa a ser pago em março. Falando no mês, associá-lo ao período em que o ano realmente dá a largada com o reinício das aulas e a busca dos documentos para o acerto com o Imposto de Renda. Nunca esquecendo que, via de regra, o gasto com material escolar na livraria indicada pelo colégio é até superior à quitação do IPVA ou IPTU.

Depois de tudo, ainda está indeciso sobre o seu papel nas liquidações de verão? Então, aproveite que ninguém paga as suas contas e incorpore o tipo consumista. Mas, pelo menos, seja mais exigente na sua compra, ou pesquise bem o preço, ou imagine se usará aquela roupa nada a ver alguma vez na sua vida. E se cruzar com alguém parecido comigo nos shoppings, jure que não viu e não conte para os amigos íntimos. A minha vacina antiliquidação não tem os anticorpos contra DVDs, CDs, livros e perfumes.